domingo, 14 de setembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 58


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 58

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabela
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Cyro  -  Tarcísio Meira
Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Lia  -  Arlete Sales
Delegado  -  Vinicius Salvatori


CENA 1  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

PAULUS VOLTOU NO DIA SEGUINTE. EUFÓRICO.

PAULUS  -  Tomei todas as informações. Seu casamento com Lia pode ser realizado através do consulado brasileiro, na Bolívia. Trouxe aqui todas as informações.

CYRO  -  (tomava a pressão do paciente, ordenou, seco) Quer fazer o favor de calar a boca?

OTTO  -  O que ele está falando é muito importante para mim, doutor. Mas... deixe isso pra depois, Paulus.

O MÉDICO CONCLUIU OS EXAMES E DEITOU OLHOS ÀS FOLHAS DA FICHA MÉDICA QUE A ENFERMEIRA LHE ENTREGOU. TUDO EM ORDEM.

PAULUS  -  (com humildade, os olhos brilhantes) Posso falar agora, doutor?

CYRO  -  (seco) Pode.

PAULUS  -  Bem... o casamento será legalizado pelo consulado brasileiro. Quero só alguns documentos...

OTTO  -  Peça a mamãe. Ela lhe dará tudo. Em quanto tempo eles tratam de tudo?

PAULUS  -  O prazo é de um mês. O preço...

OTTO  -  (cortou) O preço não importa. (voltou-se para o médico, que estava de costas em diálogo com a enfermeira) Dr. Cyro... quando voltarei para casa?

CYRO  -  (fitou-o com ar grave) Dentro de alguns dias... se tudo continuar correndo bem. Mas isto não impede que o senhor seja obrigado a voltar a qualquer momento para este hospital.

OTTO  -  O que está dizendo? Vai me enganar que vou ser escravo deste hospital?

CYRO  -  Volto a repetir que a rejeição do órgão estranho ao organismo pode se dar a qualquer momento. Neste caso, o senhor terá de ser internado, imediatamente. Até agora é o único problema, nos transplantes, para o qual a medicina ainda não encontrou solução.

OTTO  -  (perguntou, medrosamente) E eu... poderei... morrer?

CYRO  -  (com franqueza) Exatamente, se não for atendido a tempo.

OTTO  -  Então... minha vida... será uma eterna escravidão!

CYRO  -  Sim. Sua vida será uma eterna escravidão. Infelizmente, sou obrigado a lhe dizer que o senhor está escravizado a mim... que sou responsável por sua vida.

OTTO  -  Ao senhor? Só ao senhor?

CYRO  -  Só a mim. Se eu morrer... o senhor também ficará condenado, Sr. Otto!

OTTO  -  (amedrontado) E quem lhe disse que o senhor vai morrer?

CYRO  -  Gostaria de lhe comunicar que... ontem á noite fui vítima de um covarde atentado a bala. Atiraram contra mim.

OTTO  -  (empalideceu) Atiraram... contra o senhor? Mas isto é terrível! Não deu parte à polícia?

CYRO  -  Sim... é uma idéia... vou dar queixa á polícia.

PAULUS  -  (deu alguns passos em direção ao médico) Desculpe-me interferir, mas... o senhor acaba de dizer que a vida de Otto Muller depende de sua vida. Não é isso?

CYRO  -  E confirmo!

PAULUS  -  Não será uma incoerência? Afinal, estamos sabendo que o senhor pretende deixar esta cidade...

CYRO  -  Não ia deixar o país, ia deixar o Estado. Poderia ser chamado para qualquer emergência. Eu não ia fugir, Dr. Paulus. Ia me afastar dos aborrecimentos... e de atentados... como o de ontem á noite. Aqui... parece que tenho inimigos ocultos. (fez uma pausa e despediu-se) Com licença.

OTTO  -  (quase berrou, trêmulo de medo, ante a perspectiva da morte do médico) Quem foi... o cretino, imbecil, que tentou contra a vida desse homem?

PAULUS  -  Eu é que vou saber, Otto?    
                   
OTTO  -  Você entendeu mal as minhas palavras. Eu não posso querer mal a esse homem. Eu vou derrubar Ester, mas não posso derrubar o Dr. Cyro. Ele é o fiador da minha vida! Se ele morrer, eu morro também. Compreende? Portanto... você deve ter cuidado com seus atos!

PAULUS  -  Pois bem... deixo-o fugir de uma vez com Ester, levando o seu filho... só porque você deve a vida a ele.

PAULUS SAIU, VISIVELMENTE ALTERADO, BATENDO A PORTA COM FORÇA.

OTTO  -  (gritou para Lia, sentada na cadeira á beira da cama) Chame aquele imbecil! Chame aquele imbecil!

CORTA PARA:


CENA 2  -  ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS  -  ESCRITÓRIO DE BABY  -  INTERIOR  -  DIA

CESÁRIO FÔRA CHAMADO NO SUBSOLO DA MINA POR UM DOS EMPREGADOS DO ESCRITÓRIO. BABY LIBERATO DESEJAVA FALAR-LHE COM URGÊNCIA.

