domingo, 21 de dezembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 100


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 100

Participam deste capítulo

Ester  -  Gloria Menezes
Cyro  -  Tarcísio Meira
Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Cesário  -   Carlos Eduardo Dolabella
Delegado  -  Vinicius Salvatori
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Rosa  -  Ana Ariel
Válter / Coice de Mula  -  Dary Reis


CENA 1  -  CASA DE ESTER  -  EXTERIOR  -  NOITE

O DELEGADO MOREIRA ORIENTAVA OS SOLDADOS DO DESTACAMENTO.

DELEGADO  -  Rodeiem a casa! Cerquem tudo! Tenham cuidado! 
(em seguida, entrou na casa, olhos atentos) Doutora Ester!

ESTER  -  Que susto! Que foi isso, delegado?

DELEGADO  -  Desculpe incomodá-la a esta hora...

ESTER  -  O que houve? Estava me preparando para dormir!

DELEGADO  -  Onde está ele?

ESTER  -  Ele quem?

CESÁRIO  -  Ora, ela sabe bem do que o senhor está falando!

DELEGADO  -  Ele me procurou... disse que o Dr. Cyro estava aqui, com a senhora!

ESTER  -  Dr. Cyro?! Cesário está sonhando ou está bêbado! Dr. Cyro não apareceu por aqui. Ele não se atreveria a vir à minha casa, delegado!

CESÁRIO  -  (gritou) Ela tá mentindo! Eu vi! Vi com esses olhos que a terra há de comer!

ESTER CAMINHOU TRANQUILAMENTE POR SOBRE O GROSSO TAPETE DE LÃ E BEBEU UM GOLE DE UÍSQUE.

ESTER  -  Parece que o Senhor Cesário anda tendo visões estranhas, ultimamente. Ontem, estava bêbado e entrou aqui da mesma forma dizendo que eu estava escondendo Júlia.

DELEGADO  -  (encarou o homem com ar de poucos amigos) Que que há, seu Cesário?Dona Júlia não está morta?

ESTER  -  Estou mentindo, Cesário?

CESÁRIO  -  Bem... ontem... de fato... eu bebi demais e parece que andei tendo visão... mas hoje... hoje tô bem normal! Não botei uma gota de álcool na boca!

ESTER  -  Muito bem... se o senhor acredita mais nele do que em mim... pode verificar. Entre pra tirar a cisma, delegado.

DELEGADO  -  A senhora me desculpe, promotora, mas... pode ser que ele esteja escondido... sem que a senhora saiba.

CESÁRIO  -  Ela sabe!

DELEGADO  -  (fora de si) Cale a boca!

A UM SINAL, OS SOLDADOS INVADIRAM A CASA.

ESTER  -  Não me acordem Takau, por favor.

ESTER ACOMPANHOU O DELEGADO NA BUSCA PELO INTERIOR DA RESIDENCIA. ABRIU MEIA BANDA DA PORTA DO QUARTO; O DELEGADO OLHOU DISCRETAMENTE. TAKAU RESSONAVA À MEIA-LUZ AMBIENTE. CYRO COLOU-SE CONTRA A PAREDE, POR DETRÁS DA PORTA QUE LOGO FOI FECHADA PELO POLICIAL. UMA VEZ TERMINADA A BUSCA, RETORNARAM À SALA.

ESTER  -  (em tom irônico) Está satisfeito, agora? Verificou que não menti?

DELEGADO  -  (meio encabulado) Desculpe mais uma vez!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DE ESTER  -  QUARTO  -  INTERIOR  -  NOITE

ESTER APAGOU AS LUZES DA SALA E SE ENCAMINHOU PARA O QUARTO. TUDO ACONTECEU REPENTINAMENTE. O HOMEM AGARROU-A E COLOU A MÃO CONTRA SEUS LÁBIOS. ELA PERCEBEU NUM RELANCE DE QUEM SE TRATAVA E DEIXOU-SE BEIJAR ARDENTEMENTE POR AQUELES LÁBIOS QUE A DEVORAVAM. O MUNDO QUE SE DANASSE... PENSOU ESTER, ENQUANTO SE ENTREGAVA À FORÇA AMOROSA DE CYRO VALDEZ.

