quinta-feira, 31 de julho de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 39



Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
 CAPÍTULO 39
Participam deste capítulo
Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Comendador Liberato  -  Macedo Netto
Catarina  -  Lídia Mattos
Paulus  -  Emiliano Queiroz
 
CENA 1  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA
BABY E O DR. RICARDO ACABAVAM DE CHEGAR À RESIDENCIA. A EMPREGADA VEIO ATENDÊ-LOS.
BABY  -  Oi, lindeza, cadê meu pai?
EMPREGADA  -  O senhor comendador está no gabinete, com visitas.
BABY  -  Assunto importante?
EMPREGADA  -  Parece que sim. Pediu pra ninguém incomodar.
O UÍSQUE ESTAVA À MÃO E O RAPAZ PREPAROU DUAS DOSES DUPLAS.
BABY  -  Gelo pra gente, lindeza.
RICARDO SE SENTOU NA POLTRONA, ENQUANTO BABY LIGAVA O ESTÉREO, EM BAIXO VOLUME. TINHA DE AGUARDAR O TÉRMINO DA CONVERSA DO COMENDADOR.
RICARDO  -  Vamos acalmar os nervos, Baby. Um uísque até que ajuda.
BABY MEXEU O UÍSQUE COM O INDICADOR E TOMOU UM GOLE DEMORADO.
BABY  -  Vou botar o velho em brios. Ou eu mando de vez naquela porcaria, ou entrego os pontos.
RICARDO  -  (animador) Não, você não vai entregar os pontos. É natural que seu pai esteja agindo com certa cautela para não ferir suscetibilidades...
BABY  -  Que ferir ou não ferir suscetibilidades! Não tem nada disso! Ou a gente age ou não age!
RICARDO  -  Acho que é o momento de agir. Mas acho que você também tem de agir com muita diplomacia.
 
