Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 56
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Zoraida - Jurema Penna
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabela
CENA 1 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA DE JANTAR -
INTERIOR - DIA
MUITO POUCAS VEZES O COMENDADOR SE MOSTRAVA COM TAMANHO
OTIMISMO, COMO NAQUELA MANHÃ. BABY ENGOLIA O CAFÉ, APRESSADO. INÊS DORMIA AINDA
E A GOVERNANTA SERVIA À MESA.
COMENDADOR LIBERATO
- Vai às minas?
BABY - Vou. Estou atrasado!
COMENDADOR LIBERATO
- Meu filho.. eu queria lhe
dizer... que estou muito satisfeito com as suas atividades, à frente de sua
parte, na administração da Companhia.
BABY - (mordeu o pão e bebeu mais um gole de café)
No duro que estou mandando brasa. Mas não quero agradar a ninguém, senão a mim
mesmo... Me dou muito bem com a rapaziada das minas. Eles me querem um bem
danado...
COMENDADOR LIBERATO
- É, eles te apoiam, te estimam,
sim... Você captou a confiança dos homens. Tenho de reconhecer esta qualidade
em você.
BABY - Pois é. Pra você, eu nunca passei de um
traste, um inútil, não é?
COMENDADOR LIBERATO
- (não se continha de felicidade)
Estou dando mão à palmatória, meu filho. Você acertou em cheio. Para se dirigir
bem uma empresa, é preciso ter a confiança dos empregados. Confesso que eu
nunca havia pensado nisso, antes. Você conseguiu, em pouco tempo, botar o seu
primo em segundo plano. Tomei conhecimento do último incidente... quando o Dr.
Paulus queria obrigar seus empregados a trabalhar extraordinário, sem
remuneração. Gostei da atitude que você tomou, em defesa deles!
BABY - Eu não estou sozinho. Não fosse o apoio do
Daniel, meu cunhado... líder dos homens, e eu não teria a força que tenho,
hoje.
ZORAIDA - (sorriu com ironia, intrometendo-se na
conversa) Diga a seu pai que por essa razão você se casou com essa menina.
BABY - (de cara feia) Eu nunca afirmei isso.
COMENDADOR LIBERATO
- É verdade? Só assim eu tentaria
compreender esse casamento.
BABY - É e não é. Me casei pra não desagradar os
mineiros. Depois do casamento eles passaram a confiar mais em mim.
COMENDADOR LIBERATO
- Bem... eu não sei se valeu a
pena tanto sacrifício. A intenção não foi má, a realização da ideia é que foi
péssima. É uma coisa que eu não posso
aceitar. Esse casamento disparatado.
NINGUÉM PERCEBEU A PRESENÇA DE INÊS QUE DESCIA A ESCADA, COM
OS CABELOS ENROLADOS EM BOBS, VESTINDO
UM PEIGNOIR POBRE E DE MAU GÔSTO.
ESTACOU NOS PRIMEIROS DEGRAUS, AO OUVIR AS DECLARAÇÕES DO MARIDO E DO
COMENDADOR.
BABY - (prosseguiu) É, mas agora não tem remédio.
COMENDADOR LIBERATO
- Claro. Não estou dizendo o
contrário. Só que não sei como você vai sair desta situação. A moça está nesta
casa e parece um peixe fora d’água.
INÊS CONTEVE-SE PARA NÃO GRITAR. OS NERVOS À FLOR DA PELE.
BABY - (reagiu bruscamente às palavras do pai) Você
não se meta. Eu me entendo com ela. Não quero que ninguém se meta. Nem Zoraida.
Estamos entendidos?
ZORAIDA - É desagradável ter de aturar uma moça tão sem
educação, sem trato, que não sabe nem falar... como sendo sua esposa.
BABY - (advertiu) É, mas você vai ter que aturar,
quer queira, quer não.
ZORAIDA - Uma moça que se viesse se oferecer aqui, como
empregada, eu teria rejeitado.
