quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 89


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 89

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Cyro  -  Tarcísio Meira
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Comendador Liberato  -  Macedo Netto
Dr. Max  -  Álvaro Aguiar
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Júlia  -  Ida Gomes


CENA 1  -  CASA DE CESÁRIO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

CESÁRIO, AFUNDADO NUMA POLTRONA, RECORDAVA OS ACONTECIMENTOS DO LAGO. A MORTE DA ESPOSA. OLHOS CERRADOS, MÃOS CRISPADAS. LEMBRAVA-SE CLARAMENTE DO DIÁLOGO.

FLASHBACK

ELE CHEGARA COM O BARCO, REMANDO COM VAGAR.

CESÁRIO  -  Depressa! Que demora!

JÚLIA  -  Esperou tanto tempo assim?

CESÁRIO  -  Um dia inteiro!

JÚLIA  -  Suba logo! (apontou para a margem oriental do lago) O pessoal está nos esperando do lado de lá.

ENTRARA NO BOTE, TOMOU OS REMOS DAS MÃOS DA MULHER. JÚLIA SORRIA FELIZ, ACARICIANDO OS PUNHOS GROSSOS DO MARIDO.

JÚLIA  -  Estou com os braços doendo. Nunca remei tanto em minha vida. Só uma vez, quando era mocinha....

PARARA UM POUCO AS REMADAS ENÉRGICAS. ESTAVAM NO CENTRO DAS ÁGUAS QUIETAS.

CESÁRIO  -  (perguntou, à queima-roupa) Sabe nadar?

JÚLIA  -  (sorriu) Que nada! Se este barco afundar, estou perdida!

TUDO ACONTECERA NUM MINUTO. PUSERA OS REMOS DE LADO E COM MOVIMENTOS ENÉRGICOS FIZERA O BARCO DANÇAR, A PRINCÍPIO LENTAMENTE. SEGUNDOS DEPOIS ERA COMO SE UM  VENDAVAL SOPRASSE SOBRE A FRACA EMBARCAÇÃO. JÚLIA ESBUGALHARA OS OLHOS, CIENTE DAS INTENÇÕES DELE.

JÚLIA  -  Cesário, pare com esta brincadeira! Eu não sei nadar! Pare com isso, Cesário! Pare com isso, miserável! Você quer me matar?! Quer me matar?!

A VISÃO ERA CLARA. O BOTE VIRARA E AFUNDARA EM POUCOS MINUTOS. A MÃO DE JÚLIA, POUCO A POUCO, DESAPARECERA NA QUIETUDE DAS ÁGUAS. EM SEGUIDA, BASTARAM A CESÁRIO ALGUMAS BRAÇADAS FIRMES ATÉ A ILHOTA E UM LONGO DESCANSO NA GRAMA SECA. O RESTO, TODO MUNDO SABIA. MAIS TARDE... BEM... MAIS TARDE ERA SÓ BOTAR A MÃO NA BOLADA. ERA PARA ISSO QUE SERVIA O CASAMENTO COM COMUNHÃO DE BENS. MILIONÁRIO. JOVEM. E O MUNDO PARA GASTAR DINHEIRO.

CORTA PARA:


CENA 2  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DO COMENDADOR  -  INTERIOR  -  DIA

TODO O LADO DIREITO DO COMENDADOR ESTAVA PARALISADO E A BOCA REPUXADA GROTESCAMENTE. BABY FALAVA COM O PAI, OLHANDO AFLITO PARA O PONTEIRO DO RELÓGIO. OS MINUTOS CORRIAM.

BABY  -  Como é que está? Não fique nervoso. Cyro vem já.

LIBERATO MOSTROU-LHE A MÃO DIREITA, INERTE.

BABY FRICCIONOU-LHE O BRAÇO. TENTANDO REATIVAR A CIRCULAÇÃO. O COMENDADOR GEMEU.

COMENDADOR  -  Queria lhe dizer...

BABY  -  Não diga nada, deixe que eu falo...

COMENDADOR  -  É importante. A fortuna Liberato...

BABY  -  Não se preocupe com isso, agora. Eu já disse que coloco à sua disposição.

