Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 85
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Von Muller -
Jorge Cherques
Otto -
Jardel Filho
Lia -
Arlete Salles
Catarina -
Lidia Mattos
Coice de Mula - Dary
Reis
Cyro -
Tarcísio Meira
Ester -
Glória Menezes
Paulus -
Emiliano Queiroz
Comendador Liberato -
Macedo Netto
CENA 1 -
FLORIANÓPOLIS - TRIBUNAL DO JÚRI -
INTERIOR - DIA
FINALMENTE O JULGAMENTO DE BABY FÔRA MARCADO E NO DIA, CENTENAS DE PESSOAS SE AGLOMERAVAM PARA ASSISTIR AO DESENROLAR DOS ACONTECIMENTOS NO TRIBUNAL DO JÚRI DE FLORIANÓPOLIS. DURANTE HORAS DEFESA E ACUSAÇÃO DISCORRERAM SOBRE OS DIVERSOS ASPECTOS DO CASO. BABY CULPADO POR NEGLIGÊNCIA. BABY APENAS UM INCONSEQUENTE! BABY DESEJANDO FUGIR DA VIDA, MAS CONSCIENTE DE QUE NINGUÉM PODERIA PAGAR PELAS SUAS DESDITAS. CABIA, AGORA, AO JÚRI DECIDIR.
FINALMENTE O JULGAMENTO DE BABY FÔRA MARCADO E NO DIA, CENTENAS DE PESSOAS SE AGLOMERAVAM PARA ASSISTIR AO DESENROLAR DOS ACONTECIMENTOS NO TRIBUNAL DO JÚRI DE FLORIANÓPOLIS. DURANTE HORAS DEFESA E ACUSAÇÃO DISCORRERAM SOBRE OS DIVERSOS ASPECTOS DO CASO. BABY CULPADO POR NEGLIGÊNCIA. BABY APENAS UM INCONSEQUENTE! BABY DESEJANDO FUGIR DA VIDA, MAS CONSCIENTE DE QUE NINGUÉM PODERIA PAGAR PELAS SUAS DESDITAS. CABIA, AGORA, AO JÚRI DECIDIR.
O JUIZ CONVOCOU OS JURADOS, A PROMOTORIA E DEFESA, O RÉU,
TESTEMUNHAS E, COLOCANDO TEATRALMENTE OS ÓCULOS, PROFERIU A SENTENÇA.
JUIZ - De acordo com a resposta dos senhores jurados
aos quesitos formulados... declaro o réu, Leandro Liberato, inocente!
BABY RESPIROU ALIVIADO E TODOS OS OLHARES SE CONCENTRAVAM NA
SUA MÁSCARA DE DESESPÊRO. CABELOS DESALINHADOS, RUGAS AO REDOR DOS OLHOS
CANSADOS E OLHEIRAS ROXAS.
JUIZ - Está encerrada a sessão!
SEM MUITA PRESSA, MAS VISIVELMENTE EMOCIONADO, O DR. GARCIA,
ADVOGADO DE DEFESA APERTOU AS MÃOS DO RAPAZ.
BABY - Obrigado, Dr. Garcia! Muito obrigado, mesmo!
(com os olhos marejados) Puxa vida, parece um sonho!
DR. GARCIA - Você merece, rapaz!
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - VILA DOS PESCADORES -
CHOUPANA DE MESTRE JONAS - EXTERIOR
- DIA
PESCADOR - Ele tá livre! Ele tá livre!
INÊS SURGIU NA JANELA, ONDE GRUPOS DE HOMENS DO MAR VINHAM
LHE CONTAR A NOVIDADE. TINHAM OUVIDO PELO RÁDIO.
INÊS - Minha nossa! É verdade?
PESCADOR - Tá livre. Foi absolvido! Os mineiro tudo,
falaro muito bem dele, quando foram interrogado! Foi por isso que ele conseguiu
a liberdade!
