Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 87
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Cyro -
Tarcísio Meira
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Otto -
Jardel Filho
Lia -
Arlete Salles
Catarina -
Lidia Mattos
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Rosa - Ana
Ariel
Daniel -
Paulo Araújo
Inês - Betty Faria
Naná - Mary Daniel
Inês - Betty Faria
Naná - Mary Daniel
CENA 1 -
PORTO AZUL - CASA DE INÊS
- SALA -
INTERIOR - DIA
NANÁ FITOU A CARA PÁLIDA DO COMENDADOR LIBERATO. VESTIA UMA
ESPÉCIE DE BATA, ESPALHAFATOSA, QUE SE CASAVA ÀS MARAVILHAS COM A EXCESSIVA
MAQUILAGEM DO ROSTO E COM O ESMALTE QUASE NEGRO, QUE LHE COBRIA AS UNHAS BEM
TRATADAS.
NANÁ - Vamos lá, diga logo o que pretende!
ENCAROU O MARIDO, SEM SE PREOCUPAR COM A PRESENÇA DE INÊS. AUGUSTO
LIBERATO TINHA ACERTADO AQUELE ENCONTRO NA RESIDENCIA DA NORA, A FIM DE EVITAR
PROBLEMAS MAIORES. NÃO PODIA SER VISTO EM CONVERSA COM A CAFETINA, FIGURA JÁ
CONHECIDA EM TODA A CIDADE.
COMENDADOR - O que quero... é que você deixe esta cidade o
quanto antes. Eu dou o dinheiro que você quiser. Pode exigir o máximo. Estou
disposto a tudo para ver você pelas costas.
NANÁ GARGALHOU, ENCHENDO O AMBIENTE COM SEU RISO. GARGALHAVA
AINDA, QUANDO A PORTA SE ABRIU E BABY LIBERATO ENTROU, ESTACANDO A UM PASSO DA
MERETRIZ. INÊS EMPALIDECEU.
INÊS - O que é que você veio fazer aqui, agora? A
gente... a gente não te esperava...
BABY - (respondeu, sem olhar a cara espantada da
mulher) Eu sei que você não me esperava, Inês! Que belo trio! Francamente!
(puxou a esposa para um
canto afastado) Que foi
que eu te disse? Que não queria encontrar mais essa mulher aqui! Essa
mulher não vale nada, Inês, e você recebe ela na sua casa! E esse cara, o quê
que tá fazendo aqui?
INÊS - Eu... eu não sei. Eles vieram se encontrar,
aqui.
NANÁ - (resmungou) Ele está com raiva de mim!
COMENDADOR - (exaltado) Por que não lhe diz de uma vez que
não pode ficar com raiva de você?
INÊS - Não, gente... pelo amor de Deus, ninguém fala
nada! (suplicou) Fica quieto, todo mundo! Deixa! Deixa as coisas como estão!
BABY OUVIA TUDO, SEM COMPREENDER.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - CASA DE INÊS
- SALA -
INTERIOR - DIA
A VELHA CATARINA ESTRANHOU AO VER NANÁ A FUMAR DESCONTRAÍDA,
FRIA. A MÃE DE OTTO FÔRA CONVIDADA PARA PARTICIPAR DA REUNIÃO, MAS CHEGARA
TARDE, DEVIDO ÀS “CRIANCICES” DO FILHO. SEU CARRO ESTACIONARA DIANTE DA CASA,
NO INSTANTE EM QUE BABY LIGAVA A MÁQUINA DO SEU E PARTIA EM DISPARADA.
CATARINA - Eu não compreendo. Se não é dinheiro,
Elisa... o que é que você veio fazer nesta cidade?
NANÁ - Eu não tenho interesses aqui.
CATARINA - Seu filho...
NANÁ - Talvez...
COMENDADOR - (irônico) Ela quer me convencer que se tomou
de amores pelo filho!
NANÁ - Eu soube, por alto, o que você estava fazendo
com ele. Projetou nele a sua raiva, a sua vingança sórdida. Vim para me
certificar.
CATARINA - Não estou entendendo. Como, vingança? Por
quê? Me expliquem...
COMENDADOR - (revelou, inadvertidamente) Catarina não sabe
que Baby não é meu filho!
CATARINA - Ah... sim... agora as coisas estão muito mais
claras. Agora sim... estou entendendo tudo. Então... Baby não é seu filho! Ora
esta! Isto jamais me podia passar pela mente, Augusto!
COMENDADOR - Nem pela minha, antes de descobrir as cartas
que ela enviava ao...
NANÁ - (cortou, gesticulando) Vamos parar com isso.
É o passado. Que importa? Em resumo é isso... não quero me afastar daqui porque
penso em proteger meu filho. E vão me dar licença porque eu vivo do meu
trabalho.
JOGOU O CIGARRO NO CHÃO E SAIU, DISPLICENTEMENTE, ARRASTANDO
A SANDÁLIA DE SALTO ALTO.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
SALA - INTERIOR
- DIA
O CARRO DE BABY ESTREMECEU COM A FREADA BRUSCA. A PORTA FOI
ABERTA E FECHADA QUASE QUE A UM SÓ TEMPO, O SUFICIENTE PARA O RAPAZ SALTAR DO
BANCO E DIRIGIR-SE PARA O INTERIOR DA CABANA DE MESTRE JONAS.
NA PRESENÇA DE MESTRE JONAS, ROSA E DANIEL, DESANDOU A FALAR.
BABY - Eu queria lhes dizer que estou disposto a me
separar definitivamente de Inês, antes que os acontecimentos me levem a cometer
uma loucura! Não posso admitir a presença constante daquela mulher da vida na
residência da minha esposa... sim, minha esposa, queira ou não. E há outra
coisa: o meu filho. Estou decidido a acertar as contas e achei melhor começar
pela família de Inês. Mestre Jonas, Dona Rosa e Daniel, vocês merecem essa
consideração. Antes de qualquer atitude, devo relatar todos os fatos. É o que
pretendo fazer agora.
CENA 3 -
PORTO AZUL - CONSULTÓRIO DE CYRO -
INTERIOR - DIA
CYRO VALDEZ RECEBEU RICARDO COM UM ABRAÇO DEMORADO. HÁ
SEMANAS NÃO VIA O AMIGO QUE APROVEITARA AS FÉRIAS PARA UM RÁPIDO GIRO A ALGUNS
ESTADOS NORDESTINOS. HÁ DOIS DIAS O ENGENHEIRO REGRESSARA A FLORIANÓPOLIS, MAS
JÁ SABIA DAS NOVIDADES TERRÍVEIS PARA O JOVEM MÉDICO.
RICARDO - Sinto muito lhe dar um motivo de
aborrecimento, mal retorno a nossa terra...
CYRO - Você nunca me aborrece. O que foi?
RICARDO - Estive hoje, agora mesmo, com Otto Muller...
na casa dele, e entre outras coisas...ele me deu a entender... bem... ele me
deu a noticia de que Ester... está noiva do Dr. Paulus... (Cyro estava
impassível) Vão se casar dentro de pouco tempo.
CYRO - Isto é certo... ou você está querendo me
experimentar?
RICARDO - Para quê? Não me interessa mentir. É a
verdade!
CYRO - Eu sei por que você está me dando esta
noticia.
RICARDO - Estou muito preocupado com você. E gostaria,
sinceramente, que se reconciliasse com Ester. Afinal, está mais do que evidente
que vocês nasceram um para o outro... e é uma pena ver cada um seguir um
caminho tão diferente. Sabemos que o casamento com Paulus é unicamente para
forçar mais ainda a separação entre vocês.
CYRO - (fingiu indiferença) Se ela quer assim... não
posso fazer nada!
RICARDO - (admirado com a passividade do amigo) Você
está conformado?
CYRO - (pensou um
pouco antes de responder) Não... mas não posso forçá-la!
