segunda-feira, 28 de julho de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 37



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 37

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Glória Menezes
Otto  -  Jardel Filho
Lia  -  Arlete Sales
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Catarina  -  Lidia Mattos
Júlia  -  Ida Gomes
Dr. Avelar  - Álvaro Aguiar
Dr. Roberto  -  Paulo Cesar Pereio


CENA 1  -  HOSPITAL  -  SALA DE CYRO  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA NOITE E O HOSPITAL ENTRAVA NA ROTINA DAS NOITES TARDIAS. APENAS A MOVIMENTAÇÃO INTERNA. ENFERMEIROS VISITANDO OS PACIENTES. MÉDICOS A SOCORRER OS CASOS MAIS URGENTES, OUTROS OCUPADOS NUMA OPERAÇÃO DELICADA.

DR. AVELAR  -  Cyro! Que milagre é esse! Você aqui, a esta hora!

CYRO  -  Vim inspecionar o material que chegou... (pegou nuns papéis sobre a mesinha de aço) Aqui está a lista do que mandamos buscar em Londres. Cardioscópio... máquina de circulação extracorpórea... desfribilador... instrumental cirúrgico especializado... e válvulas artificiais.

DR. AVELAR  -  Tudo em ordem?

CYRO  -  Tudo em ordem. Prontinhos para serem colocados em uso.

UM MÉDICO JOVEM ENTROU NO GABINETE. CYRO NOTOU-LHE O AR NERVOSO.

CYRO  -  Olá, Roberto. E o nosso doente, da sexta enfermaria... como está passando?

DR. ROBERTO  -  Foi bom o senhor chegar agora. Alguém o avisou?

CYRO  -  Não, por quê?

ROBERTO  -  Piorou muito, agora à noite.

CYRO  -  Vamos lá vê-lo.

ROBERTO  -  Foi providencial a sua vinda, doutor. Até parece que adivinhou.

CORTA PARA:

CENA 2  -  RODOVIA  -  EXTERIOR  -  NOITE

NÃO HAVIA OUTRA OPÇÃO. OU VIAJAR COM OTTO OU LHE PERMITIR LEVAR IVANZINHO PARA SÃO PAULO. ESTER PREFERIU O SACRIFÍCIO. AGORA O CARRO DESLIZAVA SOBRE O ASFALTO DA ESTRADA. OTTO ACELERAVA MAIS E O PONTEIRO DO VELOCÍMETRO OSCILAVA ENTRE 120 E 150 QUILÔMETROS. ESTER OLHAVA O LUMINOSO VERDE E A ESCURIDÃO À SUA FRENTE, CORTADA APENAS PELOS DOIS FOCOS DE LUZ QUE ABRIAM CAMINHO, POR ENTRE A CERRAÇÃO QUE SE TORNAVA MAIS DENSA À MEDIDA QUE A MADRUGADA SE APROXIMAVA.

OTTO  -  Então... a senhora pensou que pudesse manter um romance com o médico!

ESTER REMEMOROU A FESTA DE BABY LIBERATO E O DIÁLOGO ÁSPERO ENTRE OS DOIS HOMENS, QUANDO OTTO FÔRA BUSCÁ-LA E UM DE SEUS CAPANGAS TENTARA AGREDIR UM MINEIRO, AMIGO DE CYRO. TUDO FICARA REVELADO NAQUELA NOITE.

ESTER  -  Você deixou para discutir isso, justamente agora?

CYRO  -  Gosta dele?

ESTER  -  Que lhe interessa isso?

OTTO    -    Gosta?  (estava  tenso,  as  mãos retesadas em torno do volante) Responda, Ester!

ESTER   -  Pois bem,  você  é mesmo sádico. Quer saber a verdade? Gosto do Dr. Cyro. Estou apaixonada por ele.

OTTO  -  Apaixonada... apaixonada...

ESTER  -  Isso, quando muito, pode ferir a sua vaidade. Porque, nem ciúme você pode sentir...

OTTO  -  Pois eu estou com ciúme, Ester!

ESTER  -  A quem você quer enganar, Otto? A mim? Sabe que comigo pode tirar a máscara. Conheço você mais do que a mim mesma. Não foi por ciúme que você mandou matar Carlos...

