quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 102

Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 102

Participam deste capítulo

Ester  -  Gloria Menezes
Cyro  -  Tarcisio Meira
Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Catarina  -  Lidia Mattos
Comendador Liberato  -   Macedo Netto
Orjana  -  Neusa Amaral
Von Muller  -  Jorge Cherques
Delegado  -  Vinicius Salvatori
Ricardo  -  Edney Giovenazzi


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  PREFEITURA  -  GABINETE DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

WERNER VON MULLER EXPLICAVA AO FILHO SEU NOVO E DIABÓLICO PLANO. OTTO OUVIA, ATENTO.

VON MULLER  -  Repito... é preciso usarr de estratégia parra... agarrarr esse homem. Ninguém quererr ouvirr velho Werner. A policia põe mãos nele, simplesmente... como um prisioneiro comum. Ele não serr um homem comum...

CORTA PARA:

CENA 2  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

O COMENDADOR LIBERATO ACABARA DE CONVERSAR COM A IRMÃ, AMBOS AFOGUEADOS PELAS DISCUSSÕES, MAS UNIDOS AINDA ASSIM PELA FORÇA DO SANGUE.

CATARINA  -  (dirigindo-se ao filho) Seu tio está cansado e quer dormir, Otto.

COMENDADOR  -  (com as pernas trôpegas) Realmente, estou cansado. Mas gostei de saber que não conseguiram agarrar Cyro Valdez.

AMBOS AFASTARAM-SE ENQUANTO PAULUS SE JUNTAVA AOS DOIS HOMENS.

OTTO  -  Aquele imbecil do delegado não tem um plano em mente?

PAULUS  -  (ajeitando os óculos) Creio que temos de ajudá-lo, Otto.

CATARINA RETORNOU DOS APOSENTOS  SUPERIORES DA MANSÃO E DIRIGIU-SE AO GRUPO.

CATARINA  -  Agora vocês podem me dizer por que me fizeram convidar meu irmão  a vir passar uma temporada comigo? Confesso que não entendi nada até agora.

VON MULLER  -  Non disse a ela, Otto?

OTTO  -  Não, papi. Ainda não falei da verdadeira causa que nos obriga a ter esse verme aqui.

CATARINA  -  Pois falem.

PAULUS  -  Precisamos que a senhora nos consiga as cartas de Elisa, Dona Catarina.

CATARINA  -  As cartas? Mas como?!

PAULUS  -  Sabemos que o Comendador a conserva junto dos seus objetos particulares.

CATARINA  -  As cartas... que provam a traição de Elisa?

OTTO  -  Exatamente. As cartas que provam a traição de Elisa ou Naná... que é a mesma coisa.

CATARINA  -  Mas... para quê?

OTTO  -  Consiga as cartas e verá a utilidade delas, mamãe. Não aceito recusa. Vá hoje mesmo ao quarto de titio Liberato quando ele estiver dormindo... sei que ele toma sedativos muito fortes... Aí será fácil para a senhora.

CATARINA  -  (voltou-se para Von Muller, o ex-marido) Isto é plano seu, não é, Von Muller?

VON MULLER  -  (balançou a cabeça afirmativamente) Eu estarr apenas ajudando meu filho.

CATARINA  -  Queira Deus que esteja mesmo.

