quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 62


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 62

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Cyro  -  Tarcísio Meira
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Catarina  -  Lidia Matos
Dirce  -  Sônia Ferreira
Júlia  -  Ida Gomes
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabela
Padre Miguel  -  Artur Costa Filho
Ivanzinho  -  Rogério Pitanga
Daniel  -  Paulo Araújo
Pé-na-Cova  -  Antonio Pitanga

CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ESTER  -  Agora, você vai me dizer... O que está te preocupando?

CYRO  -  Ester... eu decidi. Você seguirá, amanhã, com Júlia e Ivan, para São Paulo.

ESTER  -  Mas... por quê? Diga, ao menos, por quê, Cyro?

O MÉDICO FICOU INDECISO. NA VERDADE, NEM MESMO SABERIA JUSTIFICAR-SE. ERA ALGUMA COISA ALÉM DE SUA PERCEPÇÃO HUMANA.

CYRO  -  Não sei explicar... eu sinto que você precisa deixar esta cidade... o quanto antes. E não deve procurar justificativas. Nem eu mesmo sei. Há coisas que me impressionam. Talvez seja motivado pelo desejo de proteger você e seu filho. Excesso de zelo... quem sabe? O fato é que eu acho que você e ele devem sair daqui o quanto antes!

ESTER  -  Está bem... se isso o tranquiliza, nós iremos amanhã. Vou telefonar para saber a hora que sai o avião. Amanhã é domingo. Parece que os horários são diferentes.

MINUTOS DEPOIS ELA VOLTAVA À SALA. TUDO HAVIA SIDO ACERTADO. DEIXARIAM A CIDADE NO VÔO DAS 17 HORAS. CYRO RESPIROU FUNDO, COMO SE TIRASSE TONELADAS DE PESO DE SOBRE O CORPO.

CYRO  -  (beijou-a com carinho) Amanhã virei buscá-la, Ester, para levá-la ao aeroporto.

JÚLIA VOCIFEROU, LOGO APÓS A SAÍDA DO MÉDICO.

JÚLIA  -  Vão estragar todos os meus planos! Por um capricho do Dr. Cyro! Ora essa! Que aborrecimento!

CORTA PARA:

CENA 2  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

A SURPRESA ELETRIZOU O AMBIENTE E DEIXOU PARALISADO O COMENDADOR LIBERATO, QUE JÁ HAVIA ANUNCIADO A TODOS A AUSÊNCIA DO FILHO. ARQUITETARA UMA DESCULPA QUALQUER, PARA JUSTIFICAR A FALTA DE BABY, MAS ALI ESTAVA ELE, À PORTA DA MANSÃO, CUMPRIMENTANDO, ESTOUVADAMENTE, À SUA MANEIRA, OS CONVIDADOS DE OTTO MULLER. INÊS EMPALIDECEU À VISTA DO MARIDO. BABY ESTAVA VISIVELMENTE “TOCADO”.

BABY  -  (levantou os braços, como um lutador vitorioso) Oi! Oi, gente! Cheguei atrasado. Me desculpem. Minha querida Dona Bárbara... meu amigo Ricardo... meu excelentíssimo pai... minha adorável esposa.

COMENDADOR  -  (falou-lhe, quase ao ouvido) O que veio fazer aqui... neste estado?

BABY  -  Vim buscar a minha querida esposa. Já a apresentou aos convidados?

O INCIDENTE COMEÇOU A TOMAR PROPORÇÕES DESAGRADÁVEIS QUANDO, DEPOIS DE UMA TROCA DE PALAVRAS ÁSPERAS COM PAULUS, BABY DEIXOU A FESTA, LEVANDO CONSIGO A ESPOSA.

A PRESENÇA DE OTTO MULLER E SUAS MANIAS CONCENTRARAM A ATENÇÃO DOS PRESENTES. DURANTE MAIS DE 40 MINUTOS, O ALEMÃO REPRESENTOU, COM SUAS MARIONETES, ESTRANHAS HISTÓRIAS DE AMOR E MORTE. O AMBIENTE SE TORNARA SINISTRO NA RESIDENCIA LUXUOSA DO MILIONÁRIO.

