Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 26
Participam deste
capítulo
Cyro – Tarcísio Meira
Ester - Gloria
Menezes
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Inês -
Betty Faria
RICARDO -
Edney Giovenazzi
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabella
Tula -
Lúcia Alves
CENA
1 -
RESTAURANTE PORTO AZUL - ESTRADA DA PRAIA -
EXTERIOR - DIA.
SENTADA A UMA MESA NUM LOCAL RESERVADO DO RESTAURANTE,
ESTER VIU A CHEGADA DO CARRO DE CYRO. O MÉDICO FREOU E BATEU A PORTA SEM CHAMAR
A ATENÇÃO.
O “PORTO AZUL” SE ESCONDIA NUMA ESTRADA ÍNGRIME, SOB
ÁRVORES FRONDOSAS. DIANTE DELE, A PRAIA IMENSA, ONDE SE DESTACAVAM DEZENAS DE
REDES DE PESCAR, ESTICADAS NOS VARAIS.
CYRO PERCEBEU A MÃO QUE O CHAMAVA.
ESTER RECEBEU-O COM UM SORRISO.
O MÉDICO BEIJOU-LHE A MÃO.
ESTER - (retirando a mão que o médico beijara e
segurava entre as suas) Não quero que pense ser um encontro do meu agrado.
CYRO - Não? Por quê?
ESTER - Porque vim forçada. Contra minha vontade. Só
para avisar você das coisas que andam contando por aí a seu respeito.
CYRO - (sorria) Eu sei que falam muita coisa a meu
respeito.
ESTER - Talvez você não saiba que sua fama de santo
mistura-se à fama de conquistador (Cyro franziu a testa, admirado) Afinal, quem
é você? Um santo mesmo... ou... ou um mistificador?
CYRO - Nem uma coisa, nem outra, Ester.
ESTER - Você salvou a filha do pescador?
CYRO - Salvei. A mocinha se perdeu num barco, em
alto-mar. Trouxe a garota para a praia.
ESTER - Só isso?
CYRO - (começava a intrigar-se) Só. Mais nada.
ESTER - Você a beijou?
CYRO COMPREENDEU TUDO E SORRIU GOSTOSAMENTE ANTE O
ABORRECIMENTO DA COMPANHEIRA. PROCUROU SEGURAR AS MÃOS QUE ESTER RECOLHEU,
ZANGADA.
CYRO - Agora... entendi!
ESTER - Você apenas ri! Não se defende?
CYRO - Não, porque não fiz nada que mereça defesa.
ESTER - (enciumada, começava a retirar-se) Por que
não volta para a filha do pescador?
CYRO - (não permitiu) Seu ciúme me faz muito bem,
querida!
ESTER - (enrubesceu) Eu não estou enciumada. Estou
decepcionada.
OS OLHOS DO MÉDICO NÃO ESCONDIAM SUA PAIXÃO PELA
MULHER À SUA FRENTE. DEVORAVAM-NA POR INTEIRO.
CYRO - Tive a primeira e definitiva prova do seu
amor.
ESTER ERGUEU OS OLHOS PARA O HOMEM A QUEM, ACABAVA DE
COMPREENDER, AMAVA COM TODAS AS SUAS FORÇAS.
CYRO - Fique quietinha e ouça... Eu lhe devo uma
explicação sobre o que aconteceu comigo... e a filha do pescador.
O MÉDICO EXPLICOU O ACIDENTE E A TÉCNICA UTILIZADA
PARA SALVAR A MOÇA DA MORTE CERTA. ESTER COMEÇOU A SORRIR, ATENTA À AULA QUE
CYRO LHE MINISTRAVA SOBRE SALVAMENTO DE AFOGADOS. DE MÃOS ENTRELAÇADAS,
AGUARDAVAM O GARÇOM E AS BEBIDAS.
CORTA PARA:
CENA
2 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE RICARDO -
SALA - INTERIOR
- DIA.
CESÁRIO TOCOU A CAMPAINHA E TULA, A FILHA DO
ENGENHEIRO, ABRIU A PORTA PARA O MINEIRO.
CESÁRIO - (fitando-a com interêsse) Boa tarde... eu...
eu gostaria de falar com o Dr. Ricardo... Ele mandou me chamar.
TULA - (chamou) Pai!
A JOVEM MORENA
DE CABELOS LONGOS E FINOS ENCAMINHOU-SE PARA O INTERIOR DA RESIDÊNCIA, SOB O OLHAR ATENTO DO MINEIRO.
RICARDO APROXIMOU-SE DO RECÉM-CHEGADO.
CESÁRIO - Mandou me chamar, Dr. Ricardo?
RICARDO - (as feições perturbadas) É. Preciso falar com
você. É uma tolice, mas... eu quero saber que assunto tão particular você já
tem para tratar com o Sr. Otto Muller. Afinal... fui eu quem coloquei você na
Companhia. Que combinação existe entre você, Carpinelli e o superintendente?
CESÁRIO - (empalideceu) Nenhuma... nenhuma (nervoso)
Nada... nada que possa lhe preocupar, Dr. Ricardo!
RICARDO - (insistiu, fazendo valer sua moral sobre o
empregado) Que conversa particular foi aquela?
