Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 20
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Otto Muller -
Jardel Filho
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Coice de Mula - Dary
Reis
Pé-na-Cova -
Antonio Pitanga
Daniel -
Paulo Araújo
Pedrão -
Waldir Onofre
CENA 1 - ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS - ESCRITÓRIO - INTERIOR
- DIA
OS OLHOS AZUIS DO ALEMÃO FAISCARAM E
SE TORNARAM DIMINUTOS COM A PRESENÇA DO ENGENHEIRO. DR. RICARDO ENTROU
APREENSIVO NO ESCRITÓRIO DE CAMPO.
RICARDO - Sr.
Muller, eu soube que o senhor mandou reabrir a frente de trabalho da M-6!
OTTO - Que
há? Algum problema? É verdade, mandei.
RICARDO - O
senhor sabe que isso é uma insensatez! Eu tinha mandado interditar a galeria!
OTTO
- (rebateu) O senhor está me
chamando de insensato?
RICARDO - Foi
a palavra mais amena que encontrei para definir o seu gesto. A galeria está
cheia de gás, o senhor sabe muito bem. A qualquer momento pode se incendiar.
OTTO
- (enrubesceu e as veias do
pescoço saltaram) Eu estive lá a semana passada. O perigo não é tão grande.
RICARDO - Eu
sou o engenheiro. E sei o perigo!
OTTO – Mas eu sou o superintendente e
o senhor, meu subordinado!
RICARDO -
Desta forma, fique então o senhor responsável pelo que acontecer!
RICARDO LEVANTOU-SE, COM A CABEÇA
QUENTE, E RETIROU-SE DA SALA.
CORTA PARA:
CENA 2 - MINA
- INTERIOR - DIA
BABY IMPRESSIONAVA-SE COM O AMBIENTE
TÉTRICO DO SUBSOLO. COICE DE MULA APROXIMOU-SE DO LOCAL ONDE O SOM DAS
PICARETAS E PÁS DOS DOIS HOMENS QUEBRAVA O SILENCIO SEPULCRAL. O AUXILIAR DO
CHEFE TINHA AS FEIÇÕES TRANSTORNADAS DE PREOCUPAÇÃO. SUAVA FRIO, MESMO COM A
TEMPERATURA ALTA DO INTERIOR DA TERRA.
COICE DE MULA - O
patrão mandou que trouxesse o sinhô até aqui, eu trouxe. Agora, acho melhó a
gente voltá...
BABY
- Eu também acho. Não sei como
vocês aguentam ficar o dia inteiro aqui embaixo!
COICE DE MULA - O
dia inteiro? Tem uns que ficam a vida inteira!
BABY
- É uma sensação horrível. Parece
que tudo isso vai desabar nas nossas costa... essas paredes minando água. E
esse zumbidozinho... o que é?
COICE DE MULA -
(estremeceu) Isso? Não é nada... é assim mesmo. (parou e sugeriu ao
rapaz que o esperasse por uns instantes) Vou falá com aqueles home.
(aproximou-se de Pé-na-Cova) Olha, já tá quase na hora de largá. Encham mais
esse vagão e vão esperá a hora de assiná o ponto.
BABY ENFIOU A MÃO PELA ABERTURA DA
ROUPA E PUXOU UM CIGARRO DA CARTEIRA. LEVOU-O À BOCA E ERGUEU O ISQUEIRO,
BAIXANDO A CABEÇA, NUM GESTO MAQUINAL.
À DISTANCIA, DANIEL OBSERVAVA, COM
ÓDIO, O HOMEM QUE SE APROVEITAVA DE SUA IRMÃ. O GESTO DE ACENDER O CIGARRO ATIVOU-LHE
AS FORÇAS ADORMECIDAS.
DANIEL -
(gritou) Não! (e atirou-se contra o filho do comendador, arrancando-lhe
o isqueiro das mãos. Com o susto, Baby desequilibrou-se e caiu ao solo, sobre o
braço; Daniel recriminou-o) Tá louco! Qué mandá tudo pelos ares, moço?
OS MINEIROS SE APROXIMARAM,
SURPRESOS.
COICE DE MULA -
(ajudando Baby a se levantar) Que foi?
BABY
- Que foi? Sei lá! (fez uma
careta, com dor no braço) Esse doido!
DANIEL -
Doido é você! Ele ia acendê o cigarro!
MINEIROS - (a uma só voz, exclamaram) Nossa!
PÉ-NA-COVA - Ia
tudo pro beleléu!
BABY
- Pensei que a mina ia desabar!
PÉ-NA-COVA -
Olha, esteve por pouco... por sua causa.
BABY
- Como é que eu ia saber? Ninguém
me disse nada.
DANIEL -
Filhinho de papai em fundo de mina dá nisso!
BABY
- (sentiu o sangue subir-lhe à
cabeça) Eh, rapaz! Pode ser que eu tenha feito uma bobagem, mas nem por isso
vou ouvir desafôro, seu ou de quem quer que seja! Retire o que disse!
