quarta-feira, 2 de julho de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 26


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 26

Participam deste capítulo

Cyro – Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Inês  -  Betty Faria
RICARDO  -  Edney Giovenazzi
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Tula  -  Lúcia Alves

CENA 1  -  RESTAURANTE PORTO AZUL  -  ESTRADA DA PRAIA  -  EXTERIOR  -  DIA.

SENTADA A UMA MESA NUM LOCAL RESERVADO DO RESTAURANTE, ESTER VIU A CHEGADA DO CARRO DE CYRO. O MÉDICO FREOU E BATEU A PORTA SEM CHAMAR A ATENÇÃO.

O “PORTO AZUL” SE ESCONDIA NUMA ESTRADA ÍNGRIME, SOB ÁRVORES FRONDOSAS. DIANTE DELE, A PRAIA IMENSA, ONDE SE DESTACAVAM DEZENAS DE REDES DE PESCAR, ESTICADAS NOS VARAIS.

CYRO PERCEBEU A MÃO QUE O CHAMAVA.

ESTER RECEBEU-O COM UM SORRISO.

O MÉDICO BEIJOU-LHE A MÃO.

ESTER  -  (retirando a mão que o médico beijara e segurava entre as suas) Não quero que pense ser um encontro do meu agrado.

CYRO  -  Não? Por quê?

ESTER  -  Porque vim forçada. Contra minha vontade. Só para avisar você das coisas que andam contando por aí a seu respeito.

CYRO  -  (sorria) Eu sei que falam muita coisa a meu respeito.

ESTER  -  Talvez você não saiba que sua fama de santo mistura-se à fama de conquistador (Cyro franziu a testa, admirado) Afinal, quem é você? Um santo mesmo... ou... ou um mistificador?

CYRO  -  Nem uma coisa, nem outra, Ester.

ESTER  -  Você salvou a filha do pescador?

CYRO  -  Salvei. A mocinha se perdeu num barco, em alto-mar. Trouxe a garota para a praia.

ESTER  -  Só isso?

CYRO  -  (começava a intrigar-se) Só. Mais nada.

ESTER  -  Você a beijou?

CYRO COMPREENDEU TUDO E SORRIU GOSTOSAMENTE ANTE O ABORRECIMENTO DA COMPANHEIRA. PROCUROU SEGURAR AS MÃOS QUE ESTER RECOLHEU, ZANGADA.

CYRO  -  Agora... entendi!

ESTER  -  Você apenas ri! Não se defende?

CYRO  -  Não, porque não fiz nada que mereça defesa.

ESTER  -  (enciumada, começava a retirar-se) Por que não volta para a filha do pescador?

CYRO  -  (não permitiu) Seu ciúme me faz muito bem, querida!

ESTER  -  (enrubesceu) Eu não estou enciumada. Estou decepcionada.

OS OLHOS DO MÉDICO NÃO ESCONDIAM SUA PAIXÃO PELA MULHER À SUA FRENTE. DEVORAVAM-NA POR INTEIRO.

CYRO  -  Tive a primeira e definitiva prova do seu amor.

ESTER ERGUEU OS OLHOS PARA O HOMEM A QUEM, ACABAVA DE COMPREENDER, AMAVA COM TODAS AS SUAS FORÇAS.

CYRO  -  Fique quietinha e ouça... Eu lhe devo uma explicação sobre o que aconteceu comigo... e a filha do pescador.

O MÉDICO EXPLICOU O ACIDENTE E A TÉCNICA UTILIZADA PARA SALVAR A MOÇA DA MORTE CERTA. ESTER COMEÇOU A SORRIR, ATENTA À AULA QUE CYRO LHE MINISTRAVA SOBRE SALVAMENTO DE AFOGADOS. DE MÃOS ENTRELAÇADAS, AGUARDAVAM O GARÇOM E AS BEBIDAS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE RICARDO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA.

CESÁRIO TOCOU A CAMPAINHA E TULA, A FILHA DO ENGENHEIRO, ABRIU A PORTA PARA O MINEIRO.

CESÁRIO  -  (fitando-a com interêsse) Boa tarde... eu... eu gostaria de falar com o Dr. Ricardo... Ele mandou me chamar.

TULA  -  (chamou) Pai!

A JOVEM  MORENA DE CABELOS LONGOS E FINOS ENCAMINHOU-SE PARA O INTERIOR DA RESIDÊNCIA, SOB O OLHAR ATENTO DO MINEIRO.

RICARDO APROXIMOU-SE DO RECÉM-CHEGADO.

CESÁRIO  -  Mandou me chamar, Dr. Ricardo?

RICARDO  -  (as feições perturbadas) É. Preciso falar com você. É uma tolice, mas... eu quero saber que assunto tão particular você já tem para tratar com o Sr. Otto Muller. Afinal... fui eu quem coloquei você na Companhia. Que combinação existe entre você, Carpinelli e o superintendente?

CESÁRIO  -  (empalideceu) Nenhuma... nenhuma (nervoso) Nada... nada que possa lhe preocupar, Dr. Ricardo!

RICARDO  -  (insistiu, fazendo valer sua moral sobre o empregado) Que conversa particular foi aquela?

