quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 66


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 66

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Zoraida  -  Jurema Penna
Ester  -  Gloria Menezes
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Delegado  -  Vinicius Salvatori
Daniel  -  Paulo Araújo


CENA 1  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

COMENDADOR  -  Chegou na hora, filho. Telefone para você. É o Dr. Cyro!

BABY NEM TIROU O PALETÓ. CORREU AO APARELHO E COM AS PERNAS CRUZADAS SENTOU-SE NA POLTRONA À VONTADE.

BABY  -  Oi, Cyro! Fala! Quais são as novidades? (esperou alguns instantes a resposta do amigo e, à medida que tomava conhecimento dos fatos, sua expressão se modificava) Não é possível! Bacana, rapaz! Como foi? Você... bancou o policial?

CYRO SORRIA DO OUTRO LADO DA LINHA COM A INFANTILIDADE DO JOVEM LIBERATO.

CYRO  -  Não, Baby. Não banquei o policial. E é para não querer bancar o policial que estou lhe telefonando.  Você pode ir buscar o homem que levou Ivan a mando do Dr. Paulus e levá-lo à polícia. Deve desfazer essa trama, imediatamente, porque disso depende a liberdade de Daniel. Está me entendendo? E Daniel, além de seu empregado, é seu cunhado! Não está de acordo, meu caro Baby?

BABY  -  Mas é claro! Me diga onde está o patife, que vou buscá-lo, imediatamente. Hem? Está ferido? E que me importa o ferimento? Me diga onde está, rápido!

CYRO LEMBROU-LHE QUE QUALQUER PRECIPITAÇÃO PODERIA BOTAR TUDO A PERDER. AS COISAS TERIAM DE SER FEITAS COM FRIEZA E RACIOCÍNIO. PESANDO OS PRÓS E OS CONTRAS DAS MANOBRAS.

CYRO  -  (acrescentou) Baby, lembre-se de que ele merece um tratamento humano. Acho que não preciso lhe dizer que não deve cometer excessos. Lembre-se de que ele foi um instrumento...

BABY  -  (cortou, com cinismo) Sei. Um instrumentozinho tão inocentinho que raptou o filho de Ester. Sei que foi para obedecer ordens. Qual, Cyro. A gente não entra num acordo. Me diga onde está o sem-vergonha. Claro. (estava impaciente) Se ele tiver fugido, eu levo a mulher dele, que tomou conta do menino. Ela estava inocente, concordo, mas pode desfazer a tramóia, não pode? Então me diz, onde posso achar esses dois? (abriu a gaveta à procura de um lápis) Vai dizendo. Estou tomando nota.

CYRO REVELOU O LOCAL, ENQUANTO O RAPAZ ANOTAVA, COM PRESTEZA.

BABY  -  Imagine... aqui mesmo, na cidade... sei. Em frente á praia. Legal! Vou correndo pra lá, à cata do inimigo! Sou o agente 007! Baby Bond! Vou levar todas as minhas armas secretas! Legal! Tchau, Cyro! Parabéns! Você dá para Sherlock! Te telefono depois! (colocou o fone no gancho) Minhas armas secretas, onde estão minhas armas secretas? (gritou para a governanta parada no meio da sala) Vou prender um bandido sem-vergonha, que raptou o filho de Ester!

SUBIU A ESCADA DE DOIS EM DOIS DEGRAUS, ABRINDO OS BOTÕES DA CAMISA DE SEDA.

BABY  -  Minha mulher! (gritou do alto) Tenho de levar a mocinha ingênua  para  servir  de  isca  para  o  bandido!  Não posso entrar sozinho nesta caçada! Vá chamar a minha mosquinha morta, Zoraida!

ZORAIDA  -  Sua mosquinha morta... está neste momento... dando remedinho na boquinha do seu pai!

BABY FICOU SÉRIO E SUA FISIONOMIA ADQUIRIU UM AR DE DESPEITO.

BABY  -  Vou acabar com essa pouca vergonha já, já!

ZORAIDA  -  Acho que você faz muito bem!

CORTA PARA:

Baby (Claudio Cavalcanti)

CENA 2  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DO COMENDADOR  -  INTERIOR  -  DIA

BABY PAROU À PORTA DO QUARTO DO COMENDADOR E OBSERVOU O QUE SE PASSAVA NO INTERIOR PELA PORTA ENTREABERTA. INÊS LIA UM LIVRO DE CAPA AZULADA.