ALGUNS MINUTOS DEPOIS, A PORTA DO ESCRITÓRIO PARTICULAR DO COMENDADOR SE ABRIU. BABY EMPALIDECEU. CATARINA SE DESPEDIA DO IRMÃO. FISIONOMIA DE QUEM SE ENCONTRAVA ABSOLUTAMENTE SENHORA DO MUNDO. O COMENDADOR TINHA OS OLHOS VERMELHOS E A TESTA ENRUGADA. PAULUS SORRIA TRAIÇOEIRAMENTE.
CATARINA  -  (ao cruzar com o rapaz) Deus te abençoe e te dê juízo!
BABY  -  O que é isso? Um complô contra mim?
PAULUS  -  (dirigiu-se ao comendador e ignorou a pergunta do presidente da Companhia) Então? Estamos combinados?
COMENDADOR LIBERATO  -  Sim. Combinados!
PAULUS PAROU DIANTE DO RAPAZ. VOLTOU-SE PARA O MILIONÁRIO.
PAULUS  -  Não seria interessante avisar Baby e o Dr. Ricardo, já que estão aqui?
BABY  -  Avisar de quê?
COMENDADOR LIBERATO  -  O Dr. Paulus substituirá Otto durante sua ausência.
BABY  -  (quase aos gritos) Por que Otto precisa de substituto?
CATARINA  -  (com orgulho e empáfia) Porque esta é a minha vontade. Porque as ordens do meu filho devem ser cumpridas.
BABY  -  (encarou a velha, ruminando ódio) A senhora não manda nada! Nada de nada, tia Catarina! Deve cuidar de rezar o terço e esperar a morte...
CATARINA  FICOU VERMELHA DE RAIVA.
COMENDADOR LIBERATO  -   Respeite sua tia, Baby!
BABY  -  (virando-lhe as costas) Essa é forte demais, velho!
CATARINA  -  Vamos embora, Paulus!
OS DOIS PARTIRAM, SEM OLHAR A FISIONOMIA DE ESPANTO DO DR. RICARDO E O AR SOMBRIO DE LIBERATO.
BABY  -  Daqui a pouco ela cisma de botar na direção das minas um louco fugido do hospício, mais louco do que o maluco do filho dela. E você é obrigado a obedecer, pai?
COMENDADOR LIBERATO  -  Obedeço o que está dentro da lógica. Dr. Paulus está bem por dentro da maneira de Otto dirigir e nos será útil. Não é uma substituição oficial. É uma situação provisória. Otto vai voltar ao trabalho logo que melhorar.
BABY  -  Sabe o que mais? Vou largar tudo de mão.
RICARDO  -  Seja sensato!
BABY  -  (apontou um dedo para o velho sentado à sua frente) Ele me fez romper com tudo porque esperava de mim uma reação. Eu tive a reação e agora ele vem com essa... não me dá apoio em nada! Pois eu largo esta pinoia, agora mesmo! (procurou no catálogo um número de telefone) Onde guardaram o número de Beth Santiago que coloquei na primeira página?
COMENDADOR LIBERATO  -  (saltou da cadeira) Você não vai voltar à vida de antes!
BABY TINHA ACHADO O NÚMERO E COMEÇOU A DISCAR. PAROU NA SEGUNDA RODADA.
BABY  -  Vou fazer coisa melhor. Aquela sua empregadinha linda está de folga, Ricardo?
O ENGENHEIRO OLHOU DE SOSLAIO PARA O VELHO À SUA FRENTE.
RICARDO  -  Deixe Inês em paz, Baby!
COMENDADOR LIBERATO  -  Não vou deixar você fazer isso!
BABY  -  Até nisso quer se meter, velho?
COMENDADOR LIBERATO  -  É uma garota de boa índole. Uma menina de bem. Basta o que você já fez.
O TELEFONE SE ESPATIFOU NO CHÃO, ATIRADO COM RAIVA PELO JOVEM ENFURECIDO. DEIXOU A SALA SEM SEQUER OLHAR PARA TRÁS.
RICARDO  -  (ainda traumatizado com o rumo tomado pela conversa) É para serem obedecidas as ordens do Sr. Otto?
COMENDADOR LIBERATO  -   É, Ricardo. Infelizmente estou sendo forçado a isso. E não me faça perguntas porque não poderei responder.
CORTA PARA
 
