quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 63


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 63

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Catarina  -  Lidia Matos
Lia  -  Arlete Sales



CENA 1  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

DURANTE DOIS DIAS AS INVESTIGAÇÕES PROSSEGUIRAM EM PORTO AZUL E FLORIANÓPOLIS, COM A POLÍCIA DESENVOLVENDO ESFORÇOS PARA LOCALIZAR DANIEL E O FILHO DE ESTER. O DELEGADO DA VILA PRAIANA ESTAVA FIRMEMENTE CONVENCIDO DE QUE O RAPTO DO MENINO LIGAVA-SE AO INCIDENTE DOS MINEIROS. MAS O DR. CYRO VALDEZ SABIA QUE DANIEL JAMAIS SE UTILIZARIA DE TAL EXPEDIENTE PARA FUGIR ÀS RESPONSABILIDADES. APENAS UMA PESSOA, APESAR DE GRAVEMENTE ENFÊRMA, E PODENDO MORRER A QUALQUER INSTANTE, TERIA RAZÕES PARA LEVAR ESTER À LOUCURA OU, PELO MENOS, TRAUMATIZÁ-LA SÀDICAMENTE: OTTO MULLER. CYRO SABIA DISSO E, ENQUANTO AS INICIATIVAS POLICIAIS ENCAMINHAVAM-SE PARA O LADO MAIS FRACO, PARA O HUMILDE MINEIRO DE PORTO AZUL, O MÉDICO RESOLVEU AGIR PESSOALMENTE. TENTARIA ACHAR O FIO DA MEADA A PARTIR DO DOENTIO EX-MARIDO DE ESTER.

CYRO  -  Podem me deixar sozinho com ele?

OS FAMILIARES DE OTTO MULLER ABANDONARAM O QUARTO. O CIRURGIÃO OBSERVOU O HOMEM ESTENDIDO NA CAMA, COM FUNDAS OLHEIRAS E LÁBIOS TRÊMULOS. SEU ASPECTO ERA DE SOFRIMENTO E TERROR.

CYRO  - De que tem medo, Sr. Otto?

OTTO  -  (balbuciou) De morrer. Eu não quero morrer!

CYRO  -  Olhe bem para mim. Vou hipnotizá-lo. O senhor vai dormir... para despertar bem... e livre de qualquer aflição... ou medo.

OTTO  -  Vou dormir?

CYRO  -  Olhe para mim, Sr. Otto! Sem receio. Olhe bem para meus olhos... apenas para meus olhos... vai dormir serenamente... calmamente. O senhor está dormindo, Sr. Otto... está dormindo. (os pequenos olhos do alemão  tornaram -se  diminutos,  e  se  fecharam  num  sono  profundo)  Quando eu mandar... vai abrir os olhos... e vai confiar em mim... vai desabafar as suas razões de aflição... de emoção... de medo. Vai me dizer tudo... que eu quero saber, Sr. Otto! Vamos, agora! (imediatamente os olhos de Otto se abriram) O senhor é um homem muito forte, alegre. Ande, normalmente, sem qualquer dor, Sr. Otto! (o homem obedeceu à ordem do médico e andou lépido pelo quarto) Por que não gosta de Ivanzinho?

OTTO  -  Ele não é meu filho... Não tenho motivos para gostar. Também não o desprezo.

CYRO  -  Mandou raptar o menino?

OTTO   -  Mandei. Mandei, sim!

CYRO  -  Onde mandou escondê-lo? (Otto mantinha-se sorridente) Onde está Ivan, Sr. Otto? Onde?

OTTO  -  Eu não sei onde ele está.

CYRO  -  Dr. Paulus sabe?

OTTO  -  Paulus sabe.

CYRO  -  (segurou as mãos do paciente, com firmeza e fixou-lhe os olhos) Você vai mudar de idéia... Vai mandar Paulus entregar a criança a Ester... porque isso vai lhe fazer bem. Vai se livrar deste peso que está afligindo sua consciência.

OTTO  -  (desculpou-se como um menino de escola diante do professor) Eu só queria castigar Ester. Mas já está me perturbando... a criança... penso muito na criança.

CYRO CONDUZIU-O PELA MÃO ATÉ A POLTRONA, FORÇANDO-O A SENTAR-SE. CERROU-LHE OS OLHOS COM UM MOVIMENTO DE DEDOS.

CYRO  -  Quando acordar, não se recordará de nada do que se passou aqui. Vai sentir apenas um grande alívio. Vai ficar calmo, confiante... porque vai  encontrar, por si mesmo, a solução para aliviar o seu remorso. Vai mandar devolver o filho de Ester. É uma ordem, ouviu?

OTTO  -  (balançou a cabeça) Vou mandar entregar o filho de Ester.

CYRO  -  Quando acordar, não se lembrará de nada. Nada do que acaba de acontecer aqui... entre nós. Isto vai sumir da sua mente para toda a vida.

OTTO  -  Não vou me recordar de nada.

CYRO FEZ UMA BREVE PAUSA E ESTALOU OS DEDOS, DIANTE DO ROSTO DO PACIENTE.

CYRO  -  Acorde, Sr. Otto!

OTTO  -  (abriu os olhos, com lentidão) Eu dormi?

CYRO  -  Sente-se bem, Sr. Otto?

OTTO  -  Estou bem... é... estou bem melhor. Mais aliviado. O que foi que o senhor fez?

CYRO  -  Eu... apenas o convenci de que se vencer o nervosismo, poderá ser um homem normal.

