Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 63
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Ester - Gloria
Menezes
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Catarina -
Lidia Matos
Lia -
Arlete Sales
CENA 1 - MANSÃO
DE OTTO MULLER - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
DURANTE DOIS DIAS AS INVESTIGAÇÕES PROSSEGUIRAM EM PORTO AZUL
E FLORIANÓPOLIS, COM A POLÍCIA DESENVOLVENDO ESFORÇOS PARA LOCALIZAR DANIEL E O
FILHO DE ESTER. O DELEGADO DA VILA PRAIANA ESTAVA FIRMEMENTE CONVENCIDO DE QUE
O RAPTO DO MENINO LIGAVA-SE AO INCIDENTE DOS MINEIROS. MAS O DR. CYRO VALDEZ
SABIA QUE DANIEL JAMAIS SE UTILIZARIA DE TAL EXPEDIENTE PARA FUGIR ÀS
RESPONSABILIDADES. APENAS UMA PESSOA, APESAR DE GRAVEMENTE ENFÊRMA, E PODENDO
MORRER A QUALQUER INSTANTE, TERIA RAZÕES PARA LEVAR ESTER À LOUCURA OU, PELO
MENOS, TRAUMATIZÁ-LA SÀDICAMENTE: OTTO MULLER. CYRO SABIA DISSO E, ENQUANTO AS
INICIATIVAS POLICIAIS ENCAMINHAVAM-SE PARA O LADO MAIS FRACO, PARA O HUMILDE
MINEIRO DE PORTO AZUL, O MÉDICO RESOLVEU AGIR PESSOALMENTE. TENTARIA ACHAR O
FIO DA MEADA A PARTIR DO DOENTIO EX-MARIDO DE ESTER.
CYRO - Podem me deixar sozinho com ele?
OS FAMILIARES DE OTTO MULLER ABANDONARAM O QUARTO. O
CIRURGIÃO OBSERVOU O HOMEM ESTENDIDO NA CAMA, COM FUNDAS OLHEIRAS E LÁBIOS
TRÊMULOS. SEU ASPECTO ERA DE SOFRIMENTO E TERROR.
CYRO - De que tem
medo, Sr. Otto?
OTTO - (balbuciou) De morrer. Eu não quero morrer!
CYRO - Olhe bem para mim. Vou hipnotizá-lo. O senhor
vai dormir... para despertar bem... e livre de qualquer aflição... ou medo.
OTTO - Vou dormir?
CYRO - Olhe para mim, Sr. Otto! Sem receio. Olhe bem
para meus olhos... apenas para meus olhos... vai dormir serenamente...
calmamente. O senhor está dormindo, Sr. Otto... está dormindo. (os pequenos
olhos do alemão tornaram -se diminutos,
e se fecharam
num sono profundo) Quando eu mandar... vai abrir os olhos... e vai confiar em
mim... vai desabafar as suas razões de aflição... de emoção... de medo. Vai me
dizer tudo... que eu quero saber, Sr. Otto! Vamos, agora! (imediatamente os
olhos de Otto se abriram) O senhor é um homem muito forte, alegre. Ande,
normalmente, sem qualquer dor, Sr. Otto! (o homem obedeceu à ordem do médico e
andou lépido pelo quarto) Por que não gosta de Ivanzinho?
OTTO - Ele não é meu filho... Não tenho motivos para
gostar. Também não o desprezo.
CYRO - Mandou raptar o menino?
OTTO - Mandei. Mandei, sim!
CYRO - Onde mandou escondê-lo? (Otto mantinha-se
sorridente) Onde está Ivan, Sr. Otto? Onde?
OTTO - Eu não sei onde ele está.
CYRO - Dr. Paulus sabe?
OTTO - Paulus sabe.
CYRO - (segurou as mãos do paciente, com firmeza e
fixou-lhe os olhos) Você vai mudar de idéia... Vai mandar Paulus entregar a
criança a Ester... porque isso vai lhe fazer bem. Vai se livrar deste peso que
está afligindo sua consciência.
OTTO - (desculpou-se como um menino de escola diante
do professor) Eu só queria castigar Ester. Mas já está me perturbando... a
criança... penso muito na criança.
CYRO CONDUZIU-O PELA MÃO ATÉ A POLTRONA, FORÇANDO-O A
SENTAR-SE. CERROU-LHE OS OLHOS COM UM MOVIMENTO DE DEDOS.
CYRO - Quando acordar, não se recordará de nada do
que se passou aqui. Vai sentir apenas um grande alívio. Vai ficar calmo,
confiante... porque vai encontrar, por si mesmo, a solução para aliviar o seu
remorso. Vai mandar devolver o filho de Ester. É uma ordem, ouviu?
OTTO - (balançou a cabeça) Vou mandar entregar o
filho de Ester.
CYRO - Quando acordar, não se lembrará de nada. Nada
do que acaba de acontecer aqui... entre nós. Isto vai sumir da sua mente para
toda a vida.
OTTO - Não vou me recordar de nada.
CYRO FEZ UMA BREVE PAUSA E ESTALOU OS DEDOS, DIANTE DO ROSTO
DO PACIENTE.
CYRO - Acorde, Sr. Otto!
OTTO - (abriu os olhos, com lentidão) Eu dormi?
CYRO - Sente-se bem, Sr. Otto?
OTTO - Estou bem... é... estou bem melhor. Mais
aliviado. O que foi que o senhor fez?
CYRO - Eu... apenas o convenci de que se vencer o
nervosismo, poderá ser um homem normal.