AGORA CATARINA LIGAVA NERVOSA PARA O DR. CYRO. OTTO SE EXCEDERA E PASSARA MAL.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  NOITE

CATARINA  -  (dirigindo-se ao médico, que observava o paciente) Doutor! Como está ele?

CYRO  -  Saiam todos! (e para a enfermeira) Fique só você, Dirce.

COM MOVIMENTO RÁPIDO ENROLOU NO BRAÇO ESQUERDO DO OPERADO O APARELHO DE PRESSÃO, CALCANDO O ESTETOSCÓPIO NO PEITO CABELUDO. OTTO RESPIRAVA MAL.

DIRCE  -  Ele se excedeu, doutor. E quando eu quis avisar o senhor, ele não deixou. O homem é uma fera.

CYRO  -  Prepare a injeção que eu trouxe. Eu já esperava por isso.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FLORIANÓPOLIS  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALETA  -  INTERIOR  -  DIA

JÚLIA ENTROU NA SALETA, OLHOU PARA TRÁS, CUIDADOSA E APROXIMOU-SE DO TELEFONE. NÃO HAVIA NINGUÉM NO RECINTO. MAIS ADIANTE, VERA, A EMPREGADA DO COMENDADOR, BRINCAVA COM IVANZINHO. TINHAM TODOS IDO ATÉ A CASA DO RICAÇO PARA AS DESPEDIDAS. ESTER EMBARCARIA NAQUELA TARDE.

JÚLIA  -  (colocou a mão junto ao bocal do aparelho, impedindo que sua voz fosse ouvida por alguém da casa) Alô, Cesário! Aqui é Júlia. Desculpe-me se o acordei, mas é que estou precisando muito falar com você. Vou viajar esta tarde para São Paulo e queria vê-lo, nem que fosse cinco minutos. Onde você está, agora? Mas é longe! Você vai a Porto Azul ver sua mãe? Posso pegar um carro, sim. Estarei lá em 20 minutos. É mais perto... Então eu o espero, na praça. Por favor, se chegar antes, não deixe de me esperar. Até já!

DESLIGOU E ENCAMINHOU-SE PARA A SALA DE ESPERA.

JÚLIA  -  (voltou-se para a empregada de Augusto Liberato) Quer me fazer um favor? Diga a Dona Ester que eu tive de ir correndo a Porto Azul, me despedir de uma pessoa. Eu a encontro dentro de uma hora em nossa casa.

VERA  -  O menino fica?

JÚLIA  -  Fica, claro!

IVANZINHO  -  (choramingou) Quero ir!

JÚLIA  -  (pegou-o no colo e saiu quase correndo) Avise Dona Ester que o menino foi comigo! Até já. Estou louca de pressa.

ENQUANTO A MULHER DESAPARECIA PORTA A FORA, VERA ENCONTRAVA ESTER, QUE CONVERSAVA COM O COMENDADOR.

VERA  -   Com licença, Dona Ester! Dona Júlia mandou avisar à senhora que teve de ir a Porto Azul, se despedir de uma pessoa.

ESTER  -  (nervosa) E o meu filho?

VERA  -  Ela o levou!

ESTER  -  (estremeceu, empalidecendo) Não devia ter levado!

CORTA PARA:
Ivanzinho (Rogério Pitanga)

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  PRAÇA  -  EXTERIOR  -  DIA

O ENCONTRO FORA MARCADO DIANTE DA IGREJINHA DE PORTO AZUL, CENÁRIO DAS PREMONIÇÕES DE CYRO VALDEZ. JÚLIA SENTOU-SE NUM BANCO, ENQUANTO O MENINO CORRIA E SE JOGAVA NO GRAMADO, AO LADO DE OUTROS MENINOS DE SUA IDADE. OLHOU O RELÓGIO. CESÁRIO ATRASARA-SE E DIVERSAS PESSOAS ENCAMINHAVAM-SE PARA A MISSA. O MOVIMENTO JÁ ERA GRANDE ÀQUELA ALTURA DA MANHÃ.