O COMENDADOR PRESSENTIU A PRESENÇA DE ALGUÉM NA ESCADA E PELO
CANTO DOS OLHOS, PERCEBEU QUE INÊS OUVIA A CONVERSA. PIGARREOU
SIGNIFICATIVAMENTE, OLHANDO PARA O FILHO E PARA A CRIADA.
BABY - (levantou-se, limpando a boca com o
guardanapo) Eu ia me despedir... Não me esperem pro almoço, nem pro jantar...
DIRIGIU-SE PARA A PORTA DE SAÍDA QUANDO O COMENDADOR O
CHAMOU.
COMENDADOR LIBERATO
- Baby, apesar de tudo, temos de
manter as aparências com seu primo Otto. Ele está se restabelecendo de uma
operação difícil e melindrosa e você deve ir vê-lo no hospital.
BABY - Eu não vou. Não sou hipócrita! Pra mim, pouco
importa que ele morra!
INÊS - (descendo a escada, ante a surpresa da
governanta e do marido) Se quer, Leandro, eu vou...
ZORAIDA - (cortou) Não. Vai servir de motivos de
comentários. O senhor comendador é que deve ir.
COMENDADOR LIBERATO
- Não... eu me indispus com
Catarina, minha irmã. Não quero ir. Zoraida, você irá, representando a família.
A GOVERNANTA ENVAIDECEU-SE COM A ESCOLHA DO PATRÃO E A
VITÓRIA SOBRE A PRETENSIOSA ESPOSA DE SEU MENINO...
ZORAIDA - Irei com prazer, comendador. Estou certa de
não envergonhar ninguém... Vou me arrumar.
DEIXOU A SALA, AO MESMO TEMPO EM QUE INÊS BAIXAVA A CABEÇA,
ENVERGONHADA E HUMILHADA.
TENTOU DIRIGIR-SE AO MARIDO, JÁ COM A MÃO NA MAÇANETA DA
PORTA DE SAÍDA.
INÊS - Leandro... preciso falar com você.
BABY - (ignorou-a) Depois... Agora tenho pressa.
Tchau, velho.
CORTA PARA:
Ricardo (Edney Giovenazzi) |
CENA 2 -
ESCRITÓRIO DAS MINAS - ADMINISTRAÇÃO -
INTERIOR - DIA
CESÁRIO - Trouxe o dinheiro?
CESÁRIO OLHOU ÁVIDAMENTE PARA A MALETA DE COURO QUE O
ENGENHEIRO TRAZIA NA MÃO. ÀQUELA HORA DA MANHÃ POUCOS MINEIROS TRANSITAVAM
PELAS IMEDIAÇÕES DO ESCRITÓRIO E GRANDE PARTE JÁ SE ENCONTRAVA DEBAIXO DA
TERRA, NO DURO TRABALHO DAS ESCAVAÇÕES. RICARDO MAL OLHAVA PARA O CAPATAZ. O
ÓDIO SE ESTAMPAVA NO SEMBLANTE FECHADO.
RICARDO - Trouxe. Trouxe, sim, miserável. (retirou o
pequeno papel da carteira) Uma parte em dinheiro e outra em cheque.
INESPERADAMENTE, BABY LIBERATO ENTROU NA SALA DE TRABALHO.
VIU A MALETA ABERTA COM OS MAÇOS DE DINHEIRO E O CHEQUE SOBRE A MESA. ASSOBIOU
DE ESPANTO.
BABY - Será que eu vim atrapalhar alguma coisa?
CESÁRIO ABORRECEU-SE E ENCAROU O INIMIGO CHEIO DE IRA.
RICARDO - Não.
BABY - Vim te buscar (sem tirar os olhos do monte de
notas) Vou às minas do norte, pensei que você gostaria de me acompanhar.
RICARDO - Obrigado
(respondeu nervosamente) Vou ficar aqui por algum tempo.
BABY - E Cesário, o que está fazendo?
CESÁRIO - Vim... resolver um problema das minas... com
o Doutor Ricardo.
BABY - (intrigado, mexendo nas notas emboladas)
Vocês não estão com boas caras... Ia fazer algum pagamento a Cesário, Ricardo?