O MÉDICO ALEGRAVA-SE DE TER CONFIRMADO SUA SUPOSIÇÃO DE QUE O
MISTÉRIO DO DESAPARECIMENTO DE IVANZINHO PODERIA SER SOLUCIONADO COM OTTO
MULLER.
CENA 2 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR
- DIA
CATARINA - (ar de felicidade) Imaginem, Dr. Cyro
conseguiu restabelecer o bom humor de Otto! Foi explêndido! Magnífico!
LIA - É mesmo! Otto melhorou.
CYRO - É... ele estava apenas nervoso. Eu o convenci
de que não está correndo perigo de vida, no momento!
CATARINA - (não se continha de contentamento) Dr. Cyro
hipnotizou Otto! Imaginem! Foi divino! Entrei no quarto e ele estava
sorrindo... parecia outro!
DE PÉ, PRÓXIMO À PORTA, PAULUS JUNTAVA AS PEÇAS DA HISTÓRIA.
PERCEBIA ATÉ ONDE FÔRA CYRO, HOMEM INTELIGENTE.
PAULUS - Dr. Cyro... hipnotizou?
CYRO - É... costuma-se fazer isso... para
sugestionar o doente. É claro que não é método comum. Mas é... infalível!
(olhou para a cara cínica do advogado) O senhor delegado trouxe alguma notícia
do menino?
CORTA PARA:
CENA 3 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
TODOS TINHAM DEIXADO O QUARTO. MENOS O PROCURADOR DE OTTO MULLER.
QUERIA CONVERSAR A SÓS COM O PATRÃO.
OTTO - (foi direto ao assunto) Paulus... quero que
você entregue o menino a Ester!
PAULUS - (admirou-se da decisão inesperada) Otto... a
princípio fui contra... e você bem sabe... tive pena de Ester. Mas, agora,
estou achando que devemos manter o menino desaparecido para que o cunhado de
Baby pague por isso. É uma desmoralização... inclusive para o próprio Baby!
UMA FORÇA SUPERIOR AOS SEUS PROPÓSITOS COMANDAVA OS
PENSAMENTOS DE OTTO MULLER.
OTTO - Penso mais na criança. Afinal... estamos
sacrificando um pobre menino inocente.
PAULUS - Tive notícias dele. Está ótimo. Faz perguntas
sobre a mãe, mas a mulher que toma conta dele já lhe prometeu que vai vê-la
logo. E ele voltou a brincar, e a comer normalmente.
OTTO - Ainda assim, Paulus... eu quero que tragam o
menino de volta.
PAULUS - Você mudou, Otto! Foi você quem me convenceu
a fazer isso... e agora quer voltar atrás!
OTTO - Talvez. Mas eu estava sendo torturado. Não é
por nada. É mais pela criança. (Paulus ainda ia argumentar, mas Otto cortou a
tempo) Não insista! Amanhã... faça aparecer o menino na casa de Ester! É uma
ordem!
PAULUS LEMBROU-SE DA PRESENÇA DE CYRO VALDEZ E DA SESSÃO DE
HIPNOTISMO.
PAULUS - Foi aquele doutorzinho feiticeiro... quem o
convenceu, Otto!
OTTO - (sentou-se na cama) Você está sonhando!
PAULUS - Você se deixou hipnotizar por ele. Ele
enfeitiçou você! Com certeza disse a ele tudo o que ele queria saber!
OTTO - Não fiz nada disso! Eu não diria a ele aquilo
que não quero!
PAULUS - Mas estava com muito remorso. Ele arrancou a
verdade do seu subconsciente, porque você queria confessar a alguém! E disse
justamente a ele!
PELA PRIMEIRA VEZ UMA CHAMA BRILHOU NA MENTE DO HOMEM. E ELE
VERIFICOU QUE AS PALAVRAS DO AMIGO NÃO ERAM DE DESPREZAR. TALVEZ TUDO SE
TIVESSE PASSADO COMO ELE ESTAVA RELATANDO. UMA HIPÓTESE, SIM, MAS MUITO
PROVÁVEL.
OTTO - Paulus... será possível?
PAULUS - Tá na cara, Otto!
OTTO - Se ele arrancou a verdade do meu
subconsciente, o que vamos fazer?
PAULUS - Só podemos desmenti-lo... e acusá-lo de
feitiçaria!
CORTA PARA:
CENA 4 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER
- QUARTO -
INTERIOR - NOITE
ESTER DORMIA, MAS O ASSUNTO ERA POR DEMAIS URGENTE PARA CYRO
ADIÁ-LO PARA O OUTRO DIA. ELA PRECISAVA TOMAR CONHECIMENTO IMEDIATO. SOFRERIA
MENOS, TENDO UMA ESPERANÇA.
CYRO - (sacudindo-a na cama) Ester...
ESTER - (acordou, atônita, espantada) Cyro! E Ivan?
CYRO - (alisou-lhe a fronte) Eu sei quem o separou
de você. Consegui saber... e não aprovo muito o método que tive de usar.
ESTER - Quem foi?
CYRO - Paulus.(Ester respirou fundo) A mando de
Otto. Eu creio que, amanhã, você terá seu filho de volta.
ESTER ATIROU-SE NOS BRAÇOS DO AMANTE, LOUCA DE ALEGRIA.POR
INSTANTES, ESQUECERAM-SE DE SUAS PREOCUPAÇÕES E BEIJARAM-SE LONGAMENTE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário