Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
Fonte: http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 66
Personagens deste capítulo:
VÍTOR
HELÔ
DR. LEIVAS
EMILIANO
RENATÃO
RODOLFO AUGUSTO
D. MARIETA
KONSTANTÓPULUS
MARIA REGINA
CENA 1 -
PENSÃO PRIMAVERA - FRENTE
- EXT. - DIA.
Continuação Imediata
da Última Cena do Capítulo Anterior.
HELÔ PAROU O CARRO EM FRENTE À PENSÃO. EM SEGUIDA, VÍTOR APROXIMOU-SE,
COM UMA MOCHILA NAS COSTAS. HELÔ SALTOU, CORREU AO SEU ENCONTRO E ABRAÇOU-O,
EMOCIONADA.
HELÔ - Meu
amor eu lembrei! Eu lembrei!
VÍTOR -
Lembrou o que? Não vá me dizer que...
HELÔ -
(cortou) Eu lembrei do momento que dei a Nívea o medalhão! Foi muito
antes de ela ser assassinada! Isso quer dizer que... que não fui eu! Eu não a
matei! Não sou uma assassina! Eu não matei Nívea!
VÍTOR E HELÔ BEIJARAM-SE, LONGAMENTE, SEM SE IMPORTAR COM OS OLHARES DE
CURIOSOS QUE PASSAVAM NA RUA, NAQUELE MOMENTO.
VÍTOR - Meu
amor, eu nunca duvidei disso. Sempre soube que você era inocente. Nós só
precisávamos arrumar um jeito de provar isso.
HELÔ - Eu
tou tão aliviada, você nem imagina... sinto como se tivesse tirado um peso
enorme das costas!
VÍTOR
- Eu também estou muito feliz por
você. Na verdade, por nós.
HELÔ -
Vamos pra Teresópolis?
ABRAÇADOS, CAMINHARAM ATÉ O CARRO. HELÔ ENTREGOU-LHE AS CHAVES, ENTRARAM
NO AUTOMÓVEL E PARTIRAM.
CORTA PARA:
CENA 2
- APARTAMENTO DE EMILIANO -
SALA - INT.
- DIA.
NO DIA SEGUINTE, MARIETA SERVIU O ALMOÇO, EM SILÊNCIO. EMILIANO
OBSERVOU-A, SENTADO À MESA, E PARECIA
LER SEUS PENSAMENTOS.
EMILIANO - Mais
cedo ou mais tarde você vai saber, então acho melhor contar logo.
MARIETA - Do
que você está falando?
EMILIANO - O
Doutor Oliveira me fez confidencias, ontem, no banco. Ele me disse que Vítor e
Helô fizeram as pazes e viajaram juntos.
MARIETA NÃO SE CONTEVE. BATEU A MÃO NA MESA, INDIGNADA.
MARIETA - Eu
sabia! Não há a menor dúvida de que eles estão juntos! Você é um ingênuo,
Emiliano... Eu vi nos olhos dele, ontem, quando ele disse que ia a São Paulo,
que estava mentindo. Quando lhe perguntei se ia sozinho, ele não teve coragem
de me olhar.
EMILIANO - E
para quê ele precisava mentir sobre isso? Afinal, ela é mulher dele. Se eles
também fizeram as pazes, ninguém tem nada com isso (levantou-se) Eu acho,
Marieta, que você se preocupa demais com Vítor.
MARIETA - Não
é com ele que eu estou preocupada. É com ela. Logo, vai aprontar de novo, você
vai ver!
CORTA PARA:
CENA 2 -
TERESÓPOLIS - ARREDORES DO SÍTIO -
EXT. - DIA.
VÍTOR E HELÔ GALOPAVAM NAS CERCANIAS DO SÍTIO DE OLIVEIRA RAMOS. ALGUM
TEMPO DEPOIS, SALTARAM DOS CAVALOS E DEITARAM-SE NA RELVA, AOS PÉS DE UMA
ENORME ÁRVORE.
HELÔ -
(apoiando a cabeça nos ombros do marido) Adoro esta árvore. É linda, não
acha?
VÍTOR - É.
Este lugar é muito bonito.
HELÔ -
Vítor... você vai voltar comigo para a nossa casa, não vai?
VÍTOR -
(brincou) Isso é um pedido ou uma intimação?
HELÔ -
Nenhum dos dois. Quero que vá só se for a sua vontade.
VÍTOR -
(abraçou-a) Eu vou. Vou voltar pra nossa casa porque quero voltar a
viver com minha mulher.
FITARAM-SE, COM AMOR E BEIJARAM-SE MAIS UMA VEZ.
HELÔ - Eu
te amo.
VÍTOR -
Também te amo, meu amor (franziu a testa, pensativo) Helô... estou
preocupado com a sua situação. Precisamos esclarecer essa dúvida, sobre a morte
de Nívea. Estive pensando... se você concordar, podemos convidar o Dr. Leivas
para vir aqui.
HELÔ -
(ergueu-se, surpresa) Aqui?!
VÍTOR - Isso
mesmo. Sei que você não vai entender imediatamente, mas procure ouvir com
atenção e concordará comigo. Foi muito importante o que aconteceu ontem. Agora
eu começo a ter certeza que você é inocente. Mas o simples fato de lembrar-se,
como lembrou, do momento em que deu a Nívea o medalhão, não é o bastante. Nem
mesmo para nós. É preciso que você se lembre de tudo! Tudo o que fez naquela
noite!
HELÔ - Mas
o que é que você pensa? Que isso depende de mim? Se dependesse, eu já tinha
lembrado! Ninguém mais interessada do que eu.
VÍTOR -
(insistiu) Posso convidar o Dr. Leivas para vir a Teresópolis?
HELÔ - Tá
bem. Faça o convite.
VÍTOR -
Ótimo. Hoje mesmo vou ligar pra ele.
CORTA PARA:
CENA 3
- APARTAMENTO DE RODOLFO
AUGUSTO - ATELIÊ
- INT. - DIA.
RODOLFO AUGUSTO ESTAVA ATAREFADO DESENHANDO ALGUNS CROQUIS, QUANDO MARIA
REGINA ENTROU NO ATELIÊ, EXIBINDO UMA REVISTA.
MARIA REGINA -
Gugu, olha que bacana: a nossa foto está na capa da “Mulher de Hoje”!
RODOLFO AUGUSTO -
(arrancou-lhe a revista das mãos) Deixa ver! “Rodolfo Augusto e Maria
Regina – o casamento do ano”.
MARIA REGINA -
Conseguimos, Gugu! Conseguimos! Agora somos famosos, capa de revista!
RODOLFO AUGUSTO - (com desdém) Eu já era famoso, há muitos anos. O que eu queria era voltar à mídia.
Só lembram de mim na época do carnaval, por causa das fantasias... Você conseguiu muito
mais do que eu. Em poucos meses, tornou-se uma top model conhecida no Brasil
inteiro! E isso, graças a quem?
MARIA REGINA -
(beijou-o no rosto) Graças a você, meu Xuxuzinho! Nosso casamento vai
ser o máximo! Aí sim,vai ser a glória total!
RODOLFO AUGUSTO -
(desconfiado) Não sei, não... Agora que está se aproximando o dia, tá me
dando um frio na barriga.... um medo!...
MARIA REGINA - O
que é isso, Gugu? Já combinamos tudo: vai ser um casamento de mentirinha, não
de fato. Até porque você não é chegado...
RODOLFO AUGUSTO -
Mentirinha nada! Vamos casar na frente do juiz, assinar os papéis e tudo
o mais!
MARIA REGINA - Sim,
claro. Mas nem vamos dormir juntos, por isso não precisa ficar nervoso!
RODOLFO AUGUSTO -
(preocupado) Você não acha que levamos essa história longe demais? Ai,
meu Deus, só de pensar...
MARIA REGINA - Olha
aqui, Gugu, nem pense em desistir agora, pelo amor de Deus! Esqueceu o que nós
combinamos? Depois de um tempo, a gente separa... e a amizade continua! (T)
Cadê o meu vestido de noiva?
RODOLFO AUGUSTO -
(apontou para uma bancada) Ali. Falta só uns arremates...
MARIA REGINA PEGOU E VESTIDO, COLOU AO CORPO E CIRCULOU PELA SALA,
DESLUMBRADA.
MARIA REGINA - Está
maravilhoso! O casamento do ano! Vamos brilhar mais uma vez! (e delirando) A sociedade
carioca, as colunas sociais, a internet... todos vão se curvar diante de nós!
CORTA PARA:
CENA 4
- TERESÓPOLIS - CASA
DO SÍTIO - SALA
- INT. - DIA.
DR. LEIVAS - Como
vai, Vítor? Como tem passado, Helô?
VÍTOR -
Obrigado por ter vindo, Dr. Leivas. Por favor, fique à vontade.
O MÉDICO SENTOU-SE AO LADO DE HELÔ.