OS DOIS SE OLHARAM COM HOSTILIDADE,
DANIEL ENCARANDO O MILIONÁRIO COM ÓDIO.
DANIEL - Não
retiro, não! É filhinho de papai, mesmo!
O MURRO DE BABY ALCANÇOU O CENTRO DO
NARIZ DO MINEIRO. DANIEL FOI ATIRADO DE ENCONTRO ÀS PEDRAS DE CARVÃO ACUMULADAS
NO SOLO. ERGUEU-SE, AINDA TONTO, À PROCURA DO REVIDE. COICE DE MULA ALCANÇOU-O
POR BAIXO. UM MURRO TERRÍVEL. O MINEIRO ESTATELOU-SE NO CHÃO, COMPLETAMENTE
GROGUE.
COICE DE MULA -
Vamos pará com isso! O moço não tem culpa de nada. Não tá sabendo que
essa galeria tá cheia de gás. E se algum de vocês se mexê mais, aqui, eu mando
tudo pro inferno!
BABY
- (apontou o mineiro estendido,
com o sangue a jorrar de um ferimento feio no queixo e na cabeça) Ele está
ferido!
COICE DE MULA - (com
frieza) Deixa, os outros cuidam dele!
CORTA PARA:
CENA 3 - PALACETE DOS LIBERATO -
SALA - INTERIOR
- NOITE
O COMENDADOR ANALISAVA OS
ACONTECIMENTOS. BABY LHE HAVIA CONTADO OS PORMENORES, DESDE SUA CHEGADA À MINA
ATÉ A DESCIDA AO SUBSOLO E OS INCIDENTES POSTERIORES. O VELHO E EXPERIMENTADO
DONO DE MINAS PERMANECIA CALADO.
COMENDADOR LIBERATO - Quer
dizer que você se salvou por segundos?
BABY
- Isso mesmo.
COMENDADOR LIBERATO - Se a
galeria estava cheia de gás, a ponto de ser perigoso acender um isqueiro, como
é que o Otto deixou você ir lá?
BABY
- Ele não deixou, velho. Ele
mandou que me levassem lá.
COMENDADOR LIBERATO - Não
é possível que ele tenha feito isso premeditadamente. Ou você acha que foi?
BABY
- Eu não sei. Não quero acusar...
mas que tudo isso me deixou muito desconfiado, deixou. Se bem que, se o
incêndio tivesse irrompido enquanto eu estava lá, eu não ia morrer sozinho.
Muita gente ia ser assada.
COMENDADOR LIBERATO - Não
sei se Otto ia se incomodar muito com isso! Ele é capaz de tudo! E eu espero
que isso tenha feito você compreender por que eu não durmo, pensando que vou
morrer e ele vai assumir a presidência da Companhia!
O TELEFONE TOCOU E BABY NÃO DEMOROU A
ATENDÊ-LO. À MEDIDA QUE OUVIA, A COR DESAPARECIA DE SUAS FACES. O RAPAZ
EMPALIDECEU.
COMENDADOR LIBERATO -
(percebeu que algo de muito sério havia ocorrido) O que aconteceu? Fale!
BABY
- A M-6 pegou fogo, de ponta a
ponta.
LIBERATO - (sentiu o choque) Não era a mina onde você
estava?
BABY FEZ QUE SIM COM A CABEÇA E
CORREU À GARAGEM. MINUTOS DEPOIS O CARRO DESAPARECIA VELOZ NA DIREÇÃO DAS MINAS
NOVO MUNDO.
CORTA:
CENA 4 - ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS - ESCRITÓRIO -
INTERIOR - NOITE
OTTO - (respirava com dificuldade)
Então?!
RICARDO -
(circunspecto) Conseguimos isolar a galeria. Mas o fogo ainda vai
demorar por muito tempo.
OTTO
- Vamos abrir um inquérito. Quero
saber quem foi o culpado.
RICARDO OLHOU-O, INDIGNADO. PERDERA O RESPEITO POR
AQUELE HOMEM DESUMANO.
OTTO
- (insistiu) Quem foi o culpado? A galeria não ia pegar
fogo sozinha! Isto está me cheirando a sabotagem!
RICARDO - (sem
conseguir conter-se por mais tempo) Olhe aqui, Sr. Muller, se há um culpado, é
o senhor, que mandou reabrir a frente de trabalho, sabendo que esse incêncio
podia ocorrer a qualquer momento. Ao menor descuido. Se abrirem um inquérito,
eu vou dizer o que penso! E não vai ser nada bom para o senhor!
O ENGENHEIRO SAIU BRUSCAMENTE,
DEIXANDO O CHEFE SEM PALAVRAS, APOPLÉTICO, LOUCO DA VIDA.
FIM DO CAPÍTULO 20
... e na próxima sexta, o capítulo 21!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário