Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 100
Participam deste
capítulo
Ester - Gloria Menezes
Cyro -
Tarcísio Meira
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabella
Delegado -
Vinicius Salvatori
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Rosa - Ana
Ariel
Válter / Coice de
Mula -
Dary Reis
CENA 1 - CASA
DE ESTER - EXTERIOR
- NOITE
O DELEGADO MOREIRA ORIENTAVA OS SOLDADOS DO DESTACAMENTO.
DELEGADO - Rodeiem a casa! Cerquem tudo! Tenham cuidado!
(em seguida, entrou na casa, olhos atentos) Doutora Ester!
ESTER - Que susto! Que foi isso, delegado?
DELEGADO - Desculpe incomodá-la a esta hora...
ESTER - O que houve? Estava me preparando para
dormir!
DELEGADO - Onde está ele?
ESTER - Ele quem?
CESÁRIO - Ora, ela sabe bem do que o senhor está
falando!
DELEGADO - Ele me procurou... disse que o Dr. Cyro estava
aqui, com a senhora!
ESTER - Dr. Cyro?! Cesário está sonhando ou está
bêbado! Dr. Cyro não apareceu por aqui. Ele não se atreveria a vir à minha
casa, delegado!
CESÁRIO - (gritou) Ela tá mentindo! Eu vi! Vi com esses
olhos que a terra há de comer!
ESTER CAMINHOU TRANQUILAMENTE POR SOBRE O GROSSO TAPETE DE LÃ
E BEBEU UM GOLE DE UÍSQUE.
ESTER - Parece que o Senhor Cesário anda tendo visões
estranhas, ultimamente. Ontem, estava bêbado e entrou aqui da mesma forma
dizendo que eu estava escondendo Júlia.
DELEGADO - (encarou o homem com ar de poucos amigos) Que
que há, seu Cesário?Dona Júlia não está morta?
ESTER - Estou mentindo, Cesário?
CESÁRIO - Bem... ontem... de fato... eu bebi demais e
parece que andei tendo visão... mas hoje... hoje tô bem normal! Não botei uma
gota de álcool na boca!
ESTER - Muito bem... se o senhor acredita mais nele
do que em mim... pode verificar. Entre pra tirar a cisma, delegado.
DELEGADO - A senhora me desculpe, promotora, mas... pode
ser que ele esteja escondido... sem que a senhora saiba.
CESÁRIO - Ela sabe!
DELEGADO - (fora de si) Cale a boca!
A UM SINAL, OS SOLDADOS INVADIRAM A CASA.
ESTER - Não me acordem Takau, por favor.
ESTER ACOMPANHOU O DELEGADO NA BUSCA PELO INTERIOR DA
RESIDENCIA. ABRIU MEIA BANDA DA PORTA DO QUARTO; O DELEGADO OLHOU
DISCRETAMENTE. TAKAU RESSONAVA À MEIA-LUZ AMBIENTE. CYRO COLOU-SE CONTRA A
PAREDE, POR DETRÁS DA PORTA QUE LOGO FOI FECHADA PELO POLICIAL. UMA VEZ
TERMINADA A BUSCA, RETORNARAM À SALA.
ESTER - (em tom irônico) Está satisfeito, agora?
Verificou que não menti?
DELEGADO - (meio encabulado) Desculpe mais uma vez!
CORTA PARA:
CENA 2 - CASA
DE ESTER - QUARTO
- INTERIOR -
NOITE
ESTER APAGOU AS LUZES DA SALA E SE ENCAMINHOU PARA O QUARTO.
TUDO ACONTECEU REPENTINAMENTE. O HOMEM AGARROU-A E COLOU A MÃO CONTRA SEUS
LÁBIOS. ELA PERCEBEU NUM RELANCE DE QUEM SE TRATAVA E DEIXOU-SE BEIJAR
ARDENTEMENTE POR AQUELES LÁBIOS QUE A DEVORAVAM. O MUNDO QUE SE DANASSE...
PENSOU ESTER, ENQUANTO SE ENTREGAVA À FORÇA AMOROSA DE CYRO VALDEZ.
CORTA PARA:
CENA 3 -
PORTO AZUL - CASA DE BABY E INÊS -
SALA - INTERIOR
- DIA
BABY LIBERATO TINHA CIÚMES DA ESPOSA.
