Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 71
Participam deste
capítulo
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Werner Von Muller -
Jorge Cherques
Conceição - Zeni
Pereira
Ester -
Gloria Menezes
Orjana -
Neusa Amaral
Prof. Valdez - Enio
Santos
Das Dores - Ruth
de Souza
Pé-na-Cova -
Antonio Pitanga
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
CENA 1 -
REGIÃO DAS MINAS DE VALONGO
- EXTERIOR - DIA
ERA MADRUGADA E OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL SURGIAM NO
HORIZONTE, QUANDO OTTO DEIXOU O CASEBRE. ENCAMINHOU-SE A PÉ ATÉ A PARTE DAS
MINAS SOB SEU COMANDO. OS TRABALHADORES COMEÇAVAM A CHEGAR PARA A LABUTA
DIÁRIA.
A VOZ METÁLICA COM SOTAQUE GERMÂNICO FEZ COM QUE SE VOLTASSE.
ERA WERNER VON MULLER.
VON
MULLER -
Filho! Que está
fazendo porrr aqui? Tá todo mundo nervoso à tua procura!
OTTO - Estou quase estourando de ódio, papai!
VON MULLER - Que posso
fazerrr porr você?
OTTO - Pode me ajudar muito. Venha comigo. Chame os
meus empregados. Fale da minha revolta.
PAULUS APARECEU, FUMANDO NERVOSAMENTE. TINHA OS OLHOS SEM
VIDA DE QUEM HAVIA PASSADