Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 58
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabela
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Cyro -
Tarcísio Meira
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Lia -
Arlete Sales
Delegado -
Vinicius Salvatori
CENA 1 - HOSPITAL -
QUARTO DE OTTO - INTERIOR
- DIA
PAULUS VOLTOU NO DIA SEGUINTE. EUFÓRICO.
PAULUS - Tomei todas as informações. Seu casamento com
Lia pode ser realizado através do consulado brasileiro, na Bolívia. Trouxe aqui
todas as informações.
CYRO - (tomava a pressão do paciente, ordenou, seco)
Quer fazer o favor de calar a boca?
OTTO - O que ele está falando é muito importante
para mim, doutor. Mas... deixe isso pra depois, Paulus.
O MÉDICO CONCLUIU OS EXAMES E DEITOU OLHOS ÀS FOLHAS DA FICHA
MÉDICA QUE A ENFERMEIRA LHE ENTREGOU. TUDO EM ORDEM.
PAULUS - (com humildade, os olhos brilhantes) Posso
falar agora, doutor?
CYRO - (seco) Pode.
PAULUS - Bem... o casamento será legalizado pelo
consulado brasileiro. Quero só alguns documentos...
OTTO - Peça a mamãe. Ela lhe dará tudo. Em quanto
tempo eles tratam de tudo?
PAULUS - O prazo é de um mês. O preço...
OTTO - (cortou) O preço não importa. (voltou-se para
o médico, que estava de costas em diálogo com a enfermeira) Dr. Cyro... quando
voltarei para casa?
CYRO - (fitou-o com ar grave) Dentro de alguns
dias... se tudo continuar correndo bem. Mas isto não impede que o senhor seja
obrigado a voltar a qualquer momento para este hospital.
OTTO - O que está dizendo? Vai me enganar que vou
ser escravo deste hospital?
CYRO - Volto a repetir que a rejeição do órgão
estranho ao organismo pode se dar a qualquer momento. Neste caso, o senhor terá
de ser internado, imediatamente. Até agora é o único problema, nos
transplantes, para o qual a medicina ainda não encontrou solução.
OTTO - (perguntou, medrosamente) E eu... poderei...
morrer?
CYRO - (com franqueza) Exatamente, se não for
atendido a tempo.
OTTO - Então... minha vida... será uma eterna
escravidão!
CYRO - Sim. Sua vida será uma eterna escravidão.
Infelizmente, sou obrigado a lhe dizer que o senhor está escravizado a mim...
que sou responsável por sua vida.
OTTO - Ao senhor? Só ao senhor?
CYRO - Só a mim. Se eu morrer... o senhor também
ficará condenado, Sr. Otto!
OTTO - (amedrontado) E quem lhe disse que o senhor
vai morrer?
CYRO - Gostaria de lhe comunicar que... ontem á noite
fui vítima de um covarde atentado a bala. Atiraram contra mim.
OTTO - (empalideceu) Atiraram... contra o senhor?
Mas isto é terrível! Não deu parte à polícia?
CYRO - Sim... é uma idéia... vou dar queixa á
polícia.
PAULUS - (deu alguns passos em direção ao médico)
Desculpe-me interferir, mas... o senhor acaba de dizer que a vida de Otto
Muller depende de sua vida. Não é isso?
CYRO - E confirmo!
PAULUS - Não será uma incoerência? Afinal, estamos
sabendo que o senhor pretende deixar esta cidade...
CYRO - Não ia deixar o país, ia deixar o Estado. Poderia
ser chamado para qualquer emergência. Eu não ia fugir, Dr. Paulus. Ia me
afastar dos aborrecimentos... e de atentados... como o de ontem á noite.
Aqui... parece que tenho inimigos ocultos. (fez uma pausa e despediu-se) Com
licença.
OTTO - (quase berrou, trêmulo de medo, ante a
perspectiva da morte do médico) Quem foi... o cretino, imbecil, que tentou
contra a vida desse homem?
PAULUS - Eu é que vou saber, Otto?
OTTO - Você entendeu mal as minhas palavras. Eu não
posso querer mal a esse homem. Eu vou derrubar Ester, mas não posso derrubar o
Dr. Cyro. Ele é o fiador da minha vida! Se ele morrer, eu morro também.
Compreende? Portanto... você deve ter cuidado com seus atos!
PAULUS - Pois bem... deixo-o fugir de uma vez com
Ester, levando o seu filho... só porque você deve a vida a ele.
PAULUS SAIU, VISIVELMENTE ALTERADO, BATENDO A PORTA COM
FORÇA.
OTTO - (gritou para Lia, sentada na cadeira á beira
da cama) Chame aquele imbecil! Chame aquele imbecil!
CORTA PARA:
CENA 2 -
ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS - ESCRITÓRIO DE BABY -
INTERIOR - DIA
CESÁRIO FÔRA CHAMADO NO SUBSOLO DA MINA POR UM DOS EMPREGADOS
DO ESCRITÓRIO. BABY LIBERATO DESEJAVA FALAR-LHE COM URGÊNCIA.