E RETORNOU AOS SEUS APOSENTOS NO ANDAR SUPERIOR DA MANSÃO.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  CORREDOR  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA MADRUGADA E O SILENCIO IMPUNHA UM QUÊ DE MISTÉRIO AO VULTO QUE SE DESLOCAVA MACIAMENTE PELO CORREDOR. FRENTE À PORTA DO QUARTO DO COMENDADOR, CATARINA PAROU E GIROU A MAÇANETA. COMO ESPERAVA, O VELHO NÃO FECHARA O APOSENTO A CHAVE. A PORTA SE ABRIU LENTAMENTE E A MULHER ENTROU COMO UM GATO LADRÃO. VIU A UM CANTO, PRÓXIMO À CAMA, A MALA DE VIAGEM DO COMENDADOR QUE RESSONAVA, DESLIGADO DO MUNDO. CATARINA CONHECIA O CÔMODO E DESLIZOU POR SOBRE O TAPETE ONDE ESTAVA A MALA. PREMIU A FECHADURA E DEBAIXO DE UM LIVRO POLICIAL NOTOU O PEQUENO MAÇO DE CARTAS AMARELADAS PELO TEMPO. IMEDIATAMENTE TROCOU-O POR UM OUTRO QUE TROUXERA PARA ESSE FIM. RETIROU A FITA E ENVOLVEU O MAÇO DE CARTAS FALSAS. SEM SE MOVER, OLHOU O IRMÃO, QUE SE MEXERA NA CAMA. NÃO HAVIA PERIGO. LIBERATO DORMIA PROFUNDAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 4  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  NOITE

OTTO VIU A MÃE ENTRAR EM SEU QUARTO PÁLIDA, OFEGANTE.

OTTO  -  Conseguiu?

CATARINA  -  Acho que sim! Uff! Não sei se me enganei. Não sei se este maço é o que você queria, mas retirei isto da mala de meu irmão.

OTTO  -  (enérgico) Me dê, rápido!

CATARINA ENTREGOU O MAÇO DE PAPÉIS E DIRIGIU O FOCO DE LUZ DO ABAJUR PARA O COLO DO FILHO. OTTO COMEÇOU A LER.

OTTO  -  Ahn! São sim... as cartas de titia Elisa! Aqui está a prova de que Baby não é filho de titio! Que bom! Aqueles vagabundos não querem entregar Cyro Valdez... eu vou cercá-los por todos os lados! Eles me pagam! Aí, mamãe! Você é um anjo! Sente-se aqui e cante uma canção de embalar para mim...

COMO UMA CRIANÇA MIMADA, OTTO ESTICOU-SE NA CAMA, DESCANSANDO A CABEÇA NO COLO DA MÃE. CATARINA ALISOU-LHE A TESTA E CANTOU BAIXINHO A HISTÓRIA DO BOI DA CARA PRETA...

CORTA PARA:
Orjana (Neusa Amaral) e Prof. Valdez (Enio Santos)
CENA 5  -  PORTO AZUL  -  PREFEITURA  -  GABINETE DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

DEPOIS DAS ACUSAÇÕES QUE LHE FORAM IMPUTADAS NO CASO DA MORTE DA MULHER DE TAVARES, TODA A CLASSE MÉDICA DA REGIÃO SE COLOCARA EM POSIÇÃO CONTRÁRIA À DE CYRO  VALDEZ. TORCIAM PELA CASSAÇÃO DE SEU DIPLOMA OU OUTRA QUALQUER PUNIÇÃO QUE O IMPEDISSE DE CLINICAR. E ERA O QUE ESTAVA ACONTECENDO. ANTES MESMO DE EXAMINAR O VOLUMOSO DOSSIÊ DO PROCESSO, O CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DESAUTORIZOU CYRO VALDEZ A EXERCER SUA PROFISSÃO NO ESTADO.

E O DELEGADO MOREIRA CORREU A COMUNICAR O FATO AO PREFEITO OTTO MULLER.

OTTO  -  Ah... muito bem! Até que enfim! As coisas estão caminhando no rumo certo! Quer dizer que o Dr. Cyro Valdez está proibido de clinicar, temporariamente? Ótimo!

PAULUS  -  (com o documento na mão) Ele já foi informado?

DELEGADO  -  Entreguei a notificação ao Dr. Ricardo. Com certeza a fará chegar hoje mesmo às mãos do fugitivo.

PAULUS  -  Por que não segue o Dr. Ricardo para agarrar Cyro de uma vez?

