Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 34
Participam deste
capítulo
Ester -
Gloria Menezes
Cyro -
Tarcísio Meira
Prof. Valdez - Enio
Santos
Orjana -
Neusa Amaral
Clara -
Lícia Magna
Júlia - Ida
Gomes
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Baby -
Claudio Cavalcanti
Zoraida -
Jurema Penna
CENA
1 -
PORTO AZUL - CASA DE BÁRBARA -
SALA - INTERIOR
- DIA
BEM OU MAL O VELHO PROFESSOR VALDEZ IA VIVENDO COMO
DEUS DESEJA. BRIGAS DIÁRIAS COM A
EX-MULHER, PROBLEMAS PARA MONTAGEM DE SEU LABORATÓRIO PARTICULAR NO CASARÃO
ANTIGO. E AS CONSTANTES REFERENCIAS DE BÁRBARA AO SEGUNDO ESPOSO, O ALEMÃO
HANS, “UM HOMEM QUE DEUS TINHA LEVADO DO MUNDO PORQUE O MUNDO É DOS MAUS”. O
PROFESSOR VALDEZ AMEAÇARA DIVERSAS VEZES FAZER AS MALAS “E BAIXAR NOUTRO
TERREIRO”, NÃO FOSSE A INTERVENÇÃO SEMPRE OPORTUNA DA FILHA.
ORJANA ENCONTROU-O NO SALÃO DE ENTRADA, SENTADO A LER
UMA REVISTA SOBRE ASTRONOMIA. ERGUEU A CABEÇA AO SENTIR O OLHAR DA FILHA.
PROF. VALDEZ
- Que foi?
ORJANA - (os lábios trêmulos) Papai... meus
pressentimentos... estão me dominando.
PROF. VALDEZ
- (tirando os óculos) Como?
ORJANA - O medo que eu tenho do Cyro se envolver em
situações das quais não possa se livrar. O medo de perdê-lo, pai...
PROF. VALDEZ
- (levantou-se e abraçou a filha)
Como assim?
ORJANA - Hoje eu soube... que Otto Muller mandou
eliminar um rapaz que se apaixonou por Ester Keller.
PROF. VALDEZ
- E daí?
ORJANA - Daí... pode acontecer o mesmo com Cyro. E
meus pressentimentos podem se realizar...
PROF. VALDEZ
- Mas não existe nada que prove
que isto pode acontecer.
ORJANA - Pai, eu sabia. Se ele voltasse para cá a vida
dele estaria correndo perigo. É uma coisa que eu trago dentro de mim, o senhor
sabe! Não sei explicar como, nem por que, mas eu tenho medo que ele morra!
PROF. VALDEZ
- Todos nós temos de morrer um
dia!
ORJANA - Mas não na idade do Cyro. Me entenda, pai! Se
eu morrer amanhã, já terei vivido o suficiente! Cyro, não. Ele ainda não pode
morrer!
PROF. VALDEZ
- Ora, ora, Orjana! Você está mal
impressionada! Reaja contra esses pensamentos.
ORJANA - Papai, seja franco: o senhor acredita que
Cyro não pertença a este mundo?
PROF. VALDEZ
- (encarou-a com olhos severos)
Tenho absoluta certeza!
ORJANA - Então que destino terá aqui?
PROF. VALDEZ
- Um destino bom. Ele é um homem
bom. O mundo de onde ele veio só reconhece a paz e ele quer transmitir isso à
humanidade cá da terra. Mais nada. Pura e simplesmente isso.
ORJANA - Ele nasceu de maneira estranha. Tenho medo
que morra da mesma maneira. Que se envolva em situações que o empurrem para
este destino, compreende?
PROF. VALDEZ
- Orjana, se for destino, nós não
podemos impedir. Ninguém modifica o destino.
ORJANA - Eu, que sou mãe, posso. E vou impedir. Em
primeiro lugar, ele tem de se afastar desta mulher.
