Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 33
Participam deste
capítulo
Ester -
Gloria Menezes
Otto Muller -
Jardel Filho
Baby -
Claudio Cavalcanti
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Zoraida -
Jurema Penna
CENA
1 -
FLORIANÓPOLIS - RUAS
- EXTERIOR -
NOITE
(continuação
da última cena do capítulo anterior)
SEM DAR ATENÇÃO AO AVISO DE PAULUS, ESTER GIROU A
MAÇANETA E SAIU, ENTROU NO CARRO E RODOU A CHAVE. O MOTOR ATENDEU DE PRONTO.
ESTER ACELEROU ENQUANTO DEBREAVA CALMAMENTE. O AUTOMÓVEL DESLOCOU-SE POR ENTRE
OS PINGOS DE CHUVA, QUE AUMENTARA DE INTENSIDADE.
DO LADO OPOSTO, ESCONDIDO NA PEQUENA RUA TRANSVERSAL,
OTTO MULLER VIU O CARRO APONTAR NO PORTÃO, DESCER A CALÇADA E PASSAR À SUA
FRENTE, EM MARCHA REDUZIDA. LIGOU SEU POTENTE MOTOR E SEGUIU À DISTANCIA O
AUTOMÓVEL DA MULHER.
ERA-LHE DIFÍCIL ACOMPANHAR O CARRO DA FRENTE, POR
CAUSA DO MANTO DE ÁGUA QUE TEIMAVA EM DESABAR SOBRE A TERRA. APENAS AS LUZES
VERMELHAS ORIENTAVAM-NO.
FAZIA ALGUNS MINUTOS QUE OS DOIS CRUZAVAM AS RUAS DE
FLORIANÓPOLIS QUANDO, AO OLHAR PELO RETROVISOR, ESTER RECONHECEU O AUTOMÓVEL
QUE VINHA ATRÁS. O FOCO DE LUZ DE UM POSTE ILUMINARA-O POR INTEIRO.
A MULHER OUVIU, COMO NUM ECO, A VOZ DO ADVOGADO.
PAULUS - “Como é que você vai se arranjar, se ele
cismar de perseguir o Dr. Cyro? Lembra-se do aviador? O que acontecer com o
médico, a responsabilidade será sua! Lembra-se do aviador? Lembra-se do
aviador? Do aviador?”
AUTOMÁTICAMENTE ELA LEVOU UMA DAS MÃOS AO OUVIDO, COMO
A REPELIR A VOZ INSISTENTE. IMPRIMIU MAIOR VELOCIDADE AO AUTOMÓVEL, PROCURANDO
FUGIR À PERSEGUIÇÃO.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - SALA
- INTERIOR - NOITE
O VELHO LIBERATO BEBIA UM COPO DE LEITE E OUVIA
INTERESSADO AS PALAVRAS DO FILHO. BABY ANDAVA DE UM LADO PARA OUTRO NO CENTRO
DA SALA.
BABY - Acho que o senhor tem que saber de uma coisa.
No princípio eu estava muito chaterado com a idéia de assumir um cargo tão
importante. Tive que romper com uma série de coisas que me agradavam...
COMENDADOR LIBERATO
- E daí?
BABY - Pois é. Tudo isso me aborreceu demais. Porque
eu tenho uma maneira de ser e não gosto de mudar. Agora, faço questão absoluta
de assumir o cargo, o quanto antes!
LIBERATO QUASE CHOROU DE ALEGRIA.
COMENDADOR LIBERATO
- (dirigiu-se à governanta, num
misto de felicidade e orgulho) Veja se ele está com febre, Zoraida!
ZORAIDA - (erguendo as mãos para o céu) Que coisa boa,
minha Nossa Senhora! Meu menino criou juízo!
CORREU A ABRAÇAR O RAPAZ QUE SE DESVIOU, FUGINDO AOS
EXCESSOS EMOCIONAIS DA EMPREGADA.
BABY - Pombas! (num tom zombeteiro) Não é nada
disso! É que eu resolvi abrir uma guerra contra aquele salafrário, aquele
patife do meu primo Otto!
COMENDADOR LIBERATO
- Menos mal. Até que enfim você
compreendeu alguma coisa importante.
BABY - Aquele cachorro dos infernos está pensando
que pode me passar para trás...
COMENDADOR LIBERATO
- (exultava) Sua reação é muito
boa, filho. Já tenho a impressão de estar falando com alguém que possui uma
alma, um coração, enfim... alguém que tem sangue nas veias. Antes, você me
parecia um boneco.
BABY - (explodiu) Droga! Não é nada disso! Não estou
preocupado se sou boneco ou gente! Quero saber quando é que eu vou assumir a
porcaria daquele cargo pra poder enfrentar o Otto. Quero esmagar aquele verme
careca!
COMENDADOR LIBERATO
- Quinta-feira faremos a
assembléia. Dias depois você assumirá.
BABY - Eu vou mandar naquela droga! Otto vai ver uma
coisa!
COMENDADOR LIBERATO
- Otto está precisando de uma boa
lição! Uma lição de que não se esqueça jamais... jamais.
CORTA PARA:
CENA
2 -
FLORIANÓPOLIS - RUA
- EXTERIOR -
NOITE
NUNCA O MALVADO SUPERINTENDENTE PODERIA SABER COMO E
POR QUE PERDERA DE VISTA, TÃO DE REPENTE, O CARRO QUE SEGUIA. ESTER MANOBROU
PARA A DIREITA E, SE APROVEITANDO DE UM TRECHO AINDA NÃO ILUMINADO, APAGOU AS
LUZES DO CARRO ENVEREDANDO POR UMA ESTRADA DE ACESSO À PRINCIPAL, QUE JÁ
CONHECIA ANTERIORMENTE. MAIS ALGUMAS CENTENAS DE METROS E SAIRIA POR TRÁS DO
CARRO DO EX-MARIDO, EM SENTIDO CONTRÁRIO.