DELEGADO  -  Primeiro porque eles não são tão ingênuos a ponto de permitirem a localização do esconderijo, e segundo porque não posso dar batidas diárias na colônia dos pescadores. Eles o esconderiam em questão de segundos.

PAULUS  -  (aborrecido) Então o senhor confessa sua incapacidade de agarrá-lo?

DELEGADO  -  Lá dentro não existe possibilidade de botar a mão no homem (afirmou, com calma controlada) Fora, sim. Estava planejando mandar chamá-lo, como que para atender um doente... e prendê-lo de emboscada. Mas... diante dessa proibição, agora me parece inútil...

OTTO  -  Não, não será inútil... Ponha em prática o plano. Estou certo de que o Dr. Cyro Valdez não obedecerá à ordem do Conselho. Conheço muito bem aquele homem...

DELEGADO  -  Acham que devo executar a ideia?

OTTO  -  Imediatamente!

CORTA PARA:

CENA 6  -  VILA DOS PESCADORES  -  CHOUPANA DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

CYRO RASGOU A NOTIFICAÇÃO QUE O ENGENHEIRO LHE ENTREGOU.

CYRO  -  Isto para mim não tem o mínimo valor. Um homem injustamente perseguido não necessita autorozação para dirigir sua vida.

RICARDO  -  Pode trazer sérias consequências, inclusive o fechamento de seu hospital, aqui na Colônia...

CYRO  -  Vou conseguir que um colega assuma o meu lugar, aqui. Não quero que essa gente fique prejudicada. Eu continuarei curando e só Deus pode me impedir de continuar. E ele ainda não me mandou parar.

CORTA PARA:

CENA 7  -  CASA DE ESTER  -  SALA -  INTERIOR  -  DIA

ESTER PROCURAVA NÃO ACREDITAR NO QUE A MÃE DE CYRO ESTAVA LHE DIZENDO. SENTIA QUE ELE NÃO IRIA ACATAR A DECISÃO DO CONSELHO. ERA, ACIMA DE TUDO, UM MÉDICO.

ESTER  -  É uma decisão temporária, Dona Orjana, até que o caso dele seja decidido na Justiça.

ORJANA  -  E até lá, o que vai acontecer?

ESTER  -  Eu não sei. Já me desliguei definitivamente da promotoria. Depois do pedido de prisão de Cyro, eu não podia mais continuar. Não me sentia bem. Estava seguindo um caminho errado. Agora sei que cometi muitos erros depois que meu filho morreu. Eu me desorientei (juntou as mãos contra as faces, desesperada) Meu Deus, eu não aguento mais!

ORJANA  -  Não sabia que você tinha se desligado.

ESTER  -  Pedi ontem exoneração do cargo. Vou me dedicar a cuidar de crianças. Não tenho outro objetivo na vida. Creio que é a única solução mais digna... e que vai me trazer um pouco de tranquilidade. Tenho procurado caminho às tontas. Só cometi enganos, enganos... e não fiz nada, nada em meu benefício.

ORJANA  -  Eu só vejo uma solução: você voltar para meu filho. Ele a ama, apesar de tudo.

ESTER  -  Não. Não é a solução que procuro. A satisfação do meu egoísmo, da minha paixão... não é isso. Vou viver para as crianças... só. Mais nada. Não vou me casar com ninguém... renuncio a qualquer sentimento que satisfaça minha vaidade. Não procuro mais conforto para mim. Essa criança que vou adotar, Takau, veio me abrir os olhos para muita coisa...

ORJANA  -  Eu compreendo, Ester...

ESTER  -  (pegou-lhe as mãos) Desejo sinceramente que não aconteça o pior ao seu filho. E... pode acreditar... nunca o amei tanto quanto o amo hoje.

ORJANA  -  Posso dizer isso a ele?

ESTER  -  Não. Não vai acrescentar nada. Deixe as coisas como estão. É melhor!

FIM DO CAPÍTULO 102




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