INÊS PAROU DE LER E OLHOU PARA O RELÓGIO.

INÊS  -  Espera. Tá na hora do seu remédio.

ENQUANTO A MOÇA ENCHIA A COLHERINHA E DAVA O REMÉDIO NA BOCA DO COMENDADOR, BABY ENTROU NO QUARTO, IRRITADO.

BABY  -  Que fricote é esse?

INÊS  -  Seu pai tá doente, Baby. Não passou bem, de noite. Eu não deixei ele se levantar, hoje.

BABY  -  Ah... e está servindo de babá pra ele?

INÊS  -  Tou cuidando dele, sim. E daí?

COMENDADOR  -  Você vem ao meu quarto, entra sem bater e começa a implicar!

BABY  -  Acontece que minha mulher está aqui, e onde minha mulher está, eu entro como quero!

INÊS  -  A gente tá dando aula de português e eu não posso deixar de dá minha aula.

BABY  -  Entendo. O comendador quer transformá-la!

COMENDADOR  -  Não pretendo transformar ninguém. Quero que ela se eduque, para alcançar um nível mais ou menos igual ao nosso. Se bem que já estou ficando arrependido, porque ela não tem educação, mas tem melhores sentimentos do que qualquer um de nós.

BABY  -  Muito bem. Ela será uma nova Galatéia!

INÊS  -  Num quero sê esse negócio, aí, não! Quero sê Inês, mesmo. E falá direito, ué!

BABY  -  Muito bem, Galatéia, vá se preparar, que a senhora vai sair comigo.

INÊS  -  A gente vai pronde?

BABY  -  Pronde... (balançou a cabeça, enquanto o pai sorria, discretamente) Pronde eu quiser, ué!

COMENDADOR  - Ela tem o direito de saber aonde você vai levá-la.

BABY  -  Vou prender o sujeito que raptou o filho de Ester. Cyro o agarrou, ferido. Agora, eu vou lá para levá-lo à policia.

COMENDADOR  -  (ergueu-se da cama) Quer arriscar sua mulher? Isso é coisa para homem! Ela não pode ir!

BABY  -  Você não manda nela, comendador! Afinal, vou prender o sujeito que  vai desfazer a tramóia e livrar o irmão dela da cadeia. Ela precisa ir comigo.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FLORIANÓPOLIS  -  RODOVIA  NO LITORAL  -  NOITE   

DURANTE MAIS DE MEIO QUILÔMETRO, BABY LIBERATO DIRIGIU O CARRO COM AS LUZES APAGADAS E MÁQUINA SILENCIOSA, PRESSIONANDO AO MÍNIMO O ACELERADOR. POR ENTRE AS ÁRVORES QUE PROJETAVAM SOMBRAS ESCURAS NA NOITE PRAIANA, O RAPAZ AVISTOU A PEQUENA CHOUPANA, FRACAMENTE ILUMINADA. RETIROU A ARMA DO PORTA-LUVAS E, PÉ-ANTE-PÉ, ENCAMINHOU-SE PARA A CASA DE MADEIRA. OLHOU PARA UM E OUTRO LADOS, ATENTO. ESTAVA VESTIDO DE NEGRO, COM LUVAS. PAROU A ALGUNS METROS DA PORTA E, COM UM TROMPAÇO, ATIROU-A PARA DENTRO DA CHOUPANA.

SENTIU-SE MACHÃO AO LEVANTAR O BICO DA SMITH AND WESSON CONTRA O PEITO ENVOLVIDO EM GAZE DO ASSECLA DE OTTO MULLER. SANTOS ERGUEU OS BRAÇOS, INDEFESO.

BABY  -  Você está perdido! Vim buscá-lo. Você está perdido!

A VOZ DA MULHER, AMENA E INFELIZ, TIROU-O DO SÚBITO ARRABATAMENTO AVENTUREIRO.

MULHER  -  Não precisa nada disso, não, moço. Ele mesmo ia se entregá.

BABY  -  (guardou a arma, confiante e sem graça) Ia mesmo? Neste caso... quer uma carona até Porto Azul?