CESÁRIO - (mãos trêmulas, mal podia esconder o
nervosismo) Uma... uma... bobage. Ele... ele... pediu... pra... pra... mim
arranjar... quero dizer... mostrou uma coleção de sapatos de mulher... e quer
aumentar sua coleção. Foi isso... pode acreditar!
RICARDO - (sem acreditar) Que teria dado no Sr. Otto,
para, sem conhecer você, pedir-lhe para lhe arranjar mais um caso... para sua
coleção?
CESÁRIO - Sei lá! O homão é louco! Deu lá, na telha
dele! Me achou com cara de alcoviteiro!
RICARDO DEU POR FIM O INTERROGATÓRIO. SABIA QUE ALGUMA
COISA DE MUITO SECRETO HAVIA SIDO TRAMADO NOS APOSENTOS DE OTTO MULLER. E O QUE
QUER QUE FOSSE, ENVOLVIA O EMPREGADO QUE ELE MESMO ENCAMINHARA À COMPANHIA.
CORTA PARA:
Tula (Lúcia Alves) |
CENA
3 -
RESTAURANTE PORTO AZUL - INTERIOR
- DIA
JÁ HAVIAM SE PASSADO DUAS HORAS. ESTER OLHOU O
RELÓGIO.
ESTER - É pena que eu tenha que ir embora.
CYRO - Eu levo você.
ESTER - Não convém que nos vejam juntos. Já lhe disse
que o Dr. Paulus e Lia sabem de tudo a nosso respeito. Se me fizerem perguntas
novamente... eu não vou poder negar que te amo!
CYRO - Acho que não há razão para negar!
ESTER - Otto não vai se conformar. É capaz de
prejudicá-lo, agora que você foi convidado para dirigir a clínica cardiológica
do nosso melhor hospital.
CYRO - Não se preocupe tanto por mim, amor. Não sou
invulnerável, mas ninguém pode fazer nada contra mim. Sou um homem que nada
deve a ninguém. Quanto a você, me apavora saber que está no meio dessa gente...
a menos...
ESTER - Quê?
CYRO - A menos que você venha comigo... ou para
mim... e que nos casemos noutro país. É uma atitude. Uma solução.
ESTER - Eu iria com você a qualquer parte do mundo,
se pudesse levar meu filho.
CYRO - Faça uma tentativa para levá-lo.
ESTER - (depois de refletir por alguns minutos,
apertou com força as mãos que seguravam as suas) Eu vou procurar uma maneira...
talvez a encontre.
CORTA PARA:
CENA
4 -
PORTO AZUL - CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
EXTERIOR - DIA
JONAS CORREU À PORTA, AO OUVIR O CARRO FREAR.
MESTRE JONAS
- Dr. Cyro!
CYRO - Olá, Mestre Jonas!
O MÉDICO APERTOU A MÃO CALOSA DO PESCADOR.
MESTRE JONAS
- Inês vai ficá alegre da vida.
Tava aí agoniada chamando pelo sinhô!
CYRO - É. Eu recebi o recado que me deu o Lucas. Ela
ainda está no quarto?
MESTRE JONAS
- Ainda. Tá fraquinha, coitada!
Fiz ela ficá deitada!
CYRO - (bateu nas costas do amigo) Isso. Ela vai
ficar forte logo. É nova e saudável.
MESTRE JONAS -
Agorinha mesmo ela tava dizendo: - ah, pai, ele num vem mais. Eu disse: se num
vim, num tem importancia, pois ele já deixou em você a vontade de vivê.
Doutô... ando cismado com essa menina. Que será que ela teve pra querê dá cabo
da vida? O bem que a gente recebe de Deus!
CYRO - É muito jovem, mestre Jonas, e as moças às
vezes precisam de orientação.
MESTRE JONAS
- Diz prela, Doutô, que a vida é
preciosa... e que a gente num tem o direito de se desfazê dela, não.
CYRO - Ela já entendeu isso.
O PESCADOR CONDUZIU O MÉDICO ATÉ O INTERIOR DA
CHOUPANA.
CORTA PARA:
CENA
5 -
CHOUPANA DE MESTRE JONAS - QUARTO DE INÊS -
INTERIOR - DIA
INÊS ERGUEU O BUSTO AO PERCEBER A PRESENÇA DO HOMEM
QUE SALVARA SUA VIDA.
INÊS - Doutô... tava aqui rezando pro sinhô voltá.
CYRO - Está muito bem disposta!
INÊS - Mas, por dentro... tou penando no fogo do
inferno. Repetindo comigo suas palavras... única coisa boa que restô aqui nos
meus ouvido!
CYRO - Quem é ele?
INÊS - (fazendo-se de desentendida) Hem?
CYRO - O rapaz que te deixou.
INÊS - Como sabe?
CYRO - Eu não sei, mas deve ser a mesma história que
se repete... ou será que estou enganado?
INÊS TORNOU A RECOSTAR-SE NA CAMA, VIRANDO O ROSTO
PARA O CANTO DA CAMA, SUFOCANDO AS LÁGRIMAS.
INÊS - Bem... que... eu...
CYRO - Não é obrigada a dizer, Inês... Mas eu só
quero ajudar.
INÊS - Ele não me quer mais, doutô... não me quer
mais... e eu não sei o que vou fazê da minha vida!
FIM DO
CAPÍTULO 26
E NA PRÓXIMA SEXTA, O CAPÍTULO 27!
Nenhum comentário:
Postar um comentário