BABY - Não quero que saia de casa. E outra coisa: se
sair, mude de roupa, não ande por aí assim, nessa indecência.
INÊS - (sorriu, sentando-se no colo do marido) Desde
quando você virou moralista de roupa?
BABY - Não interessa, tá? Não quero que se exiba!
INÊS - Nunca ligou pra isso. Agora mudou, é?
BABY - Bom, não diga mais nada. Acho que você já
entendeu que eu não quero que a mãe do meu filho apareça como qualquer
garotinha de 15 anos, livrezinha e solta.
INÊS - Não tenho 15 anos, bobo! Tenho 22. Não sou
solta, mas sou livrezinha porque meu maridinho não gosta de mim.
BABY - Chega, Inês! (pegou nas mãos da mulher) Não
sabe por que faço isso?
INÊS - Já sei. Porque não quer que a mãe do teu
filho...
BABY - ... e também porque te amo, boboca! Porque te
amo paca! Vidradão por ti!
INÊS AMOLECEU NO COLO DO MARIDO.
BABY - Descobri de repente. Eu te amo, Inês!
INÊS - Como é que eu posso acreditar nisso?
BABY - Acreditando, ora!
INÊS - (falou, ressentida) Você disse a mesma coisa
pra Tula. Como, de um momento pro outro, descobriu que ama duas mulheres ao mesmo
tempo?
BABY - Eu também não sei explicar, pomba! O fato é
que estou maluco por você! O que é que eu faço, Inês? Me ajude! Faça alguma
coisa por mim!
INÊS - (cruzou os braços, zangada) Sabe que você me
deixa tonta?
BABY - Inês, eu descobri de repente! Foi como num
estalo! Estava dormindo, aqui no chão... quando abri os olhos... me deu o
estalo! Eu disse: gosto mesmo é da minha mulher! O que é que estou fazendo que
não descobri isto antes? Uma mulher bacana às pampas... uma mulherzinha
adorável que levou uma culpa pesada nas costas, só pra que eu... não tivesse o
maior desgosto da minha vida... essa mulher maravilhosa que me deu um filho que
é uma beleza... Aí eu pensei: mas até ontem eu gostava de Tula... Tula também foi bacana. Me levou conforto na
prisão... não posso me queixar. E botei as duas na balança, assim (fez um gesto
característico) Bem medidas, as duas... o peso igual... perguntei pra mim
mesmo: vamos, de quem é que eu gosto, no duro? Da Inês, anjo puro que se
sacrificou por mim! Ou de Tula... que me levou amor na hora da dificuldade,
também? Você é esta... Tula é deste lado.
BABY FINGIU OLHAR UMA BALANÇA IMAGINÁRIA ANTE OS OLHOS
LACRIMOSOS DA ESPOSA.
BABY - Tula me deu afeto, carinho... quando eu
estava desorientado (baixou mais a balança para o lado de Tula) Ninguém pode
negar suas qualidades... nem levar a mal um sentimento puro que houve entre
nós... Mas Inês...
AS MÃOS DE BABY SE EQUILIBRARAM E AOS POUCOS A BALANÇA
IMAGINÁRIA COMEÇOU A PENDER PARA O LADO DE INÊS.
BABY - Inês não me levou conforto na prisão porque
eu não a recebia... Inês guardou um segredo horrível da minha vida, para não me
dar desgosto... sofrendo pra burro. Inês me ama... Inês é humana, é boa... e
acima de tudo... Inês é minha mulher... só minha. E eu descobri! Tive vontade
de pular e gritar! Eu amo Inês! Eu amo Inês, gente! Eu amo Inês!
ERA TUDO.
OS LÁBIOS DOS DOIS
UNIRAM-SE ARDENTEMENTE. ALGUMA COISA MUITO SUPERIOR AO PRAZER FÍSICO TOMOU POR
COMPLETO OS CORPOS ENTRELAÇADOS.
DONA ROSA PIGARREOU TRÊS VEZES ANTES QUE O CASAL NOTASSE SUA
PRESENÇA.
ROSA - (dirigiu-se ao genro, com a cara fechada)
Aquele home, doutô advogado, tá aí querendo falá contigo. É assunto lá das
propriedade de Porto Azul.