CENA 2  -  HOSPITAL  -  SALA DE ESPERA  -  INTERIOR  -  NOITE
ESTER CONVERSAVA COM O DR. CYRO.
CYRO  -  Mudei... apenas porque não permiti que você entrasse no quarto de Otto Muller?
ESTER  -  Não entendi bem a sua atitude.
CYRO  -  Eu é que não entendo a sua. Você odeia esse homem e de repente parece muito sentida porque não a deixei entrar no quarto dele!
ESTER  -  (com voz meiga, procurou explicar) Ele está mal, Cyro. E apesar de odiá-lo, não desejo que ele morra.
CYRO  -  Se pensa assim, deve compreender melhor a minha atitude. Se a deixasse entrar, poderia dar a impressão de que eu estaria desejando a sua morte. Coloque-se no meu lugar. Veja a minha situação...
ESTER  -  Por que você aceitou o caso dele? Não devia, Cyro! Não devia!
CYRO  -  Não podia recusar. Como homem não gosto de Otto. Não só porque é mau, de péssimo caráter, mas porque também, como seu ex-marido, a escraviza. No entanto, na condição de médico, Ester, tenho de me esquecer disto tudo e tentar tudo para salvá-lo. E a responsabilidade da vida dele é maior para mim do que para qualquer outro médico.
CYRO A ABRAÇOU, COM TERNURA, INDIFERENTE AOS OLHARES ADMIRADOS DAS ENFERMEIRAS E ATENDENTES.
CORTA PARA:
CENA 3  -  CASA DE ESTER  -  SALA DE JANTAR  -  INTERIOR  -  NOITE
DEPOIS DE CRUZAR EM ALGUNS MINUTOS O CENTRO DA CAPITAL CATARINENSE NO SEU BELO SEDAN AZUL, CYRO VALDEZ JANTAVA NA CASA PARTICULAR DE ESTER.
ESTER  -  (com ironia) Pensei que, por dever profissional, você fosse sugerir que não deveríamos mais nos ver.
CYRO  -  Não vou sugerir isso porque é absurdo. Mas tenho de reconhecer que não devemos, agora, dar um passo definitivo.
ESTER  -  (amuada) Imaginava que me dissesse isso.
CYRO -  (mastigava um pedaço de galinha assada) E é por dever profissional.
ESTER  -  Claro. Você cuidando de Otto tem de manter as aparências e fingir que nada existe entre nós.
CYRO  -  Detesto fingimento (bebeu um gole de vinho) No entanto não podemos, também, enfrentar a situação enquanto ele está doente.
ESTER  -  (parou de comer e o olhou, com tristeza) Quer dizer que este encontro... será uma despedida?
CYRO  -  (encarou-a com ar severo) Sua ironia não me agrada, Ester...
ESTER  -  (nervosa) Você me pergunta por que insisti em entrar no quarto dele. Porque me sinto culpada do que aconteceu. Eu provoquei o acidente.
CYRO  -  Estava previsto, Ester. Eu já tinha avisado você...
ESTER  -  Você disse que eu podia evitá-lo. Eu o provoquei, porque no fundo eu desejava que ele morresse. Só me apavorei quando vi o fato consumado.
CYRO  -  (esticou a mão direita por sobre a mesa, apertando a da mulher) Você é humana. E o fato de ter se arrependido já redimiu a sua culpa.
ESTER  -  Para nós dois foi muito ruim o que aconteceu.
CYRO  -  Moralmente, foi. Vamos ser obrigados a esperar.
ESTER  -  ... e a fingir.... e a sufocar tudo o que sentimos. Não é isso o que quer dizer?
CYRO  -  Agora, é preciso ter paciência.
CYRO LEVANTOU-SE, DEU A VOLTA À MESA E TOMOU-A NOS BRAÇOS FORTES. OS LÁBIOS DE AMBOS UNIRAM-SE, APAIXONADAMENTE.
 FIM DO CAPÍTULO 39
 
 
 


O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 38



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 38

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Lia  -  Arlete Sales
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Catarina  -  Lidia Mattos
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Pedrão  -  Waldir Onofre
Pé-na-Cova  -  Antonio Pitanga

  
CENA 1  -  VILA DOS MINEIROS  -  BAR DO PEPINO  -  INTERIOR  -  DIA

NO DIA SEGUINTE, O ASSUNTO SE CONCENTRAVA NO DESASTRE SOFRIDO PELO SUPERINTENDENTE DAS MINAS.

NO BAR DO PEPINO, PEDRÃO TOMAVA A PRIMEIRA “DOSE” DO DIA.

PEDRÃO  -  O homão sofreu um acidente, no duro?

PEPINO  -  Sofreu, estou dizendo. Dr. Ricardo me disse.

PEDRÃO  -  E o desgraçado não morreu?

PEPINO  -  Não, não morreu. Teve um mal súbito, no carro... uma dor no coração... aí o bicho capotou.

PÉ-NA-COVA  -  Aquilo é ruindade! O coração dele deve de tá podre!

CORTA PARA:
Cyro, Ester e Paulus

CENA 2  -  SEDE DA ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS  -  INTERIOR  -  DIA

O ACIDENTE ERA O TEMA DE TODAS AS CONVERSAS.

BABY LIBERATO ESTAVA SENTADO À SUA MESA DE TRABALHO, NA COMPANHIA DO DR. RICARDO. FUMAVA TRANQUILAMENTE, FAZENDO BOLINHAS DE FUMAÇA AZULADA.

BABY  -  No duro que meu primo foi acidentado?

