quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 57


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 57

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Tula  -  Lúcia Alves
Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Lia  -  Arlete Salles

  

CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  RUA  -  EXTERIOR  -  NOITE

A CAMINHO DE CASA BABY RECORDAVA-SE DE UMA CONFISSÃO DE TULA, A PRINCÍPIO CONSIDERADA UM DELÍRIO. A MOÇA ESTAVA COMPLETAMENTE BÊBADA. AGORA, UNINDO OS FARRAPOS DA CONVERSA, BABY COMPREENDIA TUDO. TULA HAVIA DITO QUE MATARA UM HOMEM. QUEM SABE, NÃO SERIA VERDADE? ERA ESSE O SEGREDO QUE RICARDO QUERIA CONSERVAR, PAGANDO PREÇO ALTO. A DÚVIDA DEPENDIA APENAS DO ESCLARECIMENTO DELA. E BABY DIRIGIU O CARRO PARA A RESIDENCIA DO ENGENHEIRO.

TULA APARECEU SEM DEMORA E PARTIRAM JUNTOS PARA UM RESTAURANTE FORA DA CIDADE.

BABY  -  (abrindo a conversa) Preciso muito falar com você. Seu pai andou dando um dinheirão ao Cesário. Quero saber que negócio seu pai tem com meu empregado?

TULA  -  (corando) Eu sei lá! Coisa boa não deve ser, não é? Cesário não vale nada, mesmo!

BABY  -  Outra noite, quando estava bêbada, você andou dizendo coisas que me impressionaram. O que tem a ver uma coisa com a outra?

TULA  -  (controlou-se para não revelar o que a torturava) Que coisa?

BABY  -  (depois de uma manobra rápida no volante) Você disse, para quem quisesse ouvir, que matou um homem!

TULA  -  (atônita) Eu disse isso, é?

BABY  -  Disse.

TULA  -  É... eu acho que não devo beber mais.

BABY  -  Você não tem nada a me explicar sobre isso?

TULA  -  Ora! Você não tem nada com a minha vida, Baby!

BABY  -  Com a sua, não tenho, mesmo. Mas estou pensando em seu pai. Gosto dele! Gosto pra burro. É um cara legal, cem por cento. Meu amigão. Estou encafifado por causa dele. Pensando que algo mais sério está acontecendo. Se Cesário é a pedra no sapato dele, eu dou um jeito no moleque. E lembre-se... o pagamento do dinheirão foi o primeiro. Depois ele vai extorquir mais. Vai deixar vocês na miséria. Eu mesmo vi o cheque e o bolo de notas. Coisa acima de duzentão!

TULA  -  (estremeceu) É melhor você não se meter nisso.

BABY PAROU O CARRO SOB UMA ÁRVORE, Á BEIRA MAR. O SOM DE UM SAMBA RITMADO CHEGAVA AOS OUVIDOS DOS DOIS, PROVENIENTE DO RESTAURANTE DO OUTRO LADO DA ESTRADA.

BABY  -  Vamos lá. Confie em mim. Você é minha amiguinha desde criança. Estou esperando uma confissão.

TULA  -  (levou o caso para a galhofa) Minha culpa, minha máxima culpa. Eu, pecadora, confesso a Deus todo-poderoso... digo, a Baby Liberato. Confesso que, na noite do dia 20 do mês passado, entrei no carro do meu pai, alucinada, porque havia levado um fora daquele tipo à toa do Cesário. Confesso que não vi nada na minha frente. Nem quando aquele negro se atravessou na estrada. Confesso que atropelei e matei aquele homem (começava a sufocar, emocionada) Confesso que tenho penado no fogo do inferno desde aquela noite. Confesso que levei meu pai também ao desespero. Confesso tudo. Confesso que o miserável do Cesário me viu fugir, em seguida. Confesso que ele veio a minha casa e fez chantagem: queria um dinheirão para ficar calado... É só, Padre Baby Liberato, Arcebispo das Minas do Valongo...

TULA CHORAVA DESESPERADA. BABY ACALMOU-A DEITANDO-LHE A CABEÇA CONTRA O OMBRO. A MOÇA SOLUÇAVA EM DESESPERO.

BABY  -  Calma! Calma! Olha pra mim, Tula!

TULA  -  Me leva daqui, Baby!

BABY  -  Não! Vamos ficar. Vamos jantar. Depois eu vou buscar uma solução para tudo isso.

CORTA PARA:


CENA 2  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

OTTO MULLER ENSAIAVA OS PRIMEIROS PASSOS NUM APRENDIZADO DIFÍCIL. DURANTE ALGUNS MINUTOS SE EXERCITARA COM O DR. CYRO VALDEZ. AGORA, DEITADO AO COMPRIDO DA CAMA, DIALOGAVA COM SEU TESTA-DE-FERRO.

OTTO  -  Paulus... tenho ordens a lhe dar acerca de Ester!

PAULUS  -  Ester? O que tem Ester?

OTTO  -  Você já sabia... que ela deixou minha casa levando meu filho?