VIU QUANDO O FILHO DE MESTRE JONAS ENTROU AFOBADO NO TEMPLO. ATRÁS DELE, PÉ-NA-COVA.

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

PÉ-NA-COVA  -  Eu respeito a casa de Deus. Mas, quando tu sair daqui... tu é um homem morto.

DANIEL  -  Se respeitasse mesmo, devia aceitar meu arrependimento, Luca. Foi uma loucura... mas eu e Luana, tua mulher... nós dois se queria muito. Juro!

PÉ-NA-COVA  -  Teu arrependimento não serve pra nada. Eu te marquei. Tu e ela. Os dois vão morrer.

DANIEL  -  Eu não quero reagir, Luca. Mas te aviso que também tou armado. E tenho boa pontaria.

PÉ-NA-COVA  -  Pois eu quero que tu reaja. Um de nós é demais nesta terra.

PÉ-NA-COVA SAIU DA IGREJA, ENQUANTO DANIEL APERTAVA O CABO DA ARMA, ENCORAJANDO-SE. OLHOU PARA O ALTAR DE CRISTO.

DANIEL  -  Pelo que tiver de fazer... perdão, meu Deus!

CORTA PARA:

CENA 7  -  PORTO AZUL -  PRAÇA  -  EXTERIOR  -  DIA

JÚLIA CONVERSAVA NERVOSAMENTE COM O EX-CAPATAZ DE  BABY LIBERATO. E OFERECIA-LHE A POSSIBILIDADE DE ARRANJAR-LHE UM BOM EMPRÊGO, EM SÃO PAULO. JÚLIA AMAVA O MINEIRO.

CESÁRIO  -  Não! Eu vou é ficar aqui mesmo.

LEMBRAVA-SE DE TULA. DE SUA LUTA COM O ENGENHEIRO. CESÁRIO PREFERIA PERMANECER NA TERRA QUE O VIRA NASCER.

JÚLIA  -  (se levantou, segurando as mãos do homem) Você, pelo menos, pode me levar até um táxi.

CESÁRIO  -  Claro, claro! Vamos indo!

A MISSA TINHA ACABADO E OS PRIMEIROS FIÉIS ESTAVAM SAINDO. DANIEL ESGUEIROU-SE POR TRÁS DE UM GRUPO DE BEATAS, MAS, NUM MOVIMENTO EM PINÇA, PÉ-NA-COVA AGACHOU-SE E FEZ PONTARIA, ATIRANDO. AS BEATAS GRITARAM NUM CÔRO FRENÉTICO, ENQUANTO OS DOIS HOMENS TROCAVAM TIROS NA PRACINHA.

PÉ-NA-COVA CAMBALEOU, APERTOU A MÃO CONTRA O PEITO E VIU A MANCHA VERMELHA, VIVA. O SANGUE JORRAVA-LHE DA FERIDA ABERTA NO LADO DIREITO.

A VOZ DE CESÁRIO DESTACOU-SE, NA PRAÇA.

CESÁRIO  -  Agarrem Daniel! A policia! Chamem a polícia! Me ajudem a levar ele daqui!

JÚLIA SENTIU UM ESCURECIMENTO E O MUNDO A GIRAR. UMA VERTIGEM PROVOCADA PELO ACONTECIMENTO. TORNOU A SENTAR-SE NO BANCO, ISOLADA, ENQUANTO O BURBURINHO SE TORNAVA INSUPORTÁVEL NO LOCAL ONDE LUCAS CAÍRA FERIDO. LEMBROU-SE DO MENINO.

JÚLIA  -  Ivan!

OLHOU PARA TODOS OS LADOS DA PRAÇA E NÃO VIU O GAROTO. DESAPARECERA COMO QUE TRAGADO PELA TERRA.

