Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 24
Participam deste
capítulo
Cyro – Tarcísio Meira
Baby Liberato - Claudio Cavalcanti
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Daniel -
Paulo Araújo
Rosa - Ana
Ariel
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabela
Inês -
Betty Faria
CENA 1 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - NOITE
O FOCO DE LUZ CAÍA EM CHEIO SOBRE O LIVRO. O COMENDADOR
LIBERATO DESVIOU, UM POUCO, O CONE DE LUZ PARA O LADO ENQUANTO TIRAVA OS
ÓCULOS. BABY ACABARA DE CHEGAR. A EXPRESSÃO ANGUSTIADA NÃO PASSOU DESPERCEBIDA
AO PAI.
BABY - A honra da família está salva! (atirou o
paletó em cima do sofá) Dei um fora em regra na moça que podia balançar os
alicerces da Grande Companhia de Mineração Novo Mundo.
COMENDADOR LIBERATO
- Você não fez mais do que sua
obrigação.
O VELHO MILIONÁRIO ESTICOU AS PERNAS SOBRE A BANQUETA
ACOLCHOADA. DESCANSOU O LIVRO NO COLO. ALEGRAVA-SE COM A NOTÍCIA QUE O FILHO
ACABARA DE LHE DAR. O NAMORO COM A FILHA DE UM PESCADOR MISERÁVEL, IRMÃ DE UM
DE SEUS MINEIROS, VINHA CAUSANDO ÚLCERAS AO VELHO RICAÇO.
BABY - Bem... agora estou pronto para receber a
coroa de rei (disse, com azedume) Marque o dia e a hora e me avise, com
antecedência.
BABY SUBIU AS ESCADAS, SEGUINDO PARA SEUS APOSENTOS.
ZORAIDA - Parece revoltado!
COMENDADOR LIBERATO
- É um ingrato! Um
mal-agradecido! Depois de tudo o que eu fiz por ele!
ZORAIDA - O que fez?
COMENDADOR LIBERATO
- Vou renunciar à presidência da
Companhia, não vou? E por que você acha que vou fazer isso? Para dar a ele um
novo sentido na vida. Para que crie juízo, assumindo uma responsabilidade dessa
natureza. Para que mude de vida, deixe de ser um inconsequente...
O VELHO COMENDADOR PÔS A MÃO CONTRA O PEITO, FORÇANDO
A RESPIRAÇÃO QUE SE NEGAVA A ENTRAR EM RITMO NORMAL.
CORTA PARA:
CENA
2 -
PORTO AZUL - PRAIA BONITA
- EXTERIOR -
NOITE
HAVIA HORAS QUE MESTRE JONAS, DANIEL E ROSA, COM AJUDA DE PÉ-NA-COVA, BUSCAVAM LOCALIZAR INÊS. O NEGRO CORRERA À CHOUPANA DO
VELHO PESCADOR MINUTOS APÓS A MOÇA TER-SE LANÇADO ÀS ONDAS REVÔLTAS A BORDO DO
PEQUENO BARCO. APESAR DE TODOS OS ESFORÇOS E DO CONHECIMENTO QUE POSSUÍA DA
REGIÃO, MESTRE JONAS REGRESSARA À PRAIA DESOLADO. NADA. NEM SINAL DA FILHA. O
DESESPERO JÁ SE TINHA APOSSADO DA FAMÍLIA E DOS AMIGOS. DEZENAS DE BARCOS
HAVIAM-SE LANÇADO À NOITE ESCURA, BATENDO OS RECANTOS PERIGOSOS, JUNTO ÀS ROCHAS,
AOS SOPÉS DO LITORAL.
CORTA PARA:
CENA
3 -
PORTO AZUL - PRAIA BONITA
- CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
INTERIOR - NOITE
ROSA CHORAVA DESOLADA, À ESPERA DO MARIDO E DO FILHO.
APENAS A NEGRA GERALDINA LHE FAZIA COMPANHIA, PITANDO O CACHIMBO, TRANQUILA.
ROSA OUVIU VOZES. COMO SE DEZENAS DE PESSOAS ESTIVESSEM SE APROXIMANDO DO SEU
CASEBRE.
JONAS ENTROU E ACHEGOU-SE À MULHER. VINHA SUJO DE
AREIA E ENCHARCADO DE ÁGUA SALGADA.
MESTRE JONAS
- Tou pedindo proteção a Deus,
mulhé!
ROSA - Quero só vê se teus guia vão fazê voltá a
nossa filha! Se Doutô Cyro for mesmo quem tu diz que ele é... pede prêle trazê
de volta a nossa menina! Quero vê, Jona, se ele pode fazê alguma coisa!
MESTRE JONAS ENCAROU A MULHER, SÉRIO. A PEQUENA
MULTIDÃO OUVIA EM SILENCIO. APENAS O RISO IRÔNICO DE CESÁRIO QUEBROU A
SERIEDADE DO MOMENTO. O VENTO ASSOBIAVA E O MAR RUGIA. JONAS VIROU-SE PARA O
OCEANO E OROU POR ALGUNS MINUTOS.
CESÁRIO - (gozou a situação) Se a moça aparecê e entrar
por essa porta (apontou) eles vão dizê
que é milagre.
FOI NESSE EXATO MOMENTO QUE A VOZ, VINDA DO MAR,
CHEGOU ATÉ ELES.
VOZ - Mestre Jonas! Ajude aqui! Mestre Jonas!
COMO IMPELIDOS PELO VENTO QUE SOPRAVA FORTE, HOMENS E
MULHERES CORRERAM PARA A BEIRA-MAR.