RICARDO - Você faz muito pelos outros... faça algo por
você mesmo.
CYRO - Não, não é assim que eu quero conquistar as
coisas. O que tiver de vir para mim, virá sem que eu faça nada para isso.
RICARDO - E, por esse motivo, vai cruzar os braços e
deixar que Ester cometa um erro.
CORTA PARA:
CENA 4
- FLORIANÓPOLIS -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA
- INTERIOR - DIA
BABY ENTROU NA RESIDENCIA, NA COMPANHIA DA TIA CATARINA E
LIA. ELE MESMO NÃO SABIA EXPLICAR COMO ACEITARA O CONVITE PARA VOLTAR ÀQUELA
CASA. ODIAVA A TODOS, COM EXCEÇÃO DE LIA.
OTTO ESTAVA ESPERANDO JUNTO AO PRIMEIRO DEGRAU, COM O
COTOVELO ENCOSTADO AO CORRIMÃO.
OTTO - Que é que minha mulher está fofocando?
LIA - Estava dizendo ao Baby que você está ansioso
para falar com ele.
OS DOIS TROCARAM OLHARES ENFURECIDOS.
OTTO MULLER ERGUEU A MÃO EM SINAL DE PAZ E SE DIRIGIU AO
RECÉM-CHEGADO CHEIO DE FINGIMENTO.
OTTO - Sente-se, meu priminho...
BABY - (enojado com a atitude falsa do parente)
Estou bem de pé. Vai dizendo o que você quer.
OTTO - Quero apenas lhe fazer uma pergunta: o que
você pretende fazer da sua vida? Digo... com relação às minas. Não podemos
fugir a uma realidade...
BABY - Eu pretendo... talvez... voltar a administrar
totalmente...
OTTO - (piscou o olho, maliciosamente) Muito bem.
Mas como você irá administrá-las, se elas não lhe pertencem?
BABY - Você está louco. Eu ganhei a causa na justiça
no caso da herança Liberato.
OTTO - Sim... você ganhou... mas não tem direito à
herança... porque não é filho do titio Liberato.
BABY - Isto não vem ao caso. Legalmente eu sou filho
dele. E não há quem prove o contrário. E se eu fosse adotivo... não teria o
mesmo direito?
OTTO - Aí é que você se engana. Existem provas...
provas terríveis contra... contra sua mamãezinha...
BABY - (aborreceu-se) Não fale do que você não sabe!
OTTO - Sua mamãezinha que traiu titio Liberato...
BABY - (virando as costas ao primo) Prefiro não
falar sobre isso...
OTTO - Mas temos de falar. É a segurança e a honra
de uma família que estão em jogo.
BABY - Onde você quer chegar?
OTTO - Quero apenas que você tenha escrúpulos de não
aceitar esta herança... sendo filho de quem é. Sua mãe não passa de uma
usurpadora, uma vigarista, uma aventureira...
BABY DEU UM SALTO, PUNHOS FECHADOS, TENTANDO INVESTIR CONTRA
O OUTRO. AS DUAS MULHERES COLOCARAM-SE ENTRE OS HOMENS ENFURECIDOS. BABY PÁLIDO DE ÓDIO. OTTO SORRIDENTE E
FRIO.
BABY - Veja lá como fala da minha mãe. Ela está
morta e exijo que a respeitem!
OTTO - (com expressão demoníaca) Não! Ela não está
morta! (babava-se de prazer ante a revelação da verdade guardada em segredo há
mais de 25 anos) Ela não está morta e se encontra nesta cidade para nos
espicaçar, nos envergonhar...
BABY - Do que está falando?
OTTO - Da sua mãezinha, ora! Ou melhor... estou falando
da dona do cabaré, da cafetina... da Naná!
BABY - Olha aqui, Otto! Se quer fazer brincadeira...
vá fazer com sua própria mãe. Onde já se viu? Este cara é louco! Tenha
paciência! Não vim aqui para ouvir você dizer sandices!
