Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 103
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcisio Meira
Prof. Valdez - Enio
Santos
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Naná -
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês - Betty
Faria
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabella
Coice de Mula - Dary
Reis
Otto -
Jardel Filho
Catarina -
Lidia Mattos
Lia -
Arlete Sales
Paulus -
Emiliano Queiroz
CENA 1 - CASA
DE DONA BÁRBARA - SALA
- INTERIOR - DIA
O PROFESSOR VALDEZ AJEITOU OS ÓCULOS E SE CONCENTROU NA
NOTÍCIA QUE OCUPAVA TRÊS COLUNAS DO JORNAL.
PROF. VALDEZ - (leu em voz alta) “Esposa de eminente figura
de nossa sociedade aparece após muitos anos de ausência. Esposa legítima do
Comendador Augusto Liberato vai reclamar na Justiça direitos sobre a fortuna
Liberato.” Mas... o que é isso?
RICARDO - Um escândalo atingindo Baby. Escândalo que
poderá ter sérias consequências.
PROF. VALDEZ - São declarações do prefeito!
RICARDO - Exato. Declarações de Otto Muller.
PROF. VALDEZ - Elisa Liberato ou Naná, do cabaré de Porto
Azul, é a mãe verdadeira de Baby Liberato! Mas onde se viu? Onde se viu coisa
assim?! Isto vai ser um choque para o Baby!
CORTA PARA:
CENA 2 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR
- DIA
NA MANSÃO DOS MULLER, OTTO SORRIA, AO LADO DA MÃE, DE PAULUS
E DE LIA.
OTTO - É o que devia ter sido feito há muito tempo.
Meu beijo, mamãe... Tou bonito, hoje?
CATARINA - Otto, você está certo de que esse escândalo
vai ajudá-lo? Afinal de contas... nós também podemos ser atingidos...
OTTO - Por quê? Não podemos ser culpados pelos erros
de titia Elisa!
CATARINA - Nossa família! Nosso nome!
OTTO - Vamos lamentar, vamos nos aborrecer muito...
mas isto precisava ser feito mamãe!
FOI COM ESPANTO QUE TODOS OS OLHOS SE MOVERAM PARA A PORTA DE
ENTRADA E PARA A MULHER QUE, EMPURRANDO COM BRUTALIDADE A CRIADA, ENTROU PELA
CASA ADENTRO. ERA NANÁ.
A MULHER PARECIA INTEIRAMENTE TRANSTORNADA E SE DIRIGIU A
OTTO MULLER, ATIRANDO-LHE O JORNAL NA CARA.
NANÁ - Olha aqui, seu careca sem-vergonha! Eu vim te
dizer que isto não me mete medo! Você não pense que pode fazer o que pretende
contra meu filho!
OTTO - Seu filho vai morrer de vergonha quando ler
este jornal!
NANÁ - Ele pode morrer de vergonha, mas você não vai
conseguir o que pretende, está me ouvindo?
OTTO - Vou mandar fechar seu cabaré!
NANÁ - Você desconhece que existe lei e que um
simples desejo do prefeito não pode resolver nada? Feche, se puder. Mas de mim
você não vai conseguir nada!
E QUANDO A MULHER AMEAÇOU AVANÇAR CONTRA O HOMENZARRÃO, OTTO
ESCONDEU-SE, AMEDRONTADO, POR TRÁS DA MÃE, AGARRANDO-LHE O BRAÇO COM
NERVOSISMO. DAVA SALTINHOS HISTÉRICOS.
OTTO - Faça essa mulher sair daqui!
CORTA PARA:
CENA 3 - CASA
DE BABY E INÊS - SALA
- INTERIOR -
NOITE.
JÁ ERA NOITE FECHADA QUANDO RICARDO ALCANÇOU A PORTA DA
MODESTA RESIDENCIA DE BABY E INÊS. SEM MUITA CONVERSA, O ENGENHEIRO ENTREGOU O
JORNAL ABERTO AO RAPAZ.
BABY - O que é?
RICARDO - Leia. Vai entender.
À MEDIDA QUE TOMAVA CONHECIMENTO DA MATÉRIA, AS FEIÇÕES DE
BABY SE TRANSTORNAVAM. ERAM AGORA AS DE UM HOMEM ENVELHECIDO E ANGUSTIADO.
BABY - Como... é possível? O que é isso?! É a
revelação de tudo... de toda a minha vida. A verdade sobre... sobre Naná!
INÊS ESPANTOU-SE VENDO A TRANSFORMAÇÃO DO MARIDO.
INÊS - Gente... o que foi?!
BABY - Aquele vigarista! Eu disse a você, Inês... e
não me enganei. Veja isto aqui. Declarações de minha... minha mãe, imagine!
INÊS - O que é que ela diz, Leandro?
BABY - Que voltou e vai reclamar na Justiça seus
direitos sobre a fortuna Liberato! Era isso o que ela queria, viu? Agora está
se mostrando! Botou as garras de fora! E você, muito penalizada, ainda achava
que eu estava sendo cruel com a coitadinha!
INÊS - Não acredite nisso, Leandro! Não pode ser!
Sua mãe não faria isso com você. Ela nunca demonstrou interesse por dinheiro.
BABY - (bateu com a mão espalmada na folha de
jornal) Mas está aqui, não está? Revelações dela!
RICARDO - Baby, sou seu amigo e você sabe disso. Não
quero defender ninguém, mas... como podemos afirmar que essas declarações foram
dadas por sua mãe? Os jornais estão à procura de sensacionalismo. Infelizmente,
há uma parte da imprensa que lida com essas coisas... essa espécie de matéria
desagradável. Só o escândalo tem valor para esse tipo de jornal. Não é toda a
imprensa... reconheça. Você se recorda que Cyro foi vítima de uma campanha
igual. E veja as declarações... são também de Otto Muller. Isto já é um voto de
descrédito na validade de qualquer reportagem.