RICARDO  -  Já passei no hospital pela manhã. Quem está tratando dele é o Dr. Cyro.

BABY  -  (com indiferença) Está mal?

RICARDO  -  Enfarte. Pode até morrer.

BABY  -  (sorrindo) Puxa vida! Mas é sorte demais.

RICARDO -  (mostrou-lhe um papel com o timbre da companhia) Otto recomendou que só o abrisse no dia seguinte ao de sua viagem a São Paulo.

BABY  -  (apoderando-se do documento) Vamos ver que ordem maluca foi essa que o primo deixou, antes de viajar.

RICARDO  -  (batendo na folha de papel) Isto aqui, por exemplo, Baby... acho uma loucura.

BABY  ESTICOU AS PERNAS SOBRE A MESA E BOCEJOU, ANTES DE LER O PAPEL QUE RICARDO LHE ENTREGOU.

BABY  -  Dormi mal pra burro, esta noite! (devolveu o papel ao engenheiro) Leia em voz alta.

RICARDO  -  Preste atenção... Otto quer que mande reabrir as minas de cadáveres... você sabe o que é isso?

BABY  -  (puxou a perna da mesa, com agilidade) Hem? Cadáver? Ah, cadáver! Sei. Claro que sei. É alguém que já morreu? Digo... o que quer dizer... minas de cadáveres... Acho que é mina onde se enterra gente...

RICARDO  -  (deu a volta em torno da mesa e mostrou um mapa na parede) Não, Baby... não é nada disso! Chamam-se minas de cadáveres... porque se aproveita nelas o trabalho de mineiros já velhos, aposentados, imprestáveis... até doentes. Inclusive, Baby... é ilegal. Pela lei não pode funcionar e se o Ministério do Trabalho sabe... a multa além de pesada pode vir acompanhada do fechamento temporário das minas. Um prejuízo e tanto para a gente.

BABY  -  Você, o que acha?

RICARDO  -  Acho que a ordem de Otto é absurda!

BABY  -  Pois não execute, pronto!

CATARINA  -  (a voz estridente) Não faça isso!

OS DOIS HOMENS VOLTARAM-SE AO MESMO TEMPO. A MÃE DE OTTO MULLER ACABAVA DE DAR ENTRADA NO ESCRITÓRIO. MUITO PINTADA E COM JÓIAS NO PULSO, DEDOS E PESCOÇO.

CATARINA  -  (continuou) Se meu filho mandou, a ordem tem de ser executada!

PAULUS ACABAVA DE FECHAR A PORTA DO ESCRITÓRIO.

PAULUS  -  Eu e Dona Catarina viemos aqui, justamente para lembrar que Otto deixou algumas ordens.

CATARINA  -  E eu aconselho você a obedecê-las, Baby!

BABY  -  E se eu não obedecer?

CATARINA  -  Pergunte ao seu pai... ele lhe dirá porque deve atender a tudo que Otto determinar. Quero que fique bem claro. Apesar de doente, meu filho continua dirigindo, como antes, a Companhia!

BABY  -  Vocês entraram sem ordem, no meu escritório, bagunçando a sala do presidente. Vem aqui me dar ordens e ainda exigir que eu cumpra aquilo que está absolutamente fora de propósito. Fora da lei. E que pode vir a prejudicar toda a estrutura da mina, apenas pela vaidade de querer que uma ordem do miserável do Otto seja cumprida! Isto, numa reunião de assembleia, é motivo para botar esse alemão no olho da rua.

A VELHA TRINCOU OS DENTES DE ÓDIO.

RICARDO  -  Como está passando o senhor Otto?

CATARINA  -  (fitando o rosto do sobrinho) Ele não vai morrer... podem ficar certos! Vamos, Paulus!

BATERAM COM ESTRÉPITO A PORTA DE MADEIRA, ANTE O OLHAR DESAFIADOR DO NOVO PRESIDENTE DA COMPANHIA.