INCONTINENTI, ENCAMINHOU-SE PARA A PORTA DE SAÍDA. OUVIU A
VOZ FINA E IRRITANTE DA TIA.
CATARINA - Otto não está brincando. É a verdade, Baby!
BABY - (parou sem se voltar para os presentes;
fixava o chão) Mas... será possível? Até a senhora! A troco de quê, essa
gozação pra cima de mim?
OTTO - Não é gozação. Eu seria incapaz. Sua mãe é
Naná, do cabaré. Pode acreditar.
BABY - (inteiramente atordoado) Naná! Naná! Aquela
maluca? Aquela... ora! Que disparate!
OTTO - (instigou a velha) Diga... dia a ele, mamãe,
toda a verdade.
CATARINA - Ele é um rapaz inteligente. Não será preciso
entrar em detalhes. Sua mãe enganou seu pai... antes de você nascer. Augusto a
pôs para fora de casa depois que você veio ao mundo. Ela foi se juntar ao
sujeito que a desgraçou, evidentemente. Mas era uma aventura... Ficou pelo
estrangeiro, numa vida não muito recomendável. Nunca se lembrou que você
existia. Augusto foi bom para você e lhe deu todo o apoio como se fosse mesmo
seu próprio filho.
BABY TAPOU O ROSTO COM AS MÃOS EM CONCHA, ENVERGONHADO.
CATARINA - (continuou) Augusto praticamente não se
lembrava mais de Elisa. Não vivia bem com você... mas também não o torturava.
Foi por ocasião do seu casamento que ele recebeu a noticia. Elisa havia voltado
ao Brasil... Foi aí que ele se descontrolou completamente. Voltou-se contra
você, contra sua mulher, como se vocês tivessem de pagar pelo que Elisa fez a
ele.
OTTO - Titio perdeu a cabeça.
CATARINA - É... ele perdeu a cabeça. Abriu o quarto de
Elisa, trancado há muitos anos. Ele sempre tentou acreditar que ela havia
morrido mesmo. Mas... ao reabrir o aposento... reabriu, também, aquela ferida
profunda que ela lhe tinha feito. Destruiu a vida dele. E ele achou que tinha
de destruir a sua. Ele não foi feliz no casamento. Você também não podia ser.
Obrigou Inês a se separar de você. Contou-lhe o segredo de Elisa...
BABY CONTINUAVA COM AS MÃOS NO ROSTO, DESESPERADO. IMÓVEL.
CATARINA - Inês foi presa fácil de Augusto. Na sua
ingenuidade... a tola suportou as conseqüências da separação, sem querer dizer
a você quem era sua mãe.
LIA - Não foi ingenuidade. Diga antes... foi por
pura bondade. Ela achou que ia lhe causar um desgosto muito grande...
CATARINA - (completou, sadicamente) Como estamos, aliás,
lhe causando.
BABY VIROU-SE PARA OS TRÊS, DESARVORADO, COMO SE ACABASSE DE
RECEBER A CONFIRMAÇÃO DE UMA PENA DE MORTE.
BABY - Acontece, meu “primo”... acontece, minha
“tia” que eu não acredito numa só palavra do que disseram! Eu não acredito,
viu? Tudo isso é mentira de vocês! Arranjaram um pato... não arranjaram?
Combinaram tudo com aquela vigarista dona da boate. Aquela topa tudo por
dinheiro! Quanto ofereceram a ela pra sustentar que é minha mãe? Quanto foi que
pagaram a ela? Eu posso pagar muito mais pra ela desdizer tudo! Porque eu tenho
muito mais dinheiro do que todos vocês! Eu vou oferecer o dobro... o triplo a
ela para desmentir vocês!
COMO UM POSSESSO, BABY DESAPARECEU PORTA A FORA, ENQUANTO LIA
SOLUÇAVA, COM A MÃO NAS FACES, SENTADA NO SOFÁ DA GRANDE SALA.
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