CORTA PARA:


CENA 3  -  PORTO AZUL  -  CASA DE BABY E INÊS  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

BABY LIBERATO TINHA CIÚMES DA ESPOSA.

BABY  -  Não quero que saia de casa. E outra coisa: se sair, mude de roupa, não ande por aí assim, nessa indecência.

INÊS  -  (sorriu, sentando-se no colo do marido) Desde quando você virou moralista de roupa?

BABY  -  Não interessa, tá? Não quero que se exiba!

INÊS  -  Nunca ligou pra isso. Agora mudou, é?

BABY  -  Bom, não diga mais nada. Acho que você já entendeu que eu não quero que a mãe do meu filho apareça como qualquer garotinha de 15 anos, livrezinha e solta.

INÊS  -  Não tenho 15 anos, bobo! Tenho 22. Não sou solta, mas sou livrezinha porque meu maridinho não gosta de mim.

BABY  -  Chega, Inês! (pegou nas mãos da mulher) Não sabe por que faço isso?

INÊS  -  Já sei. Porque não quer que a mãe do teu filho...

BABY  -  ... e também porque te amo, boboca! Porque te amo paca! Vidradão por ti!

INÊS AMOLECEU NO COLO DO MARIDO.

BABY  -  Descobri de repente. Eu te amo, Inês!

INÊS  -  Como é que eu posso acreditar nisso?

BABY  -  Acreditando, ora!

INÊS  -  (falou, ressentida) Você disse a mesma coisa pra Tula. Como, de um momento pro outro, descobriu que ama duas mulheres ao mesmo tempo?

BABY  -  Eu também não sei explicar, pomba! O fato é que estou maluco por você! O que é que eu faço, Inês? Me ajude! Faça alguma coisa por mim!

INÊS  -  (cruzou os braços, zangada) Sabe que você me deixa tonta?

BABY  -  Inês, eu descobri de repente! Foi como num estalo! Estava dormindo, aqui no chão... quando abri os olhos... me deu o estalo! Eu disse: gosto mesmo é da minha mulher! O que é que estou fazendo que não descobri isto antes? Uma mulher bacana às pampas... uma mulherzinha adorável que levou uma culpa pesada nas costas, só pra que eu... não tivesse o maior desgosto da minha vida... essa mulher maravilhosa que me deu um filho que é uma beleza... Aí eu pensei: mas até ontem eu gostava de  Tula... Tula também foi bacana. Me levou conforto na prisão... não posso me queixar. E botei as duas na balança, assim (fez um gesto característico) Bem medidas, as duas... o peso igual... perguntei pra mim mesmo: vamos, de quem é que eu gosto, no duro? Da Inês, anjo puro que se sacrificou por mim! Ou de Tula... que me levou amor na hora da dificuldade, também? Você é esta... Tula é deste lado.

BABY FINGIU OLHAR UMA BALANÇA IMAGINÁRIA ANTE OS OLHOS LACRIMOSOS DA ESPOSA.

BABY  -  Tula me deu afeto, carinho... quando eu estava desorientado (baixou mais a balança para o lado de Tula) Ninguém pode negar suas qualidades... nem levar a mal um sentimento puro que houve entre nós... Mas Inês...

AS MÃOS DE BABY SE EQUILIBRARAM E AOS POUCOS A BALANÇA IMAGINÁRIA COMEÇOU A PENDER PARA O LADO DE INÊS.

BABY  -  Inês não me levou conforto na prisão porque eu não a recebia... Inês guardou um segredo horrível da minha vida, para não me dar desgosto... sofrendo pra burro. Inês me ama... Inês é humana, é boa... e acima de tudo... Inês é minha mulher... só minha. E eu descobri! Tive vontade de pular e gritar! Eu amo Inês! Eu amo Inês, gente! Eu amo Inês!

ERA TUDO.

OS LÁBIOS  DOS DOIS UNIRAM-SE ARDENTEMENTE. ALGUMA COISA MUITO SUPERIOR AO PRAZER FÍSICO TOMOU POR COMPLETO OS CORPOS ENTRELAÇADOS.

DONA ROSA PIGARREOU TRÊS VEZES ANTES QUE O CASAL NOTASSE SUA PRESENÇA.

ROSA  -  (dirigiu-se ao genro, com a cara fechada) Aquele home, doutô advogado, tá aí querendo falá contigo. É assunto lá das propriedade de Porto Azul.