CENA
2 -
PORTO AZUL - CASA DE BÁRBARA -
QUARTO DE CYRO - INTERIOR
- NOITE
NO QUARTO SEMI-ESCURO, DEITADO COM AS MÃOS SOB A
CABEÇA, O MÉDICO MEDITAVA AOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS. UMA LEVE PANCADA NA PORTA
ALERTOU-LHE OS SENTIDOS.
CLARA - (a criada entregou-lhe um envelope) Chegou
agora!
CYRO - Obrigado!
CYRO ACENDEU A LÂMPADA DO ABAJUR, RASGOU O PAPEL E
ABRIU A CARTA. TINHA RECONHECIDO A LETRA DE ESTER. ERA COMO SE A VOZ DA MULHER
LHE CHEGASSE AOS OUVIDOS, ENQUANTO DEVORAVA O CONTEÚDO DO BILHETE.
ESTER - (voz em off) “Dr. Cyro. Este bilhete tem por
objetivo agradecer-lhe toda a sua atenção durante o tempo em que durou a nossa
amizade. Amizade que é hoje interrompida por motivos imperiosos. Peço-lhe
que compreenda e leve em consideração este rompimento. Não
procure conhecer causas. Posso dizer-lhe, apenas, que a felicidade do meu filho
foi ameaçada. E coloco a felicidade dele acima de qualquer outro sentimento.
Não me procure. Esqueça o que se passou. Eu farei o mesmo. Ester Keller”.
O BILHETE, AMASSADO, FOI ATIRADO À CESTA DE LIXO.
PROCUROU O TELEFONE. A VOZ DE ESTER PARECIA-LHE PRESENTE AO PEQUENO QUARTO.
ESTER - (voz em off) “Posso dizer-lhe apenas que a
felicidade do meu filho foi ameaçada. E coloco a felicidade dele acima de
qualquer outro sentimento. Esqueça o que se passou. Eu farei o mesmo”.
O TELEFONE CHAMOU VÁRIAS VEZES.
DO OUTRO LADO DA LINHA, JÚLIA ATENDEU.
CYRO - Por favor, eu gostaria de falar com Dona
Ester. Aqui é o Dr. Cyro Valdez.
JÚLIA - Sinto muito, mas Dona Ester não se encontra
em casa.
CYRO DESLIGOU O TELEFONE, PENSATIVO. O MUNDO VOLTARA A
CAIR-LHE SOBRE A CABEÇA.
CORTA PARA:
CENA
3 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO -
SALA INTERIOR - DIA
POR UMA DESSAS COINCIDENCIAS INEXPLICÁVEIS ESTER
OUVIRA TODA A CONVERSA DE OTTO COM PAULUS. INÊS FÔRA LEVADA À MINA E COAGIDA A
PRESTAR INFORMAÇÕES SOBRE A EXTENSÃO DE SUA AMIZADE COM O JOVEM PLAYBOY. O
MOTIVO DE SUA TENTATIVA DE SUICÍDIO PREVALECIA SOBRE TUDO O MAIS. A MOÇA, MESMO DIANTE DAS PRESSÕES DO CHEFÃO, SE
NEGARA A REVELAR A VERDADE.
ESTER TOMOU O CARRO E SE APRESSOU A CONTAR TUDO AO
COMENDADOR. ENCONTROU BABY NO VASTO SALÃO DE RECEPÇÃO, ENTREGUE À BEBIDA. O
COMENDADOR RECEBEU-A ALEGREMENTE. E COMEÇOU A SER CIENTIFICADO COS
ACONTECIMENTOS.
COMENDADOR LIBERATO
- Mas... você tem certeza, Ester?
ESTER - Pela conversa pode-se tirar muitas
conclusões. Não estou avisando para provocar desentendimentos. Achei que vocês
deviam saber dos planos de Otto. Também é possível que eu esteja enganada...
COMENDADOR LIBERATO
- Não, não está. Eu sei que o
Otto é capaz de qualquer coisa para impedir a posse desse... (olhou desgostoso
para o filho que bebia, deitado no sofá, desligado do mundo) desse desmiolado.
Você fez muito bem em avisar, minha filha. É mais uma prova inequívoca de sua
amizade.
ESTER - Ou do meu ódio por Otto. Sei que este não é
um ato digno, da minha parte, mas com um homem como Otto, qualquer noção de
dignidade fica anulada.
