Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 60
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Inês -
Betty Faria
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Zoraida -
Jurema Penna
CENA 1 - MANSÃO
DE OTTO MULLER - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
O ALEMÃO FEZ UM TREMENDO ESFORÇO PARA LEVANTAR-SE SOZINHO.
DESPREZOU O AUXÍLIO QUE O AMIGO PRETENDEU LHE OFERECER.
OTTO - Vou lhe mostrar... o que vai acontecer com
Ester!
PAULUS - Não se esqueça do seu pai. Sabe que ela nos
tem nas mãos. Obedeci às suas ordens. Von Muller está empregado nas minas, como
engenheiro, com documentos falsos. Ele agora é Henrique Hermann. E já começou a
dar trabalho aos homens... não é nada sensato, o velho.
OTTO - (rispidamente) Deixe-o lá!
ABRIU UMA MALA DE COURO, FUNDA. RETIROU DO SEU INTERIOR DOIS
BONECOS ESTRANHOS, DE PERNAS MOLES, BAMBAS. PAULUS NÃO SE CONTINHA DE
CURIOSIDADE.
OTTO - Vê isto? É Ester... e o menino (pegou mais
dois fantoches) Este é o Dr. Cyro... e este outro sou eu...
PAULUS - O que você quer dizer com isto?
OTTO LEVOU OS BONECOS PARA O SOFÁ E SENTOU-SE COM
DIFICULDADE.
PAULUS - Deixe-me ajudá-lo.
OTTO - Não toque nos meus bonequinhos! (berrou e
colocou os bonecos paralelos; o de Ester ao lado de Cyro, dançando estranhamente)
Aqui estou eu... na cama, doente... coitadinho. Mas, de repente... o que vai acontecer? (escondeu o boneco de
Ivanzinho) Onde está o garoto? Onde
está?
PAULUS - (entendeu a jogada) Compreendo! Compreendo,
agora, Otto! Bem bolado!
OTTO - Não é uma farsa trágica, Paulus?
PAULUS - É terrível, Otto!
APONTOU PARA O BONECO DE ESTER, CAÍDO NO CHÃO, DISTANTE DO DE
CYRO VALDEZ.
OTTO - Pegue Ester... pobrezinha! Está caída. A
farsa vai continuar, Paulus! Ainda não terminei o espetáculo!
CENA 2 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - DIA
CONTANDO NINGUÉM ACREDITAVA... MAS O VELHO COMENDADOR
ENCHERA-SE DE AFETO PELA NORA E PERDIA HORAS ENSINANDO BOAS MANEIRAS À MOÇA. E,
INCLUSIVE, ESTABELECERA UM HORÁRIO PARA AS AULAS DE CONHECIMENTOS GERAIS. ERA
UMA FORMA DE PASSAR O TEMPO, EXERCITAR A MENTE E DISTRAIR-SE. GOSTAVA DE INÊS,
DO SEU TEMPERAMENTO ALEGRE E DE SUAS CRIANCICES. A INGENUIDADE DELA FASCINAVA O
VELHO. E ELE ADMITIA TORNÁ-LA UM DIA UMA DAMA DA ALTA SOCIEDADE. ERA UM JOGO A
QUE SE DEDICAVA COM CARINHO. ÀS NOITES, COSTUMAVA SAIR COM A MOÇA E JANTAR NOS
MAIS REFINADOS AMBIENTES DE FLORIANÓPOLIS.
NAQUELA
MANHÃ, INÊS SUAVA PARA COMPREENDER A LIÇÃO.
COMENDADOR -
Vamos lá... faça uma frase com a palavra manada.
INÊS -
Manada? Eu num sei o que é manada...
COMENDADOR - Primeiro não diga num. É não. Num é feio e
errado.
INÊS - Eu não sei.
COMENDADOR - Isto! E agora, manada é um rebanho de gado.
INÊS - Ah... eu gosto muito de comer carne de...
manada!
COMENDADOR - (fez uma careta, rindo gostosamente) Não! Tá
errado, Inês. Você come carne de boi!
INÊS - Boi não é gado?
LIBERATO FECHOU O LIVRO DE LIÇÕES, MEIO IMPACIENTE. ENTREGOU
O LÁPIS E O CADERNO À NORA.
BABY - (do alto da escada, berrou para a sala) Inês,
não deixei minha abotoadura no seu quarto?
COMENDADOR - Não amole, agora! Ela está na aula!
(voltou-se para a jovem) Vamos lá! Uma frase com a palavra manada. Mas não
venha me dizer que você come carne de manada.
BABY SORRIU, ENQUANTO ZORAIDA ENTRAVA E OUVIA A MOÇA GAGUEJAR
UMA FRASE.
INÊS - Eu... gosto... muito... de ver... passar...
uma manada!
COMENDADOR - (bateu palmas) Ah, até que enfim entendeu!
Agora, escreva isso aí, no seu caderno!
BABY TINHA DESCIDO A ESCADA E A GOVERNANTA APROVEITOU PARA
ATINGIR A JOVEM POR TABELA. ODIAVA A MOÇA E NÃO ACEITAVA A MANEIRA PELA QUAL O
VELHO RICAÇO ESTAVA SE LIGANDO A ELA. ERA DEMAIS PARA SEU ORGULHO E SUA INVEJA.
ZORAIDA - (encaminhando-se para Baby) Que é que você
quer, meu filho?
BABY - Faz tempo... que ele virou professor dela?
ZORAIDA - Há mais de uma semana. Ela não acertou com
nenhum professor. Todos eles acharam que ela é uma negação. E não tinham
paciência. Ela acaba chorando... vai ver daqui a pouco!
BABY OBSERVAVA A ESPOSA GARATUJAR UMAS LETRAS ENORMES.
BABY - Tá tudo errado! Você fez o quarto ano
primário? Tudo errado! Olha só como ela escreve passar! Com z! Essa não!
INÊS LARGOU O LÁPIS, COM RAIVA, E BAIXOU A CABEÇA,
DESARVORADA. O COMENDADOR VIROU BICHO E OLHOU COLÉRICO PARA O FILHO.
COMENDADOR - Olha... você só sabe atrapalhar! É para isso
que ela está aprendendo! Ninguém nasceu sabendo! (passou a mão, carinhosamente,
pela cabeça da nora, alisando-lhe os cabelos) Chega por hoje, minha filha.
Tenho de me preparar para ir a um jantar, na casa de Otto. Você deve ir também,
Baby.
BABY - Já disse que não sou hipócrita. Não admito
essas convenções da alta sociedade. Pra mim tanto faz que ele morra ou não... e
não piso na casa dele nem que paguem milhões! E se o senhor tivesse um pouco de
vergonha... não iria também! (Liberato fitou-o enraivecido; Baby prosseguiu) É
isso mesmo, não ia, não, porque afinal de contas tia Catarina não o suporta. O
que ela lhe joga na cara é bem grave. Ainda se você pudesse se defender, podia
ir lá, para enfrentá-la. Mas, você não pode, pai. Melhor seria que ... não
passasse por esse vexame.
COMENDADOR - (explodiu, encolerizado) Eu vou à casa dele.
De nada me acusa a consciência. E vou fazer coisa melhor. Vou levar sua mulher
para me fazer companhia!
BABY, QUE COMEÇARA A SUBIR A ESCADA, ESTACOU E DEU MARCHA A
RÉ, INCONTINENTI.
BABY - Essa não!
COMENDADOR - (ordenou à jovem) Vá se arrumar, Inês!
BABY - (berrou, fora de si, segurando a esposa) Já
disse que não!
COMENDADOR - (ignorou a reação do filho) Vá se preparar,
Inês. E use aquele vestido que usou naquela noite. O vestido da minha falecida
mulher! Ficou muito bem em você!
BABY - (espumava de raiva) Pois muito bem. Se ela
fizer isso... ela pode sumir desta casa... porque eu não olho nunca mais para a
cara dela!
COMENDADOR - (tornou a dirigir-se à moça) Vá se preparar,
Inês.
BABY - E
nem para a sua!
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