JÚLIA  -  Ivanzinho! Vamos deixar de brincadeiras! Onde está você, queridinho? Deixe de se esconder!

A MULHER, INTEIRAMENTE ATORDOADA, ENTROU NA IGREJINHA.

CORTA PARA:

CENA 8  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

JÚLIA VIU O SACERDOTE COM AS MÃOS UNIDAS. EM PRECE.

JÚLIA  -  Padre Miguel! Ivanzinho não está por aí?

PADRE MIGUEL  -  Aqui não, minha filha! Por quê? Ele entrou na igreja?

JÚLIA  -  (aflita) Não... eu não vi onde ele entrou... Está querendo me passar um susto. É um menino muito levado. Pensei que tivesse se escondido aqui na igreja!

O CARRO DE ESTER PAROU DIANTE DA IGREJINHA E ELA DIVISOU A SECRETÁRIA E O PADRE, QUE DESCIAM AS ESCADAS. REPAROU NO OLHAR ANGUSTIADO DA MULHER. CORREU AO ENCONTRO DOS DOIS.

ESTER  -  Júlia! Que história é essa de você vir para cá sem minha ordem?

JÚLIA  -  Eu... eu não ia me demorar.

ESTER  -  Onde está Ivan?

JÚLIA APERTOU AS MÃOS, AMEDRONTADA. O PADRE AMPAROU-A COM UM OLHAR PACÍFICO.

JÚLIA  -  Ivan...está querendo me assustar, Dona Ester. Estava junto de mim quando estourou a confusão... e o molequinho fugiu... está escondido em algum canto desta praça!

ESTER  -  Fugiu? Mas, Júlia... Ivan nunca fez isso! Que confusão você disse que houve aqui?

JÚLIA  -  Daniel atirou em Lucas... juntou muita gente... foi naquela confusão que me perdi de Ivan! Ele está por aqui, Dona Ester! Tem de estar!

CORTA PARA:

CENA 9  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  DIA

O DELEGADO PROCUROU TRANQUILIZAR ESTER.

DELEGADO  -  A senhora fique calma. Eu tenho certeza de que não foi uma simples coincidência. Quando prendermos Daniel ele dirá onde escondeu o seu filho.

ESTER  -  Mas... por que... que interesse Daniel teria... em levar meu filho?

DELEGADO  -   Tudo é possível. Um sujeito que atirou num amigo depois de lhe ter roubado a noiva... ou melhor, sei lá... é capaz de tudo. É capaz até de ter levado a criança para servir de refém, ou coisa parecida. Não estou afirmando, é claro. Uma hipótese, apenas. Estou me apegando aos fatos.

CORTA PARA:

CENA 10  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  JARDIM  -  EXTERIOR  -  NOITE

A NOITE CHEGARA E, DO LADO DE FORA DA MANSÃO DOS LIBERATO, DANIEL AGUARDAVA A OPORTUNIDADE DE PULAR O MURO E BUSCAR O AUXÍLIO DE BABY, ÚNICO AMIGO QUE PODERIA TIRÁ-LO DAQUELA SITUAÇÃO DIFÍCIL. A CHANCE APARECEU E O MINEIRO CONSEGUIU ALCANÇAR A CASA, SEM SER VISTO.

CENA 11  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

BABY DESCEU A ESCADA E OLHOU O RELÓGIO: 23:30.

BABY  -  Daniel... o que foi isso? Por aqui a esta hora?

DANIEL  -  (deu um salto na direção do jovem) Cunhado... tou numa situação dos infernos. Preciso da sua ajuda.

BABY  -  Fale! Que é que posso fazer por você?

DANIEL  -  Me esconde da polícia!

BABY  -  (espantou-se) Você fez alguma coisa?

DANIEL  -  Pra me defendê... eu atirei no Pé-na-Cova. Num sei, mas acho que matei ele...

FIM DO CAPÍTULO 62



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