MESTRE JONAS
- (gritou) É o doutô Cyro!
A FIGURA DO MÉDICO SE TORNOU MAIS NÍTIDA.
ROSA - (caindo de joelhos na areia) Lá vem ele...
com minha filha!
PÉ-NA-COVA E DANIEL SE ENTREOLHARAM. CESÁRIO TINHA OS
OLHOS ESBUGALHADOS E O CIGARRO ESQUECIDO A UM CANTO DA BOCA.
CYRO APROXIMOU-SE LENTAMENTE, COM O CORPO DE INÊS NOS
BRAÇOS. A CABEÇA, CAÍDA POR SOBRE O BRAÇO DIREITO DO MÉDICO.
CYRO - Onde coloco?
ROSA - (angustiada, correndo para perto da filha) Tá
morta?
CYRO - Não... apenas desfalecida.
CORTA PARA:
Inês (Betty Faria) e Baby (Claudio Cavalcanti) |
CENA
4 -
CHOUPANA DE MESTRE JONAS - QUARTO DE INÊS -
INTERIOR - NOITE
AGORA INÊS ESTAVA DEITADA NA CAMA DE LENÇÓIS LIMPOS E
REMENDADOS. A ROUPA FINA SE LHE COLARA AO CORPO MORENO, COMO UMA SEGUNDA PELE.
ROSA - (agitada) Vai morrê?
CYRO - Não! Fique com ela. Vocês tem álcool por aqui?
MESTRE JONAS
- Álcool... não... Só tem
cachaça.
CYRO - Serve. Vá buscar!
CESÁRIO CHEGOU-SE PARA PERTO DO CIRURGIÃO, ENQUANTO
MESTRE JONAS LHE ENTREGAVA A GARRAFA DE AGUARDENTE.
CESÁRIO - Como foi, doutô... que o senhor achou a moça?
Será que a gente tá, de novo, diante de um milagre?
CYRO - (pegou a garrafa, molhou as mãos e olhou
firme para o mineiro) Por que milagre? Serei Deus?
CESÁRIO - Ué? Milagre. O Mestre Jonas tava aqui
invocando os guias...
MESTRE JONAS
- (enérgico) O senhor não tem o
direito de falá assim com um home como o doutô Cyro!
CYRO - Não. Eu não me aborreço. Mas não sei como
alguém pode encarar um fato comum como milagre. Foi apenas uma coincidência. Eu
estava por perto e vi a moça pegar o barco. Não foi muito difícil achar outro
bote pelas redondezas. Encontrei um e saí nele, perseguindo o dela. (molhou a
fronte da moça com a cachaça e esfregou seus pulsos; Inês moveu os cílios) Eu
mal enxergava nas ondas fortes... O mar estava escuro como breu. Até que
consegui alcançá-la... com muita dificuldade. (encostou o pano embebido junto
às narinas da moça) Ela já tinha engolido muita água. Para trazê-la até a
margem, tive que lutar muito. Mas Deus nos ajudou!
CESÁRIO - (com sarcasmo) Acredita em Deus, doutô?
CYRO - (voltou a encará-lo, com frieza) Sim, moço.
Eu creio. Não acredito em milagres. Mas creio em Deus! Mas alguma explicação?
Ou já está satisfeito?
MESTRE JONAS
- (cortou o diálogo, emocionado)
Não, doutô. Desculpa os home...
ROSA - (apontou, nervosa, para o rosto da filha)
Doutô... veja os lábio dela... tão ficando roxo, doutô!
O MÉDICO EXAMINOU AS FEIÇÕES DA JOVEM COM AR DE
PREOCUPAÇÃO. TOMOU-LHE A PULSAÇÃO.
CYRO - A senhora sabe fazer respiração boca a boca?
ROSA - Num sei o que é isso, doutô!
CYRO NÃO ENCONTROU OUTRA SOLUÇÃO. DEBRUÇOU-SE SOBRE A
MOÇA DESACORDADA, ENTREABRIU-LHE OS LÁBIOS E FEZ CHEGAR O AR AOS PULMÕES. POUCO
DEPOIS, INÊS GEMEU FRACAMENTE E COMEÇOU A RESPIRAR FUNDO. A COR LHE VOLTAVA À
FACE E OS LÁBIOS AVERMELHAVAM-SE.
ROSA - (com as mãos postas) Quero lhe pedir perdão,
doutô!
CYRO - (espantou-se) Perdão?
ROSA - É a segunda vez que o sinhô salva um dos meus
filho. E eu duvidei do sinhô!
CYRO - (ignorou a observação) Vai voltar a si, já,
já! Veja um café bem quente para reanimá-la.
INÊS ABRIU OS OLHOS. OUVIU A VOZ DO MÉDICO.
CYRO - Está melhor?
INÊS - (balbuciou) Por que... não me deixaram morrê?
ROSA - (encostou a cabeça da filha ao colo e deu-lhe
o café quente) Foi o doutô Cyro quem te salvô.
INÊS - Se espera agradecimento de mim, não vai
recebê.
CYRO - (levantando-se) Eu não espero agradecimento.
INÊS - (deseperada, o pensamento ligado ao homem por
quem decidira acabar com a vida) Que espera, então? Por que não vai embora?
CYRO - Queria morrer?
INÊS VIROU O ROSTO PARA O CANTO DA PAREDE, NUM GESTO
DE RAIVA.
FIM DO
CAPÍTULO 24
... e na próxima terça, o 25. capítulo!
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