DR. LEIVAS -
Helô, eu e Vítor conversamos muito a seu respeito. Falamos na
possibilidade de hipnotizar você. Já foi hipnotizada alguma vez?
HELÔ -
Já... A meu pedido, Dr. Oto, o meu analista, fez uma experiencia. Mas
ele é analista. Condena o hipnotismo.
DR. LEIVAS - Eu
também tenho as minhas objeções. Há casos em que se pode
obter bons resultados. Em outros,
é até prejudicial. E ainda há outros em que o hipnotismo não tem nenhum valor.
VÍTOR - Em
casos de amnésia, tenho lido...
DR. LEIVAS - Sim,
Vítor, há casos de amnésia em que o doente foi curado pelo hipnotismo. Há
outros casos em que os resultados foram negativos. No caso dela, esse nunca me
pareceu um método adequado.
VÍTOR - Por
quê?
DR. LEIVAS -
Porque a amnésia, neste caso, é uma espécie de defesa. O inconsciente
não quer lembrar o que aconteceu naquela noite.
VÍTOR -
(ansioso) Mas em estado hipnótico ela não se lembrará?
DR, LEIVAS - Pode
mentir.
VÍTOR -
Isso, caso ela tivesse realmente culpa. Mas como eu estou certo que não,
acho que ela vai dizer a verdade. Isto é, vai relembrar tudo, exatamente como
aconteceu.
O MÉDICO PENSOU UM INSTANTE, COMO SE ESTIVESSE PESANDO AS
POSSIBILIDADES.
DR. LEIVAS -
Também é possível. De qualquer maneira, pode-se fazer uma experiencia.
VÍTOR OLHOU PARA A ESPOSA.
VÍTOR - Você
está de acordo?
HELÔ -
Estou. Antes, eu não estava. Tinha medo. Agora, não.
VÍTOR - Medo
de quê? Você fez tanta análise, é quase a mesma coisa.
HELÔ - Não,
não é. Na análise a gente está consciente e pode controlar, inclusive, as
recordações. Nunca tive coragem de me deixar hipnotizar de uns tempos para cá
porque... eu tinha medo da verdade.
VÍTOR -
(falou, com segurança) Mas você não tem mais. Você quer se convencer de
uma vez por todas que é inocente, dissipar as dúvidas que possam existir no seu
espírito.
HELÔ - Isso
mesmo.
DR. LEIVAS -
Então, vamos tentar (indicou uma poltrona) Sente-se aqui.
HELÔ SENTOU-SE, CONFORTAVELMENTE, E O MÉDICO INICIOU O TRABALHO.
DR. LEIVAS - Você
vai dormir... Quando eu contar cinco, você estará dormindo tranquilamente...
Você já está sentindo as pálpebras pesadas... O sono está vindo... Um...
dois... tres... quatro... cinco...
HELÔ PENDEU A CABEÇA PARA O LADO. ADORMECEU.
DR. LEIVAS -
(continuou) Você está dormindo, dormindo profundamente, Helô... você
está me ouvindo?
HELÔ
- Estou...
DR. LEIVAS -
Então você vai responder a umas perguntas que vou lhe fazer. Quero que
diga a verdade, nada de mentiras. A verdade. Você se lembra da noite em que
Nívea foi assassinada?
HELÔ -
Lembro...
O MÉDICO OLHOU PARA VÍTOR, SATISFEITO.
DR. LEIVAS -
Você vai me descrever todos os seus passos naquela noite. Até voltar
para casa. Quero simplesmente que me diga a verdade. Só a verdade, entendeu?
HELÔ APRUMOU A CABEÇA, MAS COM OS OLHOS SEMPRE FECHADOS.
.
HELÔ - Sim,
eu direi toda a verdade.
CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA
DE IPANEMA - EXT.
- DIA.
AO LADO DE DOIS AMIGOS DE PRAIA, RENATÃO, TRAJANDO APENAS BERMUDA DE
TACTEL E ÓCULOS DE SOL, OBSERVAVA COM ATENÇÃO UMA BELA MORENA DE CORPO
ESCULTURAL QUE, REBOLANDO SENSUALMENTE, ENCAMINHAVA-SE PARA O MAR, MERGULHANDO
GRACIOSAMENTE.
RENATÃO -
Vocês tão vendo, não é? Tou aqui, quieto, curtindo esse sol maravilhoso,
e vem essa aparição me tentar! Assim não dá! Assim eu fico louco...
KONSTANTÓPULUS -
Patrão!
O PLAYBOY VOLTOU-SE, SURPRESO COM A CHEGADA REPENTINA DO MORDOMO, QUE,
VESTIDO A CARÁTER, CHAMAVA A ATENÇÃO DOS BANHISTAS AO CAMINHAR COM CERTA DIFICULDADE
SOBRE A AREIA FOFA DA PRAIA.
RENATÃO -
Konstan! O almoço tá pronto? Por quê não tocou a trombeta?
KONSTANTÓPULUS - (a
expressão séria) Não é isso, patrão. Achei melhor vir pessoalmente. Sua tia
Coló acabou de ligar de Niterói.
RENATÃO -
(encarou-o, preocupado) Minha filha! Aconteceu alguma coisa com ela?
KONSTANTÓPULUS - Ela
está doente, com febre alta. Sua tia me parecia bastante preocupada.
INCONTINENTI, RENATÃO RECOLHEU SEUS PERTENCES E ACENOU PARA OS
COMPANHEIROS.
RENATÃO -
Tchau, pessoal! Tenho que ir pra Nitéroi agora mesmo!
EM SEGUIDA, ENCAMINHOU-SE, A PASSOS LARGOS, PARA O CALÇADÃO, SEGUIDO
PELO MORDOMO.
CORTA PARA:
CENA 6
- TERESÓPOLIS - CASA
DO SÍTIO - SALA
- INT. - DIA.
DR. LEIVAS -
(tornou a perguntar) Você quer nos dizer essa verdade? Você está certa
de que deseja mesmo, nos dizer tudo o
que aconteceu naquela noite? Então comece.
HELÔ ESTAVA SOB SONO HIPNÓTICO. VÍTOR TINHA OS OLHOS FIXOS NELA.
DR. LEIVAS - Veja
se recorda, sem omitir nenhum detalhe. Eu quero saber tudo o que você fez
naquela noite.
HELÔ - Eu
estava muito angustiada. Não havia uma razão. Era aquela angústia que eu sentia
de vez em quando. Medo de ficar só... medo das pessoas... medo de viver.
DR. LEIVAS - Mas
o que foi que você fez?
HELÔ -
Telefonei para Nívea. Pedi pra ela ir lá em casa. Percebi que ela estava
com Vítor. Ela disse que não podia. Eu então ameacei fazer uma besteira. Mas
era só pra impressionar. Tinha feito isso algumas vezes antes e dera
resultado. Nívea prometeu que mais tarde iria me ver. Por isso, fiquei
esperando. Acho que às nove horas, mais ou menos, Miss July me chamou para
jantar. Mas eu não quis. Não tinha apetite. Então, esperei Nívea até às onze
horas e resolvi sair. Sem destino. Rodei por vários lugares.
Quando passei em
frente ao prédio
onde mora Renatão, vi Nívea saindo de lá. Estacionei o carro e fui ao encontro
dela. Entramos no Castelinho.
DR. LEIVAS -
Quanto tempo ficaram lá?
HELÔ - Acho
que meia hora, mais ou menos.
DR. LEIVAS - Até
meia-noite?...
HELÔ - Ou
um pouco mais... Não olhei a hora.
VÍTOR - (ao
Dr. Leivas) Pergunte onde elas foram, depois que saíram do Castelinho.
DR. LEIVAS - Quer
dizer que você saiu do Castelinho entre meia-noite e meia-noite e meia. Nívea
saiu com você?
HELÔ HESITOU UM POUCO.
HELÔ - Sim,
ela saiu comigo. Nós andamos até o meu carro, que estava estacionado perto, no
lado da praia. Ficamos lá, paradas, um tempo, conversando.
DR. LEIVAS - Quanto tempo? Muito tempo?
HELÔ - Não
sei. Quinze... vinte minutos...
DR. LEIVAS - No
local em que Nívea caiu? Foi ali que vocês ficaram?
HELÔ PAROU DE FALAR. VÍTOR E O DR. LEIVAS OLHARAM-SE,
SIGNIFICATIVAMENTE. VÍTOR PARECIA OUVIR O SOM DAS BATIDAS DESCOMPASSADAS DO
PRÓPRIO CORAÇÃO.
FIM DO CAPÍTULO 66
e no próximo capítulo...
*** Danusa percebe a insegurança de Rodolfo Augusto com a proximidade do casamento com Maria Regina.
*** Mario Maluco, cheio de esperanças ao saber que Babi e Renatão não estão mais juntos, convida-a para sair!
*** O advogado Celso Barroso está empenhado em conseguir a prisão de Helô!
MOMENTOS DECISIVOS!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 67 DE