CESÁRIO  -  (mãos trêmulas, mal podia esconder o nervosismo) Uma... uma... bobage. Ele... ele... pediu... pra... pra... mim arranjar... quero dizer... mostrou uma coleção de sapatos de mulher... e quer aumentar sua coleção. Foi isso... pode acreditar!

RICARDO  -  (sem acreditar) Que teria dado no Sr. Otto, para, sem conhecer você, pedir-lhe para lhe arranjar mais um caso... para sua coleção?

CESÁRIO  -  Sei lá! O homão é louco! Deu lá, na telha dele! Me achou com cara de alcoviteiro!

RICARDO DEU POR FIM O INTERROGATÓRIO. SABIA QUE ALGUMA COISA DE MUITO SECRETO HAVIA SIDO TRAMADO NOS APOSENTOS DE OTTO MULLER. E O QUE QUER QUE FOSSE, ENVOLVIA O EMPREGADO QUE ELE MESMO ENCAMINHARA À COMPANHIA.

CORTA PARA:
Tula (Lúcia Alves)
CENA 3  -  RESTAURANTE PORTO AZUL  -  INTERIOR  -  DIA

JÁ HAVIAM SE PASSADO DUAS HORAS. ESTER OLHOU O RELÓGIO.

ESTER  -  É pena que eu tenha que ir embora.

CYRO  -  Eu levo você.

ESTER  -  Não convém que nos vejam juntos. Já lhe disse que o Dr. Paulus e Lia sabem de tudo a nosso respeito. Se me fizerem perguntas novamente... eu não vou poder negar que te amo!

CYRO  -  Acho que não há razão para negar!

ESTER  -  Otto não vai se conformar. É capaz de prejudicá-lo, agora que você foi convidado para dirigir a clínica cardiológica do nosso melhor hospital.

CYRO  -  Não se preocupe tanto por mim, amor. Não sou invulnerável, mas ninguém pode fazer nada contra mim. Sou um homem que nada deve a ninguém. Quanto a você, me apavora saber que está no meio dessa gente... a menos...

ESTER  -  Quê?

CYRO  -  A menos que você venha comigo... ou para mim... e que nos casemos noutro país. É uma atitude. Uma solução.

ESTER  -  Eu iria com você a qualquer parte do mundo, se pudesse levar meu filho.

CYRO  -  Faça uma tentativa para levá-lo.

ESTER  -  (depois de refletir por alguns minutos, apertou com força as mãos que seguravam as suas) Eu vou procurar uma maneira... talvez a encontre.

CORTA PARA:

CENA 4  -  PORTO AZUL  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  EXTERIOR  -  DIA

JONAS CORREU À PORTA, AO OUVIR O CARRO FREAR.

MESTRE JONAS  -  Dr. Cyro!

CYRO  -  Olá, Mestre Jonas!

O MÉDICO APERTOU A MÃO CALOSA DO PESCADOR.

MESTRE JONAS  -  Inês vai ficá alegre da vida. Tava aí agoniada chamando pelo sinhô!

CYRO  -  É. Eu recebi o recado que me deu o Lucas. Ela ainda está no quarto?

MESTRE JONAS  -  Ainda. Tá fraquinha, coitada! Fiz ela ficá deitada!

CYRO  -  (bateu nas costas do amigo) Isso. Ela vai ficar forte logo. É nova e saudável.

MESTRE JONAS  - Agorinha mesmo ela tava dizendo: - ah, pai, ele num vem mais. Eu disse: se num vim, num tem importancia, pois ele já deixou em você a vontade de vivê. Doutô... ando cismado com essa menina. Que será que ela teve pra querê dá cabo da vida? O bem que a gente recebe de Deus!

CYRO  -  É muito jovem, mestre Jonas, e as moças às vezes precisam de orientação.

MESTRE JONAS  -  Diz prela, Doutô, que a vida é preciosa... e que a gente num tem o direito de se desfazê dela, não.

CYRO  -  Ela já entendeu isso.

O PESCADOR CONDUZIU O MÉDICO ATÉ O INTERIOR DA CHOUPANA.

CORTA PARA:

CENA 5  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  QUARTO DE INÊS  -  INTERIOR  -  DIA

INÊS ERGUEU O BUSTO AO PERCEBER A PRESENÇA DO HOMEM QUE SALVARA SUA VIDA.

INÊS  -  Doutô... tava aqui rezando pro sinhô voltá.

CYRO  -  Está muito bem disposta!

INÊS  -  Mas, por dentro... tou penando no fogo do inferno. Repetindo comigo suas palavras... única coisa boa que restô aqui nos meus ouvido!

CYRO  -  Quem é ele?

INÊS  -  (fazendo-se de desentendida) Hem?

CYRO  -  O rapaz que te deixou.

INÊS  -  Como sabe?

CYRO  -  Eu não sei, mas deve ser a mesma história que se repete... ou será que estou enganado?

INÊS TORNOU A RECOSTAR-SE NA CAMA, VIRANDO O ROSTO PARA O CANTO DA CAMA, SUFOCANDO AS LÁGRIMAS.

INÊS  -  Bem... que... eu...

CYRO  -  Não é obrigada a dizer, Inês... Mas eu só quero ajudar.

INÊS  -  Ele não me quer mais, doutô... não me quer mais... e eu não sei o que vou fazê da minha vida!

FIM DO CAPÍTULO 26

 E NA PRÓXIMA SEXTA, O CAPÍTULO 27!





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