O MÉDICO ALEGRAVA-SE DE TER CONFIRMADO SUA SUPOSIÇÃO DE QUE O MISTÉRIO DO DESAPARECIMENTO DE IVANZINHO PODERIA SER SOLUCIONADO COM OTTO MULLER.

CORTA PARA:


CENA 2  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

CATARINA  -  (ar de felicidade) Imaginem, Dr. Cyro conseguiu restabelecer o bom humor de Otto! Foi explêndido! Magnífico!

LIA  -  É mesmo! Otto melhorou.

CYRO  -  É... ele estava apenas nervoso. Eu o convenci de que não está correndo perigo de vida, no momento!

CATARINA  -  (não se continha de contentamento) Dr. Cyro hipnotizou Otto! Imaginem! Foi divino! Entrei no quarto e ele estava sorrindo... parecia outro!

DE PÉ, PRÓXIMO À PORTA, PAULUS JUNTAVA AS PEÇAS DA HISTÓRIA. PERCEBIA ATÉ ONDE FÔRA CYRO, HOMEM INTELIGENTE.

PAULUS  -  Dr. Cyro... hipnotizou?

CYRO  -  É... costuma-se fazer isso... para sugestionar o doente. É claro que não é método comum. Mas é... infalível! (olhou para a cara cínica do advogado) O senhor delegado trouxe alguma notícia do menino?

CORTA PARA:

CENA 3  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

TODOS TINHAM DEIXADO O QUARTO. MENOS O PROCURADOR DE OTTO MULLER. QUERIA CONVERSAR A SÓS COM O PATRÃO.

OTTO  -  (foi direto ao assunto) Paulus... quero que você entregue o menino a Ester!

PAULUS  -  (admirou-se da decisão inesperada) Otto... a princípio fui contra... e você bem sabe... tive pena de Ester. Mas, agora, estou achando que devemos manter o menino desaparecido para que o cunhado de Baby pague por isso. É uma desmoralização... inclusive para o próprio Baby!

UMA FORÇA SUPERIOR AOS SEUS PROPÓSITOS COMANDAVA OS PENSAMENTOS DE OTTO MULLER.

OTTO  -  Penso mais na criança. Afinal... estamos sacrificando um pobre menino inocente.

PAULUS  -  Tive notícias dele. Está ótimo. Faz perguntas sobre a mãe, mas a mulher que toma conta dele já lhe prometeu que vai vê-la logo. E ele voltou a brincar, e a comer normalmente.

OTTO  -  Ainda assim, Paulus... eu quero que tragam o menino de volta.

PAULUS  -  Você mudou, Otto! Foi você quem me convenceu a fazer isso... e agora quer voltar atrás!

OTTO  -  Talvez. Mas eu estava sendo torturado. Não é por nada. É mais pela criança. (Paulus ainda ia argumentar, mas Otto cortou a tempo) Não insista! Amanhã... faça aparecer o menino na casa de Ester! É uma ordem!

PAULUS LEMBROU-SE DA PRESENÇA DE CYRO VALDEZ E DA SESSÃO DE HIPNOTISMO.

PAULUS  -  Foi aquele doutorzinho feiticeiro... quem o convenceu, Otto!

OTTO  -  (sentou-se na cama) Você está sonhando!

PAULUS  -  Você se deixou hipnotizar por ele. Ele enfeitiçou você! Com certeza disse a ele tudo o que ele queria saber!

OTTO  -  Não fiz nada disso! Eu não diria a ele aquilo que não quero!

PAULUS  -  Mas estava com muito remorso. Ele arrancou a verdade do seu subconsciente, porque você queria confessar a alguém! E disse justamente a ele!

PELA PRIMEIRA VEZ UMA CHAMA BRILHOU NA MENTE DO HOMEM. E ELE VERIFICOU QUE AS PALAVRAS DO AMIGO NÃO ERAM DE DESPREZAR. TALVEZ TUDO SE TIVESSE PASSADO COMO ELE ESTAVA RELATANDO. UMA HIPÓTESE, SIM, MAS MUITO PROVÁVEL.

OTTO  -  Paulus... será possível?

PAULUS  -  Tá na cara, Otto!

OTTO  -  Se ele arrancou a verdade do meu subconsciente, o que vamos fazer?

PAULUS  -  Só podemos desmenti-lo... e acusá-lo de feitiçaria!

CORTA PARA:

CENA 4  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  QUARTO  -  INTERIOR  -  NOITE

ESTER DORMIA, MAS O ASSUNTO ERA POR DEMAIS URGENTE PARA CYRO ADIÁ-LO PARA O OUTRO DIA. ELA PRECISAVA TOMAR CONHECIMENTO IMEDIATO. SOFRERIA MENOS, TENDO UMA ESPERANÇA.

CYRO  -  (sacudindo-a na cama) Ester...

ESTER  -  (acordou, atônita, espantada) Cyro! E Ivan?

CYRO  -  (alisou-lhe a fronte) Eu sei quem o separou de você. Consegui saber... e não aprovo muito o método que tive de usar.

ESTER  -  Quem foi?

CYRO  -  Paulus.(Ester respirou fundo) A mando de Otto. Eu creio que, amanhã, você terá seu filho de volta.

ESTER ATIROU-SE NOS BRAÇOS DO AMANTE, LOUCA DE ALEGRIA.POR INSTANTES, ESQUECERAM-SE DE SUAS PREOCUPAÇÕES E BEIJARAM-SE LONGAMENTE.

FIM DO CAPÍTULO 63


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