sábado, 20 de setembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 61


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 61

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Zoraida  -  Jurema Pena
Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Padre Miguel  -  Artur Costa Filho
Ivanzinho  -  Rogério Pitanga
Lia  -  Arlete Sales
Catarina  -  Lidia Matos
Vera  -  Louise Macedo

CENA 1  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DE INÊS  -  INTERIOR  -  NOITE

BATERAM À PORTA DO QUARTO E INÊS MANDOU QUE ENTRASSEM. A JOVEM PENTEAVA OS CABELOS COMPRIDOS DIANTE DO ESPELHO. A EMPREGADA VERA ENTROU.

VERA  -  O comendador me mandou entregar este vestido... mas parece que vai dar um bode...

INÊS  -  Ele já está pronto?

VERA  -  Já. Mas o seu Baby tá lá embaixo, com cara de réu... bebendo, bebendo...

INÊS  -  Vai começar tudo de novo!

A GOVERNANTA ENTROU TAMBÉM NO QUARTO, FEIÇÕES ALTERADAS, O ÓDIO REFLETIDO NO OLHAR EMBARAÇADO.

ZORAIDA  -  Vim lhe dizer uma coisa. Dê uma desculpa qualquer ao comendador. Diga que está doente, ou coisa parecida. Mas não deve ir a essa reunião na companhia dele!

INÊS  -  Mas ele ta insistindo.

ZORAIDA  -  Ora, você é muito esperta! Sabe que vai provocar um caso grave entre pai e filho. Ou você está aqui para colocar um contra o outro?

INÊS  -  Eu não tou fazendo isso!

BABY APARECEU NA PORTA, DE COPO NA MÃO E OLHAR ZANGADO.

BABY  -  (ordenou, com energia) Sai todo mundo! Me deixem falar com ela!

AS DUAS MULHERES SAÍRAM DO QUARTO.

BABY  -  Olha aqui. Eu não quero me meter nos seus atos. Mas lhe dou um conselho. Você é minha mulher e nora do meu pai. É a mim que você tem de bajular... não a ele!

INÊS  -  Não me interessa bajulá ninguém. Nem você, nem ele (revoltava-se num crescente incontrolável) Ele é bom. Você é uma peste. Ele gosta um pouco de mim e me trata como gente. Se interessa em me dar um pouco de educação, me leva pra passear. Não tem vergonha de está do meu lado. Você me detesta e tem vergonha de mim!

BABY REFLETIU NAS VERDADES QUE ACABARA DE OUVIR.

BABY  -  Não sou de fazer declaração de amor a toda hora. Sou como sou. Se quer me agüentar assim, agüente. Se não quer, paciência.

INÊS  -  (mostrou-lhe o vestido esticado sobre a cama) Se você veio aqui pra me dizê que não use o vestido da sua mãe... fica sossegado. Eu já tinha desistido. Vou com meus trapo mesmo... porque você não liga nem pra isso. Que adianta ser mulher de milionário? Não tenho nada. Nem pra comprá  um sapato pra mulhé você não presta.

BABY  -  (mais calmo, com as verdades que recebera pela cara) Compra você, se quiser, e manda botar na conta! Não é isto que me chateia! O que me enche é você querer acompanhar meu pai à casa dos meus inimigos. Pra me fazer passar vergonha! Pra que eles me ridicularizem! A mulher do Baby é uma bobona! Uma palhaça, analfabeta, caipira!     

INÊS  -  E era você quem dizia que a gente tudo é igual!

BABY  -  Na teoria, minha cara. Na prática, tem muita diferença! O velho pode ir com você a qualquer outro lugar, menos à casa do primo Otto. Estamos entendidos?

IA SE VIRANDO PARA DEIXAR O QUARTO, QUANDO INÊS O IMPEDIU, CORRENDO À SUA FRENTE E SE COLOCANDO DE COSTAS PARA A PORTA.

INÊS  -  Espera! Por que você não se entende com seu pai? As coisas ia melhorá pra nós três!

BABY -  Não se meta entre nós dois! É caso pessoal!

INÊS  -  No caso de sua mãe... é você quem se acusa. Ninguém nunca te acusou. Conversei com o velho. Ele não guarda mágoa por ela ter morrido quando você nasceu. Nada disso!

BABY  -  (ficou tenso) Não lhe dei o direito... de falar no nome da minha mãe!

INÊS  -  Não sou tão burra que não perceba que você tem prazer de se martirizar. Teu pai me contou tudo. Que você se afastou dele, quando percebeu de que jeito foi que ele...

BABY  -  (gritou, inteiramente descontrolado, atirando o copo contra a parede) Cale a boca, sua... Então, você e o velho tem trocado confidências!

INÊS  -  Ele é bom pra mim e tem paciência comigo e com você. Senão já teria deserdado você e aí... onde ficaria o ricaço de boa vida? Babau! Voce teria de mendigar emprego e ganhar seu pão... Já pensou nisso?

BABY  -  Ele está te instruindo... pra você ficar contra mim. E você... idiota e imbecil... está indo na onda dele.

INÊS  -  Não é verdade! Não é verdade! Você não entende ele! Se entendesse não se martirizava quando me vê vestida com as roupas de sua mãe. Ficava até satisfeito. Porque seu pai gosta de lembrar dela! Bonita que ela era. Vi nos retratos. Você se parece pra burro com ela! Se fosse um sujeito normal, você tinha de gostá, também. Mas você não é normal. É um doente!

Baby  -  (se transformou, diante da reação da mulher) Sua... sua pretensiosa de uma figa! Só porque está aprendendo uma liçãozinha à toa... já se acha muito sabida. Quer bancar até a psicóloga! A professora, Doutora-sabe-tudo! Doutora metida! Doutora palhaça! Cuida da sua vida e me deixa com meus problemas. Sempre me dei bem com eles! Nunca precisei de ninguém. Nem de você. Vivia melhor sem você!

COM UM SAFANÃO, O RAPAZ JOGOU A MOÇA SOBRE A CAMA.
INÊS NÃO CONTROLAVA AS LÁGRIMAS. BABY TINHA SAÍDO E O VESTIDO ESTAVA A SEU LADO. BRANCO, VAPOROSO. A MOÇA TOMOU UMA DECISÃO. JÁ SABIA O QUE FAZER.

CORTA PARA:

Baby e Inês

CENA 2  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

BABY BEBIA QUANDO INÊS APARECEU NA ESCADA.

ZORAIDA AVANÇOU ATÉ ELA. SUAS FEIÇÕES ERAM DE UMA BRUXA DESPEITADA.

ZORAIDA  -  Você... tem coragem? Acho que isto vai lhe custar muito caro!

BABY  -  (aproximou-se da mulher) Você acaba de tomar um partido, Inês!

ATIROU O COPO AOS PÉS DA JOVEM E, DANDO MEIA VOLTA, DESAPARECEU PORTA A FORA.

O COMENDADOR SE APROXIMOU, SATISFEITO.

COMENDADOR -   Não se impressione, minha filha. Vamos indo.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PORTO AZUL  -  PRAÇA  -  EXTERIOR  -  NOITE

FICARA TUDO ACERTADO EM DEFINITIVO. CYRO PARTIRIA COM A FAMÍLIA E ESTER E NAQUELA NOITE, OS DOIS, ACOMPANHADOS DE IVANZINHO, FORAM DESPEDIR-SE DO PADRE MIGUEL. NA PRAÇA DA IGREJINHA, ALGUNS MENINOS BRINCAVAM DE ESCONDE-ESCONDE. O GAROTO UNIU-SE A ELES, FELIZ DA VIDA. O PADRE APERTAVA ENTRE AS SUAS AS MÃOS DA BELA SENHORA.

PADRE MIGUEL  -  Vou sentir muito a sua falta, Ester.