INÊS - Minha mãe de Deus, como isto é maravilhoso!
CORTA PARA:
CENA 3 -
FLORIANÓPOLIS - TRIBUNAL DO JÚRI -
INTERIOR - DIA
BABY AINDA SE ENCONTRAVA NO PRÉDIO DO TRIBUNAL, FUMANDO UM
CIGARRO, TRANQUILO, RECORDANDO OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS DE SUA VIDA E A LONGA
PRISÃO DE 5 MESES E MEIO. UMA EXISTÊNCIA! OUVIU A VOZ DO COMENDADOR E ERGUEU OS
OLHOS PARA O HOMEM DE TERNO NEGRO QUE SE POSTARA À SUA FRENTE.
COMENDADOR - Precisamos conversar, não?
BABY - Já sei de tudo. Já me disseram que não sou
seu filho.
COMENDADOR - E você não acha que isso muda tudo?
BABY - Já mudou. Senti um alívio muito grande.
COMENDADOR - Não falei de seus sentimentos. Estou falando
de negócios.
BABY - Não quero falar agora de negócios. Não sei
nem o que vai ser da minha vida.
COMENDADOR - Eu quero lembrar que o fiz dono de toda a
minha fortuna...
BABY - (ironizou) Esperava que eu morresse de
desgosto, não? Queria que desse fim à minha vida. Por isso me doou todos os
seus bens. Porque sabia que eles voltariam às suas mãos.
COMENDADOR - Eu os doei porque a minha irmã reclamou a
posse deles. A justiça está para decidir a questão. Se for a nosso favor... eu
os quero de volta!
BABY - (sorriu, irônico) Eu sabia que se eu não
morresse como esperava, o senhor iria me pedir de volta.
COMENDADOR - Você não é meu filho... deve ter a decência
de reconhecer que não tem direito aos meus bens.
BABY - Legalmente sou e continuarei sendo seu filho.
AUGUSTO LIBERATO TORCEU A CARA E DECIDIU ABANDONAR O RECINTO.
VOLTARIA A CONVERSAR COM O RAPAZ ASSIM QUE TIVESSE UMA DECISÃO DO CASO.
COMENDADOR - Se ganharmos a causa... eu irei procurá-lo...
onde estiver!
BABY NÃO DISSE NADA. UNIU O DEDO MÉDIO AO POLEGAR, EM ARCO, E
ATIROU A GUIMBA DE CIGARRO DE ENCONTRO AO TETO.
CENA 4 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - ESCRITÓRIO
- INTERIOR - DIA
PARA OTTO MULLER O CHOQUE FOI VIOLENTO. E VON MULLER QUE DERA
A NOTÍCIA DE SUPETÃO. COMO SE O FILHO ESPERASSE A DECISÃO FAVORÁVEL A BABY
LIBERATO. O EX-CARRASCO NAZISTA TINHA AS FEIÇÕES TENSAS E GRAVES AO ANUNCIAR O
RESULTADO DO JULGAMENTO.
VON MULLER - O homem está livre!
OTTO - Baby... absolvido? Absolvido? É um
despropósito! Absurdo!
VON MULLER - Foi a decisão do júri...
OTTO - (bateu com os punhos na escrivaninha) Que
justiça é esta? Eu não compreendo! Não aceito! Ele foi responsável pela morte
de três mineiros! Devia ser condenado à pena máxima!
COICE DE MULA - Pois é... mas o depoimento favorável dos
outros parece que influiu muito...
VON MULLER - (irritado) Foi só o que influiu. Acreditaram
que ele não tivesse detonado a dinamite...
OTTO - São uns burros! Como alguém pode ter
acreditado nisso?
COICE DE MULA - É fato consumado, seu Otto!
OTTO - ... e não me fale nesse tom de pacificação.