PAULUS  -  Sabia. E sei de outras coisas mais.

OTTO  -  Você é um incompetente, Paulus! Incompetente. Deixou que as pessoas tomassem conta de você. Deixou Baby Liberato dominar as minas, os empregados... você não presta para nada, Paulus. Nem para administrar, nem para tomar conta dos meus interesses particulares.

ESPICAÇADO PELAS PALAVRAS VEEMENTES DO PATRÃO, O ADVOGADO IRRITOU-SE E PROCUROU JUSTIFICAR-SE. SABIA QUE TUDO FÔRA LEVADO AO CONHECIMENTO DE OTTO MULLER PELA SECRETÁRIA E AMANTE, LIA, E POR DONA CATARINA. NÃO ADIANTAVA MUITO ESCONDER CERTOS FATOS.

PAULUS  -  Como eu podia evitar, Otto? Quanto a Ester, ela tem uma vontade de ferro. Você conhece o gênio dela. E Baby, Baby... já repeti muitas vezes. Ele tem todo o apoio do cunhado! Você sabe disso! Está com toda a força! Qualquer atitude que eu pretenda tomar, os empregados vem em peso, pro lado dele. Ora, Otto, veja bem a minha situação! O que é que eu posso fazer?

OTTO  -  Se fosse um pouquinho mais inteligente, veria a solução clara, à sua frente. Mas você é burro, Paulus, burro demais!

PAULUS  -  Qual... a solução?

OTTO  -  Ora! Se o apoio de Baby é o cunhado, coloque o cunhado contra ele!

PAULUS  -  Não é fácil como você julga, Otto! Quanto a Ester... a dificuldade toda em impedi-la de agir à sua vontade... é que está usando armas muito fortes... Creio que já lhe contaram isso, também. E com essas armas ela pensa que pode desafiar o mundo. Tanto pensa que está com planos de deixar este lugar em companhia do Dr. Cyro, levando a criança. Creio que isso, você ainda não sabe.

OTTO  -  (inteiriçou-se) Deixar... este lugar?

PAULUS  -  É. Deixar o país, talvez. Ou ir mesmo para qualquer outro Estado, em companhia dele. Pretendem se casar, eu sei lá! Já estive falando com ele a esse respeito. Não desmentiu.

OTTO  -  Ester pensa que... pode criar asas, hem? E esse patife do meu médico... continua me traindo!

PAULUS  -  Este sim. Este é que está precisando de uma boa lição. É o causador dessas atitudes de Ester.

LIA  -  (interveio a favor de Cyro) Otto deve a vida a ele. Vocês não devem se envolver com o médico.

OTTO  -  Ele me salvou a vida... e me roubou a mulher!

LIA  -  Por que lhe roubou a mulher? Você ainda a deseja? Não estão separados? Otto, compreenda... Sua vida depende dele.

OTTO  -  Qualquer outro médico pode cuidar de mim!

LIA  -  Não, Otto. Não, neste caso. A responsabilidade é toda dele. Sou testemunha disso. Se quisesse, poderia ter deixado você se danar. E não teria se preocupado em encontrar doador e em realizar o tipo de operação que fez em você. E, quantas noites ficou a seu lado, numa vigília de pai para filho. Não... ele é demais, Otto!

PAULUS  -  Não é como você pensa! Se fosse assim, não estaria fazendo planos de deixar o tratamento para fugir com Ester. Sei que ele vai realizar os planos depois que Otto estiver completamente fora de perigo... quando já estiver em casa.

OTTO  -  O mal é que estou preso... acorrentado, sem ação.

PAULUS  -  Eu ajo por você, Otto! Que ordens tem a me dar, com relação a tudo?

LIA TINHA SE AFASTADO EM BUSCA DE MEDICAÇÃO E OTTO ACHOU CONVENIENTE COMEÇAR POR ELA.

OTTO  -  Olha... trate de providenciar o meu casamento com Lia. Podemos nos casar por procuração, num consulado aí qualquer. Ela faz questão... e eu acho melhor legalizar as coisas. Quanto a Ester... e o menino... tenho também umas ideias... para que ela seja impedida de ir embora... levando-o... para longe de mim.

PAULUS  -  Cuidado com Ester. O argumento dela é bastante sério.

OTTO  -  Você vai procurar Werner Von Muller Leoschen, meu pai. Vai lhe arranjar documentos falsos e... lhe arranjar um emprego.

PAULUS  -  Otto... não estou entendendo! Se o problema é... justamente seu pai, você quer colocá-lo à vista, em lugar de escondê-lo! Você sabe que Ester não está brincando, quando ameaça denunciá-lo...

OTTO  -  (falou pastosamente, já cansado pelo esforço despendido) Eu vou enfrentar Ester... vou arrasá-la... vou machucar... aquela miserável. Escreva... aí... nas suas anotações... Otto... vai... machucar Ester... Otto... vai... destruir... Ester!

FIM DO CAPÍTULO 56



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