ESTER  -  Eu também a sua, padre. Mas o senhor sabe que minha partida, agora, é uma espécie de fuga. Tenho necessidade de deixar, o quanto antes, este lugar.

CYRO CUMPRIMENTOU O REVERENDO E PASSOU AS MÃOS POR SOBRE OS OMBROS DE ESTER.

CYRO  -  Vamos, amor. Minha mãe está nos esperando. Vocês duas vão bancar nora e sogra e vão fazer planos para a mudança...

OS TRÊS RIRAM COM A BRINCADEIRA DO MÉDICO.

PADRE MIGUEL  -  Vai me levar todas as pessoas queridas, Dr. Cyro. Espero que, pelo menos, Dona Bárbara fique em Porto Azul.

CYRO  -  Acho que vai ser difícil separá-la agora de nós, padre. Ela irá, também.

PADRE MIGUEL  -  Dona Bárbara? Olhe, tenho minhas dúvidas. É apegada demais a esta terra...

CYRO  -  Posso apostar como irá. Bem... com licença!

DE REPENTE, JÁ NO CENTRO DA PRACINHA, CYRO PERCEBEU A ESTRANHA LUZ DESCENDO DOS CÉUS. NA SUA MENTE A VISÃO DO MENINO A CORRER. DO MENINO A CORRER. E DE ESTER APAVORADA, PROCURANDO O FILHO. O MÉDICO SE TRANSFORMARA NUMA ESTÁTUA RÍGIDA. COMO NUM ECO A VOZ DE ESTER E JÚLIA A CHAMAR PELO MENINO.

ESTER  -  (off) “Ivan! Ivan! Onde você está, meu filho?”

ESTER SACUDIU O COMPANHEIRO.

ESTER  -  Cyro! Cyro! Está sentindo alguma coisa?

CYRO  -  (voltou a si, como saído de um transe mediúnico) O menino?

ESTER  -  Está aqui. Vamos embora!

CYRO  -  (agarrou o menino pelas mãos, como a convencer-se de sua presença; estava pálido e trêmulo) Vamos!

ESTER  -  (percebeu a transformação sofrida pelo médico) O que foi, Cyro?

CYRO  -  Nada. Vamos indo.

CORTA PARA:

CENA 4  -  PORTO AZUL  -  CASA DE DONA BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA PERCEPTÍVEL O ESTADO DE ESPÍRITO DO RAPAZ AO CHEGAR À VELHA CASA DA AVÓ. ESTER ENCAROU-O, DECIDIDA A SABER A VERDADE.

ESTER  -  Por que não quer me dizer qual foi o mau pensamento que teve na praça?

CYRO  -  Para quê? Esqueça!

ESTER  -  Você não me engana! Você viu alguma coisa, Cyro?

CYRO  -  Não... não vi coisa alguma. Por favor, não entre no rol dos que me tomam por feiticeiro.

ESTER  -  Mas você viu?

CYRO  -  Não, não toque mais nisso. Já lhe pedi pra esquecer, por favor!

CORTA PARA:

CENA 5  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ALGUMAS PESSOAS VIRAVAM-SE DISCRETAMENTE, OUTRAS OSTENSIVAMENTE, À PASSAGEM DO COMENDADOR E DA BELA MOÇA QUE O ACOMPANHAVA.  AUGUSTO LIBERATO ALCANÇOU OS UMBRAIS DA GRANDE PORTA DE ENTRADA DA MANSÃO, TODA ILUMINADA.

LIA E CATARINA APROXIMARAM-SE DO CASAL.

O COMENDADOR FEZ AS APRESENTAÇÕES, ORGULHOSO.

COMENDADOR  -  Esta... é minha nora... Inês. Já devem conhecer.

UM SUSSURRO PERCORREU O AMBIENTE, ENQUANTO, ACANHADA, A JOVEM ENTRAVA NO SALÃO DE RECEPÇÕES, DE BRAÇO COM O MILIONÁRIO E MAIOR ACIONISTA DAS MINAS DE VALONGO.

FIM DO CAPÍTULO 61


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