OTTO  -  Não mandei matar o aviador, mas posso muito bem decidir que o Dr. Cyro não merece viver.

ESTER  -  (estremeceu) Pois muito bem. Tente. Tente fazer alguma coisa contra o Dr. Cyro. Eu ponho as cartas na mesa. Desmascaro você. Estou disposta a tudo. Digo a todos, até à polícia, quem você é: um neurótico, assassino. Assassino três vezes...

OTTO  -  (descontrolado) Ester, você está me irritando!

ESTER  -  Foi você quem começou, não foi? Pois agora, aguente. Primeiro, levou meu pai ao suicídio, portanto, você o matou. Depois foi Carlos... por último o negro Gabriel...

OTTO  -  (a voz baixa, irada) Cale-se, Ester!

ESTER  -  Se era problema de provas, eu encontro provas contra você. No caso de Carlos, por exemplo, eu posso conseguir o testemunho de Vanda. Sabe quem é Vanda, não sabe? A atriz de circo? Você tem um sapatinho dela... comprado a pêso de ouro! (Otto olhou-a espantado) Ela deve saber muita coisa a seu respeito.

OTTO  -  (gritou, fora de si) Pára de dizer asneiras!

TUDO ACONTECEU DE REPENTE. OTTO LEVOU AS MÃOS AO CENTRO DO PEITO, COMO SE UMA DOR VIOLENTA O ACOMETESSE. O CARRO DESGOVERNADO RODOPIOU. ESTER AINDA TENTOU MANOBRAR O VOLANTE, MAS O CORPO PESADO DO MOTORISTA IMPEDIU-LHE OS MOVIMENTOS. O SEDAN CAPOTOU, ARRASTOU-SE POR ALGUMAS DEZENAS DE METROS E TRANSFORMOU-SE NUM MONTE DE FERROS RETORCIDOS, AO BATER CONTRA AS LATERAIS ROCHOSAS DA ESTRADA. UMA DAS RODAS FICOU A GIRAR, TESTEMUNHA MUDA DOS ACONTECIMENTOS.

CORTA PARA:
Lia (Arlete Sales) e Otto (Jardel Filho)

CENA 3  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

LIA ATRAVESSOU A SALA. A MADRUGADA JÁ IA ALTA, E O TELEFONE TOCAVA.

LIA  -  Alô! Sim... pode falar. De onde? Que aconteceu? Como? Otto Muller deu entrada, agora, no hospital? Desastre? Onde? Ele está mal? Sim... e as pessoas que estavam com ele? Sei... obrigada. Irei... imediatamente!

DESLIGOU E DESCEU AS ESCADAS CORRENDO.

JÚLIA  -  (acendendo a luz da grande sala de visitas) O que foi?

LIA  -  Acabaram de telefonar do pronto-socorro. Otto está hospitalizado. O carro dele sofreu um desastre! É preciso avisar Dona Catarina.

JÚLIA  -  E Dona Ester... e o menino?

LIA  -  Escaparam... e parece que... milagrosamente. O carro virou bagaço...

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  SALA DE ESPERA  -  INTERIOR  -  NOITE

O DR. PAULUS LEVANTOU-SE E SE ENCAMINHOU PARA A ENFERMEIRA. OLHOU O RELÓGIO NO ALTO DA PAREDE. 4,30 DA MANHÃ. O DIA COMEÇAVA A NASCER.

PAULUS  -  Esperamos durante a noite inteira. Não tem nótícias ainda do Sr. Otto Muller?

ENFERMEIRA  -  Um momento (discou um número no telefone interno) São parentes?

CATARINA  -  Sou mãe dele.

ALGUÉM ATENDEU DO OUTRO LADO DA LINHA.

ENFERMEIRA  -  Dr. Roberto? Os parentes do Sr. Otto Muller estão impacientes... Sim... pois não (dirigiu-se à velha) Podem esperar um minuto? O médico que atendeu seu filho virá, em seguida.

PAULUS  -  (disfarçando o nervosismo) As pessoas que estavam com o Sr. Otto no carro... sabe como estão?

ENFERMEIRA  -  A criança e a senhora dele já foram medicadas e deixaram o hospital...

MINUTOS DEPOIS O MÉDICO EXPLICAVA TUDO.