AGORA, NA PEQUENA SALA, DIANTE DO PRESIDENTE DAS MINAS,
CESÁRIO PRESSENTIA QUE ALGO DE GRAVE IA ACONTECER. RICARDO, MAIS AO FUNDO,
REBUSCAVA ALGUMAS FICHAS COM MOVIMENTOS AUTOMÁTICOS.
CESÁRIO - Quer falar comigo, patrão?
BABY - Quero sim. Para lhe dizer que a partir de hoje
você está despedido desta Companhia!
CESÁRIO, INCONTINENTI, DIRIGIU O OLHAR PARA O ENGENHEIRO, DE
COSTAS, POR TRÁS DO PRESIDENTE.
CESÁRIO - Foi ele... que me... mandou despedir?
BABY - Não. Eu mesmo decidi. Por quê? Não me acha
capaz de tomar uma decisão?
CESÁRIO - É que ele... ele é que tem motivos para me
mandar embora! O senhor não tem nada contra mim!
BABY - Não sei o que está acontecendo entre você e o
Dr. Ricardo. Só sei que você não interessa mais à Companhia. Aqui está seu
ordenado... sua carteira... Aliás, você agora está cheio da grana, não precisa
dar duro no fundo das galerias...
BABY ENTREGOU-LHE UM ENVELOPE PARDO COM O DINHEIRO E OS
DOCUMENTOS. CESÁRIO RESMUNGOU QUALQUER COISA ININTELIGÍVEL.
BABY - (fitou-o, enojado) Tudo certinho? Você não
fez tempo de casa... mas pode se queixar no Ministério do Trabalho, se achar
que tem direito. Estou disposto a enfrentar qualquer situação... porque a
verdade... é que não quero mais ver a tua cara por aqui. Agora, suma. Detesto
chantagistas.
CESÁRIO - Eu só queria...
BABY - (alterou-se, erguendo-se da cadeira estofada)
Não diga mais nada! Desapareça!
CESÁRIO - Tá bem. Mas esse cara vai pagar por isso.
Juro que vai!
RICARDO - Se você fizer algo contra mim... ou contra
minha filha... será um homem morto!
CESÁRIO SAIU DESATINADO, SEM OLHAR PARA TRÁS.
RICARDO - Ele é bem capaz...
BABY - (cortou) ... não é capaz de nada! O que ele
vai fazer é pedir emprego ao Paulus! E o que vai acontecer é que ele vai ficar
do lado de lá. Só isso. Mais nada! Você tem de me ajudar a ficar livre desse
patife, Ricardo!
RICARDO - Mas... a minha filha... se ele delatar a
minha filha, Baby?
CORTA PARA:
CENA 3 -
DELEGACIA DE VALONGO - INTERIOR
- DIA
UM ESTALO! SÓ UM ESTALO PODERIA LEVAR BABY A TOMAR A DECISÃO
DE SEGUIR O EX-CAPATAZ. VIU QUANDO O CHANTAGISTA ENTROU NA DELEGACIA, DEPOIS DE
DESCER A PÉ A RUA PRINCIPAL DE VALONGO.
CESÁRIO - (abriu a
porta do distrito e anunciou) Seu delegado, quero falar com o senhor. Tenho uma
revelação importante, muito importante, a lhe fazer!
BABY ABRIU A PORTA POR TRÁS DO HOMEM E COMPLETOU O QUADRO.
BABY - Eu também, seu delegado. Eu também tenho uma
revelação importante.
CESÁRIO VIROU-SE COM AGILIDADE, DANDO DE CARA COM O
EX-PATRÃO.
DELEGADO - (levantou-se, intrigado) Pois bem! Vocês dois
tem uma revelação. Que revelação? Vamos a ela!
BABY - (falou primeiro) Eu quero, seu delegado,
denunciar um cara muito sem-vergonha, que está fazendo chantagem com um amigo
meu!
CESÁRIO - (berrou, acovardado) Seu Baby! Vamos parar
por aqui!
O DELEGADO DEIXOU A MESA CHEIA DE PAPÉIS E APROXIMOU-SE DOS
DOIS HOMENS.
DELEGADO - Muito bem. Um cara está fazendo chantagem.
Quem é ele? Me diga que eu boto as mãos nele, seu Baby. Tenho nojo desse tipo
de gente!
CESÁRIO CORREU A MÃO PELO PESCOÇO. UM SUOR FRIO CORRIA-LHE
PELO CORPO.
BABY - Cesário também conhece. Ele vinha lhe dizer a
mesma coisa. Não é verdade, Cesário? Nós apostamos... quem chegaria primeiro...
para revelar o nome do bandido. Mas, pensando bem, eu deixo que ele mesmo diga.
Afinal, sou pelo direito. Ele chegou na minha frente!
DELEGADO - (autoritário) Qual é o nome do cara, Cesário?
CESÁRIO EMUDECERA.
BABY - (estimulou-o) Estou mandando, rapaz. Diga o
nome do sujeito que anda explorando o nosso amigo!
FIM DO CAPÍTULO 58
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