AGORA, NA PEQUENA SALA, DIANTE DO PRESIDENTE DAS MINAS, CESÁRIO PRESSENTIA QUE ALGO DE GRAVE IA ACONTECER. RICARDO, MAIS AO FUNDO, REBUSCAVA ALGUMAS FICHAS COM MOVIMENTOS AUTOMÁTICOS.

CESÁRIO  -  Quer falar comigo, patrão?

BABY  -  Quero sim. Para lhe dizer que a partir de hoje você está despedido desta Companhia!

CESÁRIO, INCONTINENTI, DIRIGIU O OLHAR PARA O ENGENHEIRO, DE COSTAS, POR TRÁS DO PRESIDENTE.

CESÁRIO  -  Foi ele... que me... mandou despedir?

BABY  -  Não. Eu mesmo decidi. Por quê? Não me acha capaz de tomar uma decisão?

CESÁRIO  -  É que ele... ele é que tem motivos para me mandar embora! O senhor não tem nada contra mim!

BABY  -  Não sei o que está acontecendo entre você e o Dr. Ricardo. Só sei que você não interessa mais à Companhia. Aqui está seu ordenado... sua carteira... Aliás, você agora está cheio da grana, não precisa dar duro no fundo das galerias...

BABY ENTREGOU-LHE UM ENVELOPE PARDO COM O DINHEIRO E OS DOCUMENTOS. CESÁRIO RESMUNGOU QUALQUER COISA ININTELIGÍVEL.

BABY  -  (fitou-o, enojado) Tudo certinho? Você não fez tempo de casa... mas pode se queixar no Ministério do Trabalho, se achar que tem direito. Estou disposto a enfrentar qualquer situação... porque a verdade... é que não quero mais ver a tua cara por aqui. Agora, suma. Detesto chantagistas.

CESÁRIO  -  Eu só queria...

BABY  -  (alterou-se, erguendo-se da cadeira estofada) Não diga mais nada! Desapareça!

CESÁRIO  -  Tá bem. Mas esse cara vai pagar por isso. Juro que vai!

RICARDO  -  Se você fizer algo contra mim... ou contra minha filha... será um homem morto!

CESÁRIO SAIU DESATINADO, SEM OLHAR PARA TRÁS.

RICARDO  -  Ele é bem capaz...

BABY  -  (cortou) ... não é capaz de nada! O que ele vai fazer é pedir emprego ao Paulus! E o que vai acontecer é que ele vai ficar do lado de lá. Só isso. Mais nada! Você tem de me ajudar a ficar livre desse patife, Ricardo!

RICARDO  -  Mas... a minha filha... se ele delatar a minha filha, Baby?

CORTA PARA:

CENA 3  -  DELEGACIA DE VALONGO  -  INTERIOR  -  DIA

UM ESTALO! SÓ UM ESTALO PODERIA LEVAR BABY A TOMAR A DECISÃO DE SEGUIR O EX-CAPATAZ. VIU QUANDO O CHANTAGISTA ENTROU NA DELEGACIA, DEPOIS DE DESCER A PÉ A RUA PRINCIPAL DE VALONGO.

CESÁRIO -  (abriu a porta do distrito e anunciou) Seu delegado, quero falar com o senhor. Tenho uma revelação importante, muito importante, a lhe fazer!

BABY ABRIU A PORTA POR TRÁS DO HOMEM E COMPLETOU O QUADRO.

BABY  -  Eu também, seu delegado. Eu também tenho uma revelação importante.

CESÁRIO VIROU-SE COM AGILIDADE, DANDO DE CARA COM O EX-PATRÃO.

DELEGADO  -  (levantou-se, intrigado) Pois bem! Vocês dois tem uma revelação. Que revelação? Vamos a ela!

BABY  -  (falou primeiro) Eu quero, seu delegado, denunciar um cara muito sem-vergonha, que está fazendo chantagem com um amigo meu!

CESÁRIO  -  (berrou, acovardado) Seu Baby! Vamos parar por aqui!

O DELEGADO DEIXOU A MESA CHEIA DE PAPÉIS E APROXIMOU-SE DOS DOIS HOMENS.

DELEGADO  -  Muito bem. Um cara está fazendo chantagem. Quem é ele? Me diga que eu boto as mãos nele, seu Baby. Tenho nojo desse tipo de gente!

CESÁRIO CORREU A MÃO PELO PESCOÇO. UM SUOR FRIO CORRIA-LHE PELO CORPO.

BABY  -  Cesário também conhece. Ele vinha lhe dizer a mesma coisa. Não é verdade, Cesário? Nós apostamos... quem chegaria primeiro... para revelar o nome do bandido. Mas, pensando bem, eu deixo que ele mesmo diga. Afinal, sou pelo direito. Ele chegou na minha frente!

DELEGADO  -  (autoritário) Qual é o nome do cara, Cesário?

CESÁRIO EMUDECERA.

BABY  -  (estimulou-o) Estou mandando, rapaz. Diga o nome do sujeito que anda explorando o nosso amigo!

FIM DO CAPÍTULO 58




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