INÊS - Dr. Ricardo tem razão, Leandro. Não faça
juízo precipitado à primeira vista. A gente tem de saber das coisas antes de
tudo. Ter certeza se Dona Naná disse mesmo isso.
BABY - Diz aqui que ela vai embargar a posse dos
bens que doei aos meus companheiros....
INÊS - Não acredite, Leandro!Ela não está pensando
em fazer isso, te garanto!
CORTA PARA:
Pé-na-Cova (Antonio Pitanga), Das Dores (Ruth de Souza) e Cesário (Carlos Eduardo Dolabella) |
CENA 4 - VILA
DOS PESCADORES - CHOUPANA DE CYRO -
INTERIOR - DIA
CYRO - Está mais calma?
NANÁ - Estou.
NANÁ AINDA NÃO SE RECUPERARA DO ABALO QUE A NOTÍCIA HAVIA LHE
PRODUZIDO. E PROCURARA CYRO VALDEZ PARA SER O PORTADOR DE TODA A VERDADE AO
FILHO.
NANÁ - Vou esperar que ele me procure. E se for
necessário... eu estarei disposta a dar minha autorização em qualquer momento que
necessitar.
CYRO - (apertando-lhe as mãos) Eu direi a ele, sim.
NANÁ - (visivelmente emocionada, os olhos
lacrimosos) Só quero... que ele me procure. Que ele mesmo me peça isso. Não é
por nada... é um prazer que eu quero ter... de ajudar a meu filho...
pessoalmente, de alguma forma.
CYRO - Vá tranquila, eu direi.
CORTA PARA:
CENA 5 -
PORTO AZUL - CABARÉ
- INTERIOR -
NOITE
O MOVIMENTO NO CABARÉ ERA INTENSO ÀQIELA HORA, QUANDO A TARDE
CAÍA SOBRE PORTO AZUL. VÁRIOS CARROS DE REPORTAGEM ESTAVAM ESTACIONADOS DE UM
LADO E OUTRO DA RUA LARGA, SOMBREADA PELOS ARVOREDOS.
DEBRUÇADO NO BALCÃO, CESÁRIO BEBIA SÔFREGAMENTE, ENQUANTO OS
REPÓRTERES ASSEDIAVAM A DONA DO CABARÉ.
REPÓRTER 1 - Uma palavra para o Jornal da Tarde, Dona Naná. A senhora é mesmo a mãe de Baby
Liberato?
REPÓRTER - 2
- Vai reclamar a herança na
Justiça?
REPÓRTER 1 - Há quanto tempo estava ausente?
REPÓRTER 3 - Que
pretende fazer com tanto dinheiro?
REPÓRTER 2 - Vai
montar uma rede de cabarés?
REPÓRTER 1 - Onde
morou durante todo esse tempo?
REPÓRTER 2 - Qual
é o seu nome verdadeiro?
REPÓRTER 3 - Onde es...
NANÁ - (explodiu, enfurecida, face vermelha, olhos
arregalados) Chega! Eu não vou reclamar nada... não vou montar prostíbulos...
nem chamar vagabundas para trabalhar comigo. Nada. Por que não me deixam em
paz?Eu não tenho nada a dizer. E agora, sumam todos daqui! Sumam!
COM ENERGIA, NANÁ FOI EMPURRANDO OS JORNALISTAS PARA FORA DO
ESTABELECIMENTO. OS FOTÓGRAFOS BATIAM CHAPAS APROVEITANDO O INCIDENTE QUE FARIA,
COM CERTEZA, A MANCHETE DO DIA SEGUINTE. VENDA GARANTIDA DE TODA A EDIÇÃO.
CESÁRIO PERCEBEU A PRESENÇA DE COICE DE MULA AO SEU LADO E
COMPLETOU A DOSE QUE IA PELA METADE.
CESÁRIO - Ahhh!
COICE DE MULA - Que é que foi, rapaz?
CESÁRIO - Estava te esperando. Preciso de você, meu
amigão (e apertou o braço musculoso do capataz das minas) Você é ou não é meu
amigão?
VALTER CARPINELLI PENSOU UM POUCO, ANTES DE RESPONDER. NÃO
ATINAVA COM AS RAZÕES QUE TINHAM LEVADO CESÁRIO A CHAMÁ-LO E A SE MOSTRAR TÃO
ESQUISITO.
COICE DE MULA - Sou, sou... mas quero saber que bicho te
mordeu. Dizem que tu anda fazendo bobagens por aí...
CESÁRIO ARREGALOU OS OLHOS COMO SE VISSE UM FANTASMA. MOVEU A
CABEÇA EM CÍRCULO POR TODO O RECINTO DO CABARÉ.
CESÁRIO - Válter... ela... aquela mulher anda me
perseguindo!
COICE DE MULA - (em voz baixa) Quem?
CESÁRIO - Júlia! (Carpinelli espantou-se) Anda atrás de
mim o tempo todo! Conhece meus passos, onde eu vou, ela está atrás! Aqui
mesmo... ela deve estar por aí, me vigiando. Ali... ali está ela, Válter!
(esticou o dedo, apontando um ponto na junção de duas paredes. Coice de Mula
olhou. Não havia nada) Manda essa mulher embora daqui. Ela quer me matar,
Válter! Quer me matar da mesma forma como morreu!
COICE DE MULA - Você está sofrendo da bola! Vamos sair daqui!
FIM DO CAPÍTULO 103
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