O BANDIDO ENTROU NO CARRO DO MILIONÁRIO E ENCOLHEU-SE NO BANCO.

A MULHER SEGUIU-OS.

MULHER  -  Eu vou também para explicar essa história direito pro delegado. Nem sabia que o menino estava sendo raptado. Pra mim tinha sido o pai dele...

BABY ACIONOU A CHAVE E O MOTOR PEGOU, NA PRIMEIRA.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  NOITE

PAULUS ACABARA DE TELEFONAR E COMUNICADO A ESTER AS MANOBRAS POLICIAIS PARA RESGATE DO MENINO. E A MULHER DECIDIRA RIR UM POUCO À CUSTA DO HOMEM RESPONSÁVEL PELA TRAMA CRIMINOSA.

A SEU LADO, O DELEGADO ACOMPANHAVA O DIÁLOGO E ACEITAVA AS FORMULAÇÕES DO ADVOGADO. DE FATO, HAVIA DESTACADO VÁRIOS HOMENS PARA, NUMA AÇÃO RÁPIDA, ENVOLVEREM A CAPELINHA E TENTAR ENCONTRAR O MENINO.

FOI NESSE INSTANTE QUE BABY LIBERATO ENTROU NA SALA COM O CASAL. PAULUS EMPALIDECEU.

O DELEGADO LEVANTOU-SE PARA CUMPRIMENTAR O PRESIDENTE DA COMPANHIA DE MINERAÇÃO.

BABY  -  Tenho uma surpresa para os senhores. Delegado, eis aí os responsáveis pelo rapto do filho de Ester. (empurrou Santos para a frente do policial) Este é o sujeito!

DELEGADO  -  Este é o cara que perseguimos?

BABY  -  Exato.

PAULUS  -  Prenda ele!

BABY  -  (apontando para o comparsa de Otto) E prenda aquele, também. Ele é o cabeça de tudo, delegado!

MULHER  -  O senhor, hem, Dr. Paulus? Me fazê entrá numa fria destas!

PAULUS  -  (tremia de aflição) Esta mulher está louca! Eu não tenho nada com isso!

MULHER  -  Tem, sim! Foi ele, delegado, quem mandou o Santos levá o menino pra lá. A gente estava pensando que era pra fazer um favor pro seu Otto.

O DELEGADO INTERESSOU-SE, PASSADO O PRIMEIRO INSTANTE DE ESTUPEFAÇÃO. OLHOU COM ÓDIO PARA A CARA DO BANDIDO.

DELEGADO  -  Vamos, vamos ouvir esta história direitinho!

PAULUS  -  Eles estão loucos! Eu nunca vi esses dois na minha vida!

MULHER  -  (avançou, decidida) Tenho vontade de lhe dar umas bolachas! Então não me conhece... nem o motorista do seu patrão, calhorda?

PAULUS  -  (deu um pulo para trás, ante a investida da mulher) Tire as mãos de cima de mim! Tire as mãos!

BABY SORRIU E O DELEGADO PROCUROU INTERVIR.

A MULHER CRAVOU AS UNHAS, ARRANCANDO PEQUENOS PEDAÇOS DA PELE DA CARA DO ADVOGADO. O SANGUE JORROU PELAS TRILHAS VERMELHO-ESBRANQUIÇADAS.

PAULUS  -  (berrou de dor) É uma doida! Uma doida, delegado! Tira essas mãos sujas de cima de mim!

CORTA PARA:

CENA 4  -  PORTO AZUL  -  BAR  -  EXTERIOR  -  NOITE

FINALMENTE TUDO ESTAVA ESCLARECIDO. BABY E DANIEL SAÍRAM DA DELEGACIA. O MINEIRO RESPIROU FUNDO E CONVIDOU O CUNHADO PARA UM TRAGO NO BAR EM FRENTE.

DANIEL  -  Puxa! Cheguei a perdê a esperança de respirar ar puro!

BABY  -  Em que encrenca iam te meter, hem?

DANIEL  -  E o Dr. Paulus?

BABY  -  Está lá dentro, tentando convencer o delegado a abafar o escândalo, dizendo que tudo não passou de um engano. Nesta hora é que se desejava chamar todos os jornalistas de Florianópolis para desmascarar esta quadrilha do primo Otto.


FIM DO CAPÍTULO 66



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