Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni
Figueira
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Ester -
Gloria Menezes
Baby -
Claudio Cavalcanti
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Comendador
Liberato - Macedo Netto
Catarina -
Lídia Mattos
Paulus -
Emiliano Queiroz
CENA 1 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - DIA
BABY E O DR. RICARDO ACABAVAM DE CHEGAR À RESIDENCIA. A
EMPREGADA VEIO ATENDÊ-LOS.
BABY - Oi, lindeza, cadê meu pai?
EMPREGADA - O senhor comendador está no gabinete, com
visitas.
BABY - Assunto importante?
EMPREGADA - Parece que sim. Pediu pra ninguém incomodar.
O UÍSQUE ESTAVA À MÃO E O RAPAZ PREPAROU DUAS DOSES DUPLAS.
BABY - Gelo pra gente, lindeza.
RICARDO SE SENTOU NA POLTRONA, ENQUANTO BABY LIGAVA O
ESTÉREO, EM BAIXO VOLUME. TINHA DE AGUARDAR O TÉRMINO DA CONVERSA DO
COMENDADOR.
RICARDO - Vamos acalmar os nervos, Baby. Um uísque até
que ajuda.
BABY MEXEU O UÍSQUE COM O INDICADOR E TOMOU UM GOLE DEMORADO.
BABY - Vou botar o velho em brios. Ou eu mando de
vez naquela porcaria, ou entrego os pontos.
RICARDO - (animador) Não, você não vai entregar os pontos.
É natural que seu pai esteja agindo com certa cautela para não ferir
suscetibilidades...
BABY - Que ferir ou não ferir suscetibilidades! Não
tem nada disso! Ou a gente age ou não age!
RICARDO - Acho que é o momento de agir. Mas acho que
você também tem de agir com muita diplomacia.
ALGUNS MINUTOS DEPOIS, A PORTA DO ESCRITÓRIO PARTICULAR DO
COMENDADOR SE ABRIU. BABY EMPALIDECEU. CATARINA SE DESPEDIA DO IRMÃO.
FISIONOMIA DE QUEM SE ENCONTRAVA ABSOLUTAMENTE SENHORA DO MUNDO. O COMENDADOR
TINHA OS OLHOS VERMELHOS E A TESTA ENRUGADA. PAULUS SORRIA TRAIÇOEIRAMENTE.
CATARINA - (ao cruzar com o rapaz) Deus te abençoe e te
dê juízo!
BABY - O que é isso? Um complô contra mim?
PAULUS - (dirigiu-se ao comendador e ignorou a
pergunta do presidente da Companhia) Então? Estamos combinados?
COMENDADOR LIBERATO
- Sim. Combinados!
PAULUS PAROU DIANTE DO RAPAZ. VOLTOU-SE PARA O MILIONÁRIO.
PAULUS - Não seria interessante avisar Baby e o Dr.
Ricardo, já que estão aqui?
BABY - Avisar de quê?
COMENDADOR LIBERATO
- O Dr. Paulus substituirá Otto
durante sua ausência.
BABY - (quase aos gritos) Por que Otto precisa de
substituto?
CATARINA - (com orgulho e empáfia) Porque esta é a minha
vontade. Porque as ordens do meu filho devem ser cumpridas.
BABY - (encarou a velha, ruminando ódio) A senhora
não manda nada! Nada de nada, tia Catarina! Deve cuidar de rezar o terço e
esperar a morte...
CATARINA FICOU
VERMELHA DE RAIVA.
COMENDADOR LIBERATO
- Respeite sua tia, Baby!
BABY - (virando-lhe as costas) Essa é forte demais,
velho!
CATARINA - Vamos embora, Paulus!
OS DOIS PARTIRAM, SEM OLHAR A FISIONOMIA DE ESPANTO DO DR.
RICARDO E O AR SOMBRIO DE LIBERATO.
BABY - Daqui a pouco ela cisma de botar na direção
das minas um louco fugido do hospício, mais louco do que o maluco do filho
dela. E você é obrigado a obedecer, pai?
COMENDADOR LIBERATO
- Obedeço o que está dentro da
lógica. Dr. Paulus está bem por dentro da maneira de Otto dirigir e nos será
útil. Não é uma substituição oficial. É uma situação provisória. Otto vai
voltar ao trabalho logo que melhorar.
BABY - Sabe o que mais? Vou largar tudo de mão.
RICARDO - Seja sensato!
BABY - (apontou um dedo para o velho sentado à sua
frente) Ele me fez romper com tudo porque esperava de mim uma reação. Eu tive a
reação e agora ele vem com essa... não me dá apoio em nada! Pois eu largo esta
pinoia, agora mesmo! (procurou no catálogo um número de telefone) Onde
guardaram o número de Beth Santiago que coloquei na primeira página?
COMENDADOR LIBERATO
- (saltou da cadeira) Você não
vai voltar à vida de antes!