INÊS PULOU DO COLO, LÉPIDA. SAIU COM A MÃE.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CASA DE BABY E INÊS  -  COZINHA  -  INTERIOR  -  DIA

COM AS MÃOS EM CONCHA, EQUILIBRADAS, INÊS IMITAVA OS GESTOS DO MARIDO.

ROSA  -  Tá doida? Que história é essa de balança?

INÊS  -  Ah, mãe! A balança que fez ele descobri que gosta de mim! Mais do que da Tula.

ROSA  -  E tu, bobona, tá acreditando nisso?

INÊS  -  Mãe... tô entregando os ponto. Num guento mais!

ROSA  -  Mas vai guentá! Ah, vai! Home que faz o que ele fez tem que levá uma lição bem grande!

INÊS  -  Mãe, (disse, penalizada) ele tá cheio de dor pelo corpo... de dormi no chão!

ROSA  -  Mas vai continuar dormindo!

INÊS  -  Ele confessou que tá apaixonado por mim!

ROSA  -  Mentira! Teu pai que nem sempre foi esse santo home que é hoje, na idade do teu marido também fazia assim! Eu caía na lábia dele e ele depois ficava com as duas! Eu e a outra! Home é bicho sabido! Abre o olho, ele tá te tapeando! Não pode tê deixado de gostá da outra, de repente! Tu num entrega os ponto! Num entrega! Ou eu num olho mais pra tua cara e num te ajudo mais! Banca a durona! A firmona!

CORTA PARA:

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  PREFEITURA  -  INTERIOR  -  DIA

ESTER SENTOU-SE NO SOFÁ.

ESTER  -  Você mandou me chamar, Otto?

OTTO  -  Mandei.

PAULUS  -  Mandou chamar a mim também, Ester. Eu não sei o que está acontecendo.

OTTO  -  (passeando de um lado para o outro) Doutora Ester Keller... a noite passada a senhora escondeu um fugitivo da justiça. Que explicações nos dá para isso?

ESTER  -  (mentiu) Nenhuma... pois eu não sei do que está falando.

OTTO  -  Falo do Dr. Cyro Valdez!

PAULUS  -  Que bobagem é essa, Otto?

OTTO  -  Falo desse médico que anda às soltas pela cidade, como um cidadão livre, escondendo-se na casa da nossa promotora.

ESTER  -  Ou você está sonhando ou a pessoa que lhe contou esta infâmia deve estar louca. Eu sei de quem se trata. Com certeza foi Cesário quem veio lhe encher os ouvidos.

OTTO  -  Sim. Foi Cesário. Ele me disse que você escondeu Cyro Valdez em sua própria casa. A polícia esteve lá e não o encontrou mais.

ESTER  -  A polícia de fato esteve lá em casa. Aliás, eu vou apresentar queixa porque não admito que vasculhem minha casa como se eu não fosse uma autoridade aqui. Afinal de contas, se pedi a prisão de Cyro Valdez não iria protegê-lo da polícia.

PAULUS  -  (pulou satisfeito) Claro! Isso mesmo é que eu ia dizer. Ester pediu a prisão dele, porque acreditou nas provas. Não iria agora contradizer o que fez! Lógico!

ESTER  -  Você não pensou que pode ter sido invenção de Cesário? Ou mesmo uma cisma de sua mente, uma falsa visão? Sabe que ele tem visto Júlia todos os dias? E ela está morta! Disse ao delegado! Todo dia ele pensa ver Júlia em algum canto da cidade.

COICE DE MULA  -  (confirmou) É verdade. Ele anda impressionado. Diz que vê Dona Júlia a toda hora.

PAULUS  -  Então ele está ficando louco!

ESTER  -  Não sei se é o caso. Deve estar com a mente enfraquecida. Vê coisas que não existem! Ontem cismou que viu Dr. Cyro entrar na minha casa.

OTTO  -  Pois bem. Eu prefiro acreditar que Cesário está ficando louco... do que imaginar você, Ester, protegendo aquele criminoso. Vou lhe dar um voto de confiança. Mas vou mandar espalhar policiais disfarçados pelos quatro cantos de Porto Azul e imediações. Se ele aparecer, será capturado. Válter... leve esse bilhete ao delegado Moreira.

FIM DO CAPÍTULO 100


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