DR. ROBERTO  -  Do desastre o Sr. Otto sofreu algumas escoriações sem importância. O mal que ocasionou o desastre é que nos preocupa.

CATARINA  -  (apreensiva) Que mal?

DR. ROBERTO  -  O Sr. Otto foi vitimado por um enfarte e seu estado é gravíssimo.

CATARINA  -  Enfarte! Mas... como é possível?

LIA  -  Eu sabia que isso tinha de acontecer. Otto não estava bem, nos últimos tempos. Muitas aflições, muitas preocupações com a mina. É um homem devotado ao trabalho e caridoso. Bom. Tinha de sofrer do coração...

PAULUS  -  Quer dizer que foi o enfarte que acarretou o desastre?

DR. ROBERTO  -  Exatamente. Pelo que ele explicou, a dor violenta que sentiu no peito fez com que largasse o volante. Aí o carro desgovernou-se.

LIA  -  (com renovada esperança) Então... ele não está inconsciente.

DR. ROBERTO  -  Não.

CATARINA  -  Podemos vê-lo?

DR. ROBERTO  -  Sinto muito, agora é impossível.

PAULUS  -  Não meça esforços para salvá-lo, doutor. Nem despesas.

DR. ROBERTO  -  Ele já está medicado de urgência, mas mandamos chamar o Dr. Cyro Valdez, que é o nosso chefe da cardiologia.

PAULUS  -  Dr. Cyro Valdez?! É quem vai tratar dele?

LIA  -  É um ótimo médico. Ele não podia estar em melhores mãos.

OS OLHOS DO MÉDICO SE DESVIARAM PARA A PORTA CENTRAL. CYRO ACABAVA DE CHEGAR. ROBERTO CORREU A RECEBÊ-LO.

DR. ROBERTO  -  Obrigado por ter vindo logo. É um caso de urgência. O Sr. Otto Muller sofreu um enfarte e ocasionou um acidente com seu carro.

CYRO PERCEBEU A PRESENÇA DAS TRÊS PESSOAS. CUMPRIMENTOU-AS CORTESMENTE.

CATARINA  -  (suplicou, emocionada) Salve meu filho, doutor!

LIA  -  Tenho certeza que o senhor fará tudo que puder para salvá-lo, doutor.

CYRO  -  Claro, claro...

E AFASTOU-SE PARA O INTERIOR DO HOSPITAL.

CORTA PARA:

CENA  5  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO MULLER  -  INTERIOR  -  DIA

PINGO A PINGO, GÔTA A GÔTA, O SORO DESCIA PARA A VEIA DO ALEMÃO. OTTO GEMIA BRANDAMENTE, DEITADO NA COLCHA BRANCA. SOBRE A MESINHA AO LADO DA CAMA, OS TRAÇOS COMPLICADOS DO ELETROCARDIOGRAMA. CYRO, JÁ COM O UNIFORME BRANCO, CORREU OS OLHOS PELO PAPEL. ROBERTO AVISOU-O.

DR. ROBERTO  -  O resultado do eletro...

CYRO  -  ... é uma insuficiência coronariana aguda. A pressão?

DR. ROBERTO  -  Já está normal.

MOSTROU A FICHA CLÍNICA AO CHEFE DA CARDIOLOGIA.

CYRO  -  O estado dele ainda inspira cuidados. Temos de aguardar a evolução nas próximas horas.

SENTANDO-SE À MESINHA, CYRO PRESCREVEU NOVOS EXAMES DE URGÊNCIA.

DR. ROBERTO  -  Quais as recomendações?

CYRO  -  Vou pedir os exames de sangue. É preciso conservá-lo em absoluto repouso. Silencio completo. Nada de visitas. Ainda deve sentir dores...

DR. ROBERTO  -  São mais suportáveis depois dos medicamentos...

CYRO  -  A medicação é essa mesma... cardiotônicos... vasodilatadores. Deve mantê-lo sedado o tempo todo.

CYRO  -  (ia sair, mas voltou-se para o colega) A criança e a senhora que estavam com ele... deram notícias?

DR. ROBERTO  -  Os dois estão bem. Escaparam ilesos e eu vou lhe dizer uma coisa: acho que foi um milagre!

FIM DO CAPÍTULO 37

Na próxima quinta, o 38. capítulo!

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