COMENDADOR  -  Não. É sua. Faça o que quiser.... é sua...

BABY  -  (fitou-o fundo) Olha lá... você pode se arrepender... Pode estar num momento de descontrole emocional... e eu não quero que pense que vou me aproveitar do seu estado.

COMENDADOR  -  Faça o que quiser... o que quiser!... Mas não deixe... Otto Muller botar a mão nela! Nunca!

BABY  -  Fique sossegado. Quanto a isso, não deixo, mesmo. Mas também não quero pra mim!

CYRO ACABAVA DE CHEGAR.

CYRO  -  Vamos lá ver isso, comendador!

BABY COLOCOU-O À PAR DO QUE OCORRIA. O MÉDICO NOTOU A BOCA REPUXADA DO COMENDADOR.

BABY  -  Será grave?

CYRO  -  preciso de uma ambulância. Ele tem de ser removido para o hospital. Imediatamente!

BABY  -  O que é, Cyro? É grave?

CYRO  -  É, Baby. Mas pode ser salvo... isto é... ele não vai morrer disso! Está hemiplégico. Dê-me um telefone. Vou falar com Max. (Ricardo fez a ligação com o hospital e mandou chamar o diretor) Alô! Aqui é Cyro Valdez! Max, preciso que você mande uma ambulância aqui, à casa do comendador, com urgência. Ótimo. Ficarei á espera.

CORTA PARA:

CENA 3  -  AMBULANCIA  -  INTERIOR  -  DIA

OS DOIS MÉDICOS SENTAVAM-SE NO BANCO INTERNO DA AMBULÂNCIA, OBSERVANDO O PACIENTE ESTIRADO NA MACA.

MAX  -  ... só não me conformo é com o seu desaparecimento atual. Você é um cientista.... não devia vender peixe, na praça de porto Azul.

CYRO  -  Não tenha receio, Max. Depois de vender peixe, eu faço uma boa assepsia antes de atender um doente.

MAX  -  Você devia separar as coisas...

Cyro  -  Eu separo... a meu modo.

O VEÍCULO BALANÇOU AO ULTRAPASSAR UM BURACO. AUGUSTO LIBERATO GEMEU ALTO.

MAX  -  E se ele precisar de uma nova operação?

CYRO  -  Se ainda puder entrar em seu hospital, pode me chamar que irei operá-lo.

MAX  -  Nós o chamaremos.

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO SALTOU À PORTA DO HOSPITAL ONDE RICARDO JÁ O ESPERAVA EM SEU SEDAN. O MÉDICO DESPEDIU-SE DOS COLEGAS E ENTROU NO AUTOMÓVEL.

CYRO  -  Ele deve escapar, Ricardo... mas não ficará bom de todo. Baby o encontrou no antigo quarto de Elisa...

RICARDO  -  Foi. Ultimamente ele não saía dali. O que você conclui disso?

CYRO  -  Que ele tem verdadeira paixão pela mulher que o traiu há 25 anos atrás. Ela voltou... e ele sentiu obrigação de puni-la através de Baby, a quem ele estima como a um filho...

RICARDO  -  Você acha que ele estima Baby?

CYRO  -  Tenho certeza. E não foi a paixão por Elisa que o derrubou. Foi o remorso pelo que fez com Inês e Baby.

RICARDO  -  (manobrou o volante numa curva fechada) Por que as pessoas fazem coisas tão difíceis, Cyro?

CYRO  -  Pergunte... a si mesmo, meu pai!

RICARDO ESTREMECEU, CRISPANDO AS MÃOS NO VOLANTE. MAS NÃO VOLTOU O ROSTO, NEM UM MÚSCULO DA FACE REVELOU AOS OLHOS ATENTOS DO CIENTISTA A EMOÇÃO QUE SE APOSSARA DELE.

RICARDO PISOU MAIS FORTE NO ACELERADOR. O PONTEIRO DO VELOCÍMETRO CORREU CÉLERE POR SOBRE OS NÚMEROS DA QUILOMETRAGEM.

FIM DO CAPÍTULO 89


Nenhum comentário:

Postar um comentário