INÊS PULOU DO COLO, LÉPIDA. SAIU COM A MÃE.
CORTA PARA:
CENA 4 - CASA
DE BABY E INÊS - COZINHA
- INTERIOR - DIA
COM AS MÃOS EM CONCHA, EQUILIBRADAS, INÊS IMITAVA OS GESTOS
DO MARIDO.
ROSA - Tá doida? Que história é essa de balança?
INÊS - Ah, mãe! A balança que fez ele descobri que
gosta de mim! Mais do que da Tula.
ROSA - E tu, bobona, tá acreditando nisso?
INÊS - Mãe... tô entregando os ponto. Num guento
mais!
ROSA - Mas vai guentá! Ah, vai! Home que faz o que
ele fez tem que levá uma lição bem grande!
INÊS - Mãe, (disse, penalizada) ele tá cheio de dor
pelo corpo... de dormi no chão!
ROSA - Mas vai continuar dormindo!
INÊS - Ele confessou que tá apaixonado por mim!
ROSA - Mentira! Teu pai que nem sempre foi esse
santo home que é hoje, na idade do teu marido também fazia assim! Eu caía na lábia dele e ele depois ficava com as duas! Eu e a outra!
Home é bicho sabido! Abre o olho, ele tá te tapeando! Não pode tê deixado de
gostá da outra, de repente! Tu num entrega os ponto! Num entrega! Ou eu num
olho mais pra tua cara e num te ajudo mais! Banca a durona! A firmona!
CORTA PARA:
CENA 5 -
PORTO AZUL - PREFEITURA
- INTERIOR - DIA
ESTER SENTOU-SE NO SOFÁ.
ESTER - Você mandou me chamar, Otto?
OTTO - Mandei.
PAULUS - Mandou chamar a mim também, Ester. Eu não sei
o que está acontecendo.
OTTO - (passeando de um lado para o outro) Doutora
Ester Keller... a noite passada a senhora escondeu um fugitivo da justiça. Que
explicações nos dá para isso?
ESTER - (mentiu) Nenhuma... pois eu não sei do que
está falando.
OTTO - Falo do Dr. Cyro Valdez!
PAULUS - Que bobagem é essa, Otto?
OTTO - Falo desse médico que anda às soltas pela
cidade, como um cidadão livre, escondendo-se na casa da nossa promotora.
ESTER - Ou você está sonhando ou a pessoa que lhe
contou esta infâmia deve estar louca. Eu sei de quem se trata. Com certeza foi
Cesário quem veio lhe encher os ouvidos.
OTTO - Sim. Foi Cesário. Ele me disse que você
escondeu Cyro Valdez em sua própria casa. A polícia esteve lá e não o encontrou
mais.
ESTER - A polícia de fato esteve lá em casa. Aliás,
eu vou apresentar queixa porque não admito que vasculhem minha casa como se eu
não fosse uma autoridade aqui. Afinal de contas, se pedi a prisão de Cyro
Valdez não iria protegê-lo da polícia.
PAULUS - (pulou satisfeito) Claro! Isso mesmo é que eu
ia dizer. Ester pediu a prisão dele, porque acreditou nas provas. Não iria
agora contradizer o que fez! Lógico!
ESTER - Você não pensou que pode ter sido invenção de
Cesário? Ou mesmo uma cisma de sua mente, uma falsa visão? Sabe que ele tem
visto Júlia todos os dias? E ela está morta! Disse ao delegado! Todo dia ele
pensa ver Júlia em algum canto da cidade.
COICE DE MULA - (confirmou) É verdade. Ele anda
impressionado. Diz que vê Dona Júlia a toda hora.
PAULUS - Então ele está ficando louco!
ESTER - Não sei se é o caso. Deve estar com a mente
enfraquecida. Vê coisas que não existem! Ontem cismou que viu Dr. Cyro entrar
na minha casa.
OTTO - Pois bem. Eu prefiro acreditar que Cesário
está ficando louco... do que imaginar você, Ester, protegendo aquele criminoso.
Vou lhe dar um voto de confiança. Mas vou mandar espalhar policiais disfarçados
pelos quatro cantos de Porto Azul e imediações. Se ele aparecer, será capturado. Válter... leve
esse bilhete ao delegado Moreira.
FIM DO CAPÍTULO 100
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