BABY  -  Que pena que ele não morreu!

RICARDO  -  Bem, meu caro, acho que você tem de tomar uma atitude. É agora ou nunca!

BABY  -  Vamos lá (levantou-se) Temos de ter uma conversa séria com o velho.

CORTA PARA:

CENA 3  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

DEPOIS DOS PRIMEIROS EXAMES DO DIA, CYRO VALDEZ CONFIRMAVA A GRAVIDADE DO ESTADO DE OTTO.

CYRO  -  Por um verdadeiro milagre ele não morreu. Um caso em mil, tem anotado resistência a este tipo de distúrbio cardíaco.

O MÉDICO TOMOU A PRESSÃO DO PACIENTE, REGISTROU OS BATIMENTOS E OLHOU, MAIS UMA VEZ, O TRAÇADO DO ELETROCARDIOGRAMA.

LIA  -  (apreensiva, diante das feições sérias do médico) Como está ele, doutor?

CYRO  -  Suprimi alguma medicação. O coração suportou mas o enfarte é extenso e grave. Muito grave ainda.

A MAÇANETA DA PORTA GIROU E A ENFERMEIRA APARECEU ACOMPANHADA POR ESTER. LIA IMPEDIU QUE A EX-ESPOSA DE OTTO ENTRASSE NO QUARTO.

ESTER  -  Quero ver Otto.

LIA  -  Quer ver... ou quer matá-lo?

ESTER  -  Não seja estúpida, Lia!

CYRO APROXIMOU-SE DA PORTA E SAIU PARA O CORREDOR.

LIA  -  (arrogante, pronta a investir contra a mulher) Você desejou que ele morresse, não desejou?

ESTER  -  Não. Eu nunca desejei a morte de Otto. Só queria a minha liberdade. Para isso, não era preciso que ele morresse...

CYRO  -  (aproximou-se das duas) Por favor... este não é local para discussões!

ESTER  -  Cyro, quero ver Otto.

LIA  -  Dr. Cyro é responsável. Não acredito que deixe você se aproximar.

CYRO  -  Por que... você quer vê-lo?

ESTER  -  Preciso, Cyro.

LIA  -  Ela nunca se importou com ele!

ESTER  -  (implorou) Por favor...

CYRO  -  Eu sinto. Não posso deixá-la entrar.

LIA  -  (sorriu, triunfante) É por isso que confio no senhor, Dr. Cyro.

CYRO  -  É o estado dele, Ester. É gravíssimo. Qualquer emoção lhe será fatal.

ESTER  -  (os olhos encheram-se de lágrimas) Eu compreendo.. compreendo, sim.

AFASTOU-SE A PASSOS RÁPIDOS PELO CORREDOR SILENCIOSO DO HOSPITAL.

LIA  -  Muito obrigada, doutor!

CYRO  -  (explodiu, sem grosseria, mas com voz implacável, baixa e tensa) Não é preciso agradecer. Não a proibi de entrar para agradar a senhora. Proibi porque a presença dela poderia causar emoção ao paciente.

ENTROU NO QUARTO, DIRIGIU-SE PARA A ENFERMEIRA, POSTADA JUNTO À CAMA DE OTTO MULLER E PEDIU A FICHA DO DOENTE. ESCREVEU ALGUMAS ANOTAÇÕES, DEVOLVENDO-A À MOÇA.

CYRO  -  (dirigiu-se a Lia, encostada à mesinha de cabeceira) A senhora está como acompanhante?

LIA  -  Estou.

CYRO  -  Mas ninguém deve entrar neste quarto, nem a própria mãe dele. E isto é um hospital, não uma casa particular. Não se pode abrir privilégios, seja qual for a condição social do doente.

LIA  -  Certo, doutor.

CYRO  -  (à enfermeira) Esteja atenta. Qualquer anormalidade, avise o médico residente. Dr. Roberto me comunicará imediatamente.


FIM DO CAPÍTULO 38