Eu estou muito preocupado com a decisão da justiça. A liberdade de Baby, para
mim, tem um significado muito grave. É o início de uma nova luta. Porque eu não
vou admitir que ele reassuma a presidência das minas. E com certeza ele tem
pretensões a isso...
VON MULLER - Filho, não precisa se preocupar (disse, após
a saída de Coice de Mula) Eu estar sempre aqui para proteger você...
OTTO - Neste caso não há proteção, papai. Baby
Liberato representa, no momento, minha maior ameaça. Com ele preso, eu estava
sossegado... mas solto... unido ao Dr. Cyro Valdez... são uma força contra mim!
VON MULLER LEMBROU-SE DO PROCESSO MOVIDO PELA ESPOSA CONTRA O
IRMÃO.
VON MULLER - Se a justiça der ganho de causa a Catarina...
herança virá toda para você, filho... e aí, Baby Liberato não vai mais
representar perigo...
OTTO - Sim... ainda me resta esta esperança. Que a
justiça dê ganho de causa a mamãe. Chame ela aqui. Chame Paulus. Quero ver em
que pé estão as coisas. Chame todos.
CORTA PARA:
CENA 5 -
PORTO AZUL - PREFEITURA
- EXTERIOR - DIA
A ELEIÇÃO TRANSCORREU TRANQUILA E A VITÓRIA DE OTTO
CONFIRMOU-SE POR ESMAGADORA MAIORIA. ERA O NOVO PREFEITO DE PORTO AZUL E MUITA GENTE FESTEJAVA NAS RUAS A
ASCENSÃO DO HOMEM QUE SIMBOLIZAVA O ESPÍRITO DE LUTA CONTRA A MORTE.
NA FESTA DA POSSE...
OTTO MULLER ENVERGAVA SEU TERNO MAIS MODERNO, DE CORTE
ITALIANO. NA PRACINHA REGURGITANTE DE GENTE, A BANDA DE MÚSICA ENTOAVA DOBRADOS
CÍVICOS DIANTE DA SEDE DA PREFEITURA. OTTO MULLER APARECEU NA SACADA DO PRÉDIO.
OTTO - Que povo maravilhoso! Mal eu cheguei na
sacada, me aplaudiram... viu?
LIA - Sim, eu vi, Otto.
OTTO - Não faça esta cara de mártir. Devia estar
muito alegre!
LIA - Eu não posso fingir, Otto.
OTTO - Que mal te
aflige? Está sempre com problemas.
LIA - Soube que você, mal assumiu, já proibiu
Mestre Jonas de armar suas barracas pra vender peixe na praça...
OTTO - Exatamente. Fiz isso como primeira medida de
higiene. Não gosto de cheiro de peixe na praça.
LIA - E o que vai ser daquela pobre gente, Otto?
OTTO - Eles que se arrumem. Aqui... eu não admito! E
não se meta em meus assuntos! Já está pronta para a recepção?
LIA - Estou indisposta, Otto!
DONA CATARINA CHEGOU, ENTUSIASMADA.
CATARINA - O povo confia em você, meu amor!
OTTO - E eu não vou decepcionar o povo!
CORTA PARA:
CENA 6 - PORTO
AZUL -
PREFEITURA - AUDITÓRIO
- INTERIOR - DIA
O PEQUENO AUDITÓRIO ESTAVA ENTUPIDO DE PARTIDÁRIOS DO ALEMÃO.
GENTE DA PLEBE., DE MISTURA COM AS AUTORIDADES DA CIDADEZINHA.
OTTO - (levantou-se para falar) Acabo de ser
investido oficialmente no cargo de prefeito desta cidade que eu amo. Mas essa
investidura não teria para mim o mesmo valor... se eu não viesse aqui, agora,
receber do povo a sua ratificação (aplausos demorados) É do povo desta cidade
que recebo a nobre incumbência de administrá-la. E é com os olhos voltados para
este mesmo povo, para o seu progresso e bem-estar, que eu hei de fazer de Porto
Azul uma das mais prósperas cidades deste grande Estado brasileiro!
APLAUSOS ENTUSIASMADOS.
OTTO - (continuou) Conforme a minha plataforma
política, prometo duplicar a extração de carvão, carvão esse que, se escoando
pelo porto desta cidade, trará os recursos necessários para o seu
desenvolvimento cada vez maior. (deu um murro violento na mesa de mogno) Eu,
Otto Muller, prometo fazer de Porto Azul uma grande cidade. Eu, Otto Muller,
prometo moralizar esta cidade. Eu, Otto Muller, prometo acabar com a
exploração, a pouca vergonha, a ignorância, e o fanatismo que tomaram conta de Porto Azul. Eu, Otto Muller, prometo dar
amor, paz, concórdia, união e felicidade geral para todos quantos residem nesta
parte privilegiada de Santa Catarina. Meu povo, muito obrigado! Obrigado,
mesmo!
ENQUANTO O POVO APLAUDIA E GRITAVA DELIRANTEMENTE, OTTO
ENCOSTOU A MÃO NO CORAÇÃO, PALPITANTE, CANSADO. A BANDA ATACOU O AVANTE, CAMARADAS!
CORTA PARA:
CENA 7 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER
- VARANDA -
EXTERIOR - DIA
BRUTALMENTE, CYRO ARRASTOU ESTER ATÉ A VARANDA DE SUA
RESIDENCIA. ESPERARA-A DURANTE HORAS DIANTE DO PORTÃO DE ENTRADA. ELA REAGIU,
MAS A MÃO DO MÉDICO GRUDAVA-SE AO SEU PULSO.
ESTER - O que é que você quer?
CYRO - Obter uma certeza!
AGARROU-A, APERTADAMENTE, E BEIJOU-A COMO UM ANIMAL NO CIO.
AOS POUCOS A MULHER DEIXOU-SE DOMINAR, ENTREGANDO-SE AO CARINHO DO MARIDO.
PERDERA POR COMPLETO O DESEJO DE REAGIR. APENAS UMA VONTADE INCONTROLÁVEL DE
ENTREGAR-SE, ALI MESMO, AO HOMEM QUE A ENLOUQUECIA. CYRO ABRANDOU O ABRAÇO E
DESCOLOU OS LÁBIOS DA BOCA DA MULHER.
ESTER - (respirou fundo) Agora obteve a certeza? É
isso que queria saber? Eu ainda sou louca por você. É isso o que queria saber?
Pois sou sim. Mas cada vez que eu tenho a certeza disso, mais me envergonho. Mais me castigo. Ou você acha que o
simples fato de me trazer aqui e me beijar, vai fazer com que eu me entregue
totalmente a você?
CYRO - Só quero que você saiba que é inútil lutar
contra isso, Ester!
ESTER - Inútil? Será preciso repetir tudo de novo? Será
que você não compreende? Para mim, meu filho morreu e eu tive toda a culpa!
Porque não o livrei da bala que se destinava a você! (a voz mal conseguia
deixar a garganta; falava aos arrancos) E quanto mais eu te amo... mais eu me
sinto culpada! É por isso que eu quero que você morra! Porque só assim eu me
sentirei vingada!
CYRO CHOCOU-SE COM AS PALAVRAS RUDES DA MULHER, ENQUANTO
ESTER FUGIA PARA O INTERIOR DA CASA. PAULUS APARECEU.
PAULUS - Ester! Ester! (virou-se para o médico) O que
você fez com ela, seu...
CYRO SENTIU ÍMPETO DE ESBORRACHAR-LHE A CARA COM UM MURRO.
CONTROLOU-SE CERRANDO OS PUNHOS.
CYRO - Por enquanto, nada. Mas vou fazer com você,
se continuar enganando Ester.
PAULUS - O que... o que você acha que pode fazer contra
mim?
CYRO - Pretendo provar que você é um refinado
canalha!
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