O COMENDADOR ATRAVESSOU A SALA, A PASSOS LENTOS, E SE
SENTOU AO LADO DO FILHO.
COMENDADOR LIBERATO
- Você ouviu. Essa moça... pode
desmoralizar você?
BABY - (com olhos vermelhos, copo na mão) Ah, pode!
Qualquer pessoa pode me desmoralizar! Basta meter na cabeça que teve um caso
comigo. Se tem o apoio do Otto, qualquer sujeitinha pode dizer que eu fiz isso
e aquilo!
COMENDADOR LIBERATO
- (segurou com força o braço do
rapaz, tentando afastar o copo de bebida) Eu quero saber se essa moça tem algo
contra você.
BABY - Ora, a moça não é nenhum bebê! O que agrada a
Otto é que ela é empregada doméstica. Isso é um prato para um tipo como ele!
COMENDADOR LIBERATO
- (com sarcasmo) Coisa que para
você não teve a menor importância!
BABY - No duro que não tem mesmo!
COMENDADOR LIBERATO
- Você não tem é vergonha!
(voltou-se para Ester, calada a um canto da sala) Eu pedi a ele pra mudar de
vida. Sabia que isso ia acontecer...
BABY - (levantou o copo pesado de álcool) Olha aqui,
se acha que é motivo pra me
chutar do cargo, vai dizendo! Deixa o Otto continuar
lá. Deixa ele continuar fazendo as burradas de sempre. Eu
não estou fazendo questão, mesmo, de coisa alguma!
BABY APANHOU UMA GARRAFA DE UÍSQUE E SUBIU AS ESCADAS,
TROPEÇANDO.
ESTER - (dirigiu-se ao comendador) O senhor não pode
impedir que Otto tome alguma atitude?
COMENDADOR LIBERATO
- Tenho que jogar com a sorte.
Agora, vai depender muito mais da moça do que do próprio Otto. E eu me sinto
ridículo, envolvendo-me em casos tão mesquinhos.
O COMENDADOR APERTOU O PEITO, COMO SE SENTISSE UMA DOR
REPENTINA. A MOÇA ACUDIU-O.
ESTER - (gritou para a governanta) Zoraida, venha
cá...
ZORAIDA - O Dr. Cyro preveniu. Ele não deve ter
emoções.
AS FEIÇÕES DO MILIONÁRIO HAVIAM-SE TRANSFORMADO NUMA
MÁSCARA DE CÊRA. O COMENDADOR ESTAVA LÍVIDO, OS LÁBIOS BRANCOS. SUAVA E
RESPIRAVA COM DIFICULDADE.
ESTER - Acho que fiz muito mal em vir trazer este
problema.
COMENDADOR LIBERATO
- (falava com dificuldade) Não...
Não se sinta culpada de nada. O culpado é ele mesmo, o meu próprio filho.
Queria fazer dele um homem de bem. Está sendo difícil. Muito difícil, meu Deus
do Céu!
ZORAIDA - (encaminhou-se para o telefone) Vou chamar o
Dr. Cyro.
ESTER ESTREMECEU, E BUSCOU A SAÍDA PARA DEIXAR A SALA.
ESTER - Bem... comendador... eu tenho de ir buscar o
Ivanzinho...
COMENDADOR LIBERATO
- Espere um pouco e fique comigo.
O COMENDADOR APERTOU COM FORÇA A MÃO DA MULHER. A VOZ
DE ZORAIDA CHEGOU-LHE AOS OUVIDOS.
ZORAIDA - Do hospital? O Dr. Cyro, por favor.
COMENDADOR LIBERATO
- Eu me sinto, às vezes, muito
só, Ester.
ZORAIDA - Dr. Cyro? Aqui é da casa do Comendador
Liberato. Ele não está passando bem. É possível o senhor vir até aqui?
ESTER TENTOU LIVRAR A MÃO QUE O COMENDADOR RETINHA
ENTRE AS SUAS.
FIM DO
CAPÍTULO 34
... e na próxima quinta, o 35. capítulo!
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