RICARDO - Não, Baby! Não faça perguntas! Vá embora que
eu cuido da minha vida!
BABY - (sentou-se, desconfiado, curioso) Não, eu te
espero (esticou a perna em cima da mesa) Temos alguma coisa para acertar. Pode
terminar seu problema com Cesário.
BABY ACENDEU UM CIGARRO DESPREOCUPADAMENTE, MAS ATENTO AOS
MENORES GESTOS DO AMIGO E DO CAPATAZ. SENTIA QUE ALGUMA COISA IMPORTANTE ESTAVA
ACONTECENDO ENTRE OS DOIS HOMENS. CRUZOU AS PERNAS SOBRE A MESA. E AGUARDOU.
CESÁRIO - (olhou enfezado o homem à sua frente) E
então? Como é que a gente fica?
RICARDO - Falo com você amanhã.
O ENGENHEIRO BUSCAVA UMA SAÍDA. NÃO LHE CONVINHA A PRESENÇA
INDISCRETA DO PRESIDENTE DA COMPANHIA.
CESÁRIO - (balançou a cabeça negativamente) Amanhã não
adianta! Tenho que acertar um negócio hoje, de noite! Dei minha palavra!
RICARDO - Mas, que negócio? Eu não disse que você podia
contar comigo!
CESÁRIO - Eu avisei, não avisei? O que custa o senhor
me fazer o pagamento? O cheque já está aí... basta pôr sua assinatura.
RICARDO FEZ UMA PAUSA, OBSERVANDO DISCRETAMENTE O AMIGO. BABY FINGIA DISPLICÊNCIA. O
ENGENHEIRO ASSINOU O CHEQUE E ERGUEU A MÃO PARA ENTREGÁ-LO AO CAPATAZ. DE UM
SALTO, BABY PUXOU O PAPEL. CESÁRIO AVERMELHOU-SE DE RAIVA.
BABY - (espantou-se) Desculpe... sou muito curioso.
Barbaridade. Isto mais isto... que dinheirão! Santo Deus! O que é isso,
Ricardo?
O ENGENHEIRO ESTAVA LÍVIDO. QUASE SEM RESPIRAR.
CESÁRIO - (tentando reaver o cheque) É um dinheiro que
ele me deve de um serviço que fiz pra ele.
BABY - (manteve o papel na mão) Um servição, hem?
CESÁRIO - É. Um servição! Quer fazer o favor de me dar
isto?
BABY - (colocou a mão espalmada à sua frente) Calma!
Quero saber antes que serviço é esse? (virou-se para o engenheiro) Você não tem
uma mamata dessas para mim, Ricardo?
RICARDO - (estava sombrio e pediu com voz humilde)
Entregue o cheque a esse homem, Baby. Você não pode brincar com coisas sérias!
BABY - (entregou o cheque, lentamente, enquanto
falava com voz grave) Veja lá o que está fazendo, Cesário. Sou testemunha de
qualquer problema que venha a acontecer no futuro.
CESÁRIO - Tenho consciência de que mereço isto (disse,
guardando o papel) Mereço muito mais, até. Dr. Ricardo sabe disso. O serviço
que prestei a ele... é muito valioso.
RICARDO - (encarando o chantagista) Estamos quites, não
estamos?
CESÁRIO - Por enquanto.
RICARDO - O próximo pagamento... eu te juro... será uma
bala nos miolos.
O ENGENHEIRO APERTOU OS DEDOS, COM A MÃO FECHADA. SAIU,
DESATINADO, PORTA A FORA.
BABY CRAVOU OS OLHOS NOS OLHOS DO RAPAZ À SUA FRENTE.
BABY - Não pode me contar essa história direitinho?
CESÁRIO - Não. Se contasse... não merecia o pagamento
que ele acaba de me fazer.
BABY - Ahn... então foi... um cala-boca? Chantagem!
CESÁRIO - Prefiro a primeira hipótese. Mais ou menos
isto.
FIM DO CAPÍTULO 56
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