CORTA PARA:
CENA
3 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - QUARTO DE ESTER -
INTERIOR - NOITE
COM UM SENTIMENTO DE VITÓRIA, MAS COM UMA RÉSTIA DE
MEDO, ESTER FUMAVA NO QUARTO, ENQUANTO AGUARDAVA A VISITA INEVITÁVEL DE OTTO
MULLER.
OS PASSOS NA ESCADA ADVERTIRAM-NA. ERA CHEGADA A HORA.
ACENDEU A LUZ ÀS PRIMEIRAS BATIDAS FORTES CONTRA A MADEIRA DA PORTA. ABRIU-A,
COM OLHAR TEMEROSO.
OTTO - (entrou e se sentou na poltrona) Assustada?
ESTER - O que você quer de mim?
OTTO - Fazia tempo que não tínhamos um encontro
assim... a sós.
ESTER - Por que me seguiu?
OTTO - (levantou-se para preparar um drinque)
Você... saiu para se encontrar com um homem. Alguém que está virando totalmente
sua cabeça. De algum tempo para cá venho notando. Você não é mais a mesma. Está
diferente. Há um brilho estranho nos seus olhos. Deixam transparecer um fogo interior. Eu já
havia notado. Fiquei calado esperando que você me confessasse seus amores com
outro homem.
ESTER - Eu não tenho de lhe dar satisfações dos meus
sentimentos. Nem dos meus atos.
OTTO - (sorriu friamente) Deixou-o esperando, hem?
Isto não é nada delicado! (foi até o telefone e retirou-o do gancho com um
movimento rápido) Avise-o... que você não irá... porque teve medo do seu
ex-marido.
ESTER - (enfiou o aparelho no descanso, com raiva) Eu
só faço o que acho que devo fazer. Não é preciso que você ordene.
OTTO - (ironizou) Estou sendo... condescendente,
compreensivo...
ESTER - O que você pretende, Otto? O que você
pretende?
HOUVE UMA PAUSA INQUIETANTE ANTES QUE OTTO MULLER
ENCHESSE OS COPOS DE UÍSQUE E SE SENTASSE NA POLTRONA, COM AS PERNAS CRUZADAS,
DEMONSTRANDO ABSOLUTA TRANQUILIDADE.
OTTO - Quem é ele, Ester? Não pode dizer... ou não
quer?
ESTER - Não quero. Não devo. Sei que você está com
alguma idéia na cabeça.
OTTO - (riu zombeteiramente) O que seria de um homem
sem idéias?
ESTER - Idéias contra mim!
OTTO - Quero guiá-la, orientá-la. Você pode ter se
apaixonado por alguém que não a merece...
ESTER - Ele merece...
OTTO - Quem?
ESTER - O melhor homem do mundo.
OTTO - Confessa que está apaixonada?
ESTER - Se
era isto que queria ouvir... confesso. Estou sim, estou apaixonada. Encontrei
alguém para me tirar do inferno em que eu vivo. Minha vida agora tem um sentido
e se você fosse um sujeito normal, se tivesse um pingo de humanidade,
compreenderia agora que eu tenho direito... direito de procurar uma felicidade
que até hoje me foi negada...
OTTO - (bebendo um trago da bebida) Quem é ele?
ESTER - Eu não vou dizer, Otto.
OTTO - (explodiu, num berro) Droga! Está com medo?
ESTER - O que você pretende, Otto? O quê?
OTTO - Não aceitar este papel que você quer me
impor, Ester!
ESTER - Papel de quê, se não existe nada entre nós?
Se nunca existiu, Otto?
OTTO - Você foi minha mulher, isto não quer dizer
nada?
ESTER - Fui! Não sou mais! Estamos legalmente
separados! Por que acha que pode me escravizar, Otto? Que direitos você tem de
impedir um outro homem na minha vida?
OTTO - Reconheço que não tenho direitos, mas não
quero, pronto!
ESTER - (sorriu, irônica) Ah, não quer? Não quer por
quê? Porque é um fanático egoísta... porque isto fere a sua vaidade... porque
atinge profundamente o seu orgulho.
OTTO - Que seja! Por isto e por muitas outras
coisas! E é bom você se recordar de que a única vez que isto aconteceu, as
coisas não acabaram bem.
ESTER - (indignada) Você está falando de Otávio
Sales?
OTTO - Justamente. Falo do aviador.
ESTER - Então você confessa que mandou matá-lo?
OTTO - Não estou confessando nada! Mas também não
quero dizer que o mesmo não vá acontecer com esse seu novo caso!
ESTER - (sentindo a ira dominá-la por inteiro) Isto é
uma ameaça, Otto?
OTTO - É. É uma ameaça, Ester!
APÓS UM SILENCIO DEMORADO, APERTANDO PERIGOSAMENTE A
TAÇA DE BEBIDA, OTTO BEBEU UM GOLE E SE SERVIU DE OUTRA DOSE. ESTAVA DE COSTAS
PARA A MULHER, PERPLEXA. AO SE VIRAR, ESTAVA NOVAMENTE CALMO, COM A VOZ
CONTROLADA E MANSA.
OTTO - Uma viagem... será interessante. Ajudará você
a esquecer. É interessante para todos nós... principalmente para o seu novo apaixonado...
que você esqueça definitivamente... e coloque um ponto final nesta aventura. A
partir deste momento. ( colocou o copo sobre a mesa de centro e abriu a porta
para deixar o aposento) É uma ordem, Ester!
FIM DO
CAPÍTULO 33
NÃO PERCA, NA PRÓXIMA TERÇA, CAPÍTULO INÉDITO!
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