BABY TINHA ACHADO O NÚMERO E COMEÇOU A DISCAR. PAROU NA
SEGUNDA RODADA.
BABY - Vou fazer coisa melhor. Aquela sua
empregadinha linda está de folga, Ricardo?
O ENGENHEIRO OLHOU DE SOSLAIO PARA O VELHO À SUA FRENTE.
RICARDO - Deixe Inês em paz, Baby!
COMENDADOR LIBERATO
- Não vou deixar você fazer isso!
BABY - Até nisso quer se meter, velho?
COMENDADOR LIBERATO
- É uma garota de boa índole. Uma
menina de bem. Basta o que você já fez.
O TELEFONE SE ESPATIFOU NO CHÃO, ATIRADO COM RAIVA PELO JOVEM
ENFURECIDO. DEIXOU A SALA SEM SEQUER OLHAR PARA TRÁS.
RICARDO - (ainda traumatizado com o rumo tomado pela
conversa) É para serem obedecidas as ordens do Sr. Otto?
COMENDADOR LIBERATO
- É, Ricardo. Infelizmente estou
sendo forçado a isso. E não me faça perguntas porque não poderei responder.
CORTA PARA
CENA 2 -
HOSPITAL - SALA DE ESPERA -
INTERIOR - NOITE
ESTER CONVERSAVA COM O DR. CYRO.
CYRO - Mudei... apenas porque não permiti que você
entrasse no quarto de Otto Muller?
ESTER - Não entendi bem a sua atitude.
CYRO - Eu é que não entendo a sua. Você odeia esse
homem e de repente parece muito sentida porque não a deixei entrar no quarto
dele!
ESTER - (com voz meiga, procurou explicar) Ele está
mal, Cyro. E apesar de odiá-lo, não desejo que ele morra.
CYRO - Se pensa assim, deve compreender melhor a
minha atitude. Se a deixasse entrar, poderia dar a impressão de que eu estaria
desejando a sua morte. Coloque-se no meu lugar. Veja a minha situação...
ESTER - Por que você aceitou o caso dele? Não devia,
Cyro! Não devia!
CYRO - Não podia recusar. Como homem não gosto de
Otto. Não só porque é mau, de péssimo caráter, mas porque também, como seu
ex-marido, a escraviza. No entanto, na condição de médico, Ester, tenho de me
esquecer disto tudo e tentar tudo para salvá-lo. E a responsabilidade da vida
dele é maior para mim do que para qualquer outro médico.
CYRO A ABRAÇOU, COM TERNURA, INDIFERENTE AOS OLHARES
ADMIRADOS DAS ENFERMEIRAS E ATENDENTES.
CORTA PARA:
CENA 3 - CASA
DE ESTER - SALA DE JANTAR -
INTERIOR - NOITE
DEPOIS DE CRUZAR EM ALGUNS MINUTOS O CENTRO DA CAPITAL
CATARINENSE NO SEU BELO SEDAN AZUL, CYRO VALDEZ JANTAVA NA CASA PARTICULAR DE
ESTER.
ESTER - (com ironia) Pensei que, por dever
profissional, você fosse sugerir que não deveríamos mais nos ver.
CYRO - Não vou sugerir isso porque é absurdo. Mas
tenho de reconhecer que não devemos, agora, dar um passo definitivo.
ESTER - (amuada) Imaginava que me dissesse isso.
CYRO - (mastigava um
pedaço de galinha assada) E é por dever profissional.
ESTER - Claro. Você cuidando de Otto tem de manter as
aparências e fingir que nada existe entre nós.
CYRO - Detesto fingimento (bebeu um gole de vinho)
No entanto não podemos, também, enfrentar a situação enquanto ele está doente.
ESTER - (parou de comer e o olhou, com tristeza) Quer
dizer que este encontro... será uma despedida?
CYRO - (encarou-a com ar severo) Sua ironia não me
agrada, Ester...
ESTER - (nervosa) Você me pergunta por que insisti em
entrar no quarto dele. Porque me sinto culpada do que aconteceu. Eu provoquei o
acidente.
CYRO - Estava previsto, Ester. Eu já tinha avisado
você...
ESTER - Você disse que eu podia evitá-lo. Eu o
provoquei, porque no fundo eu desejava que ele morresse. Só me apavorei quando
vi o fato consumado.
CYRO - (esticou a mão direita por sobre a mesa,
apertando a da mulher) Você é humana. E o fato de ter se arrependido já redimiu
a sua culpa.
ESTER - Para nós dois foi muito ruim o que aconteceu.
CYRO - Moralmente, foi. Vamos ser obrigados a
esperar.
ESTER - ... e a fingir.... e a sufocar tudo o que
sentimos. Não é isso o que quer dizer?
CYRO - Agora, é preciso ter paciência.
CYRO LEVANTOU-SE, DEU A VOLTA À MESA E TOMOU-A NOS BRAÇOS
FORTES. OS LÁBIOS DE AMBOS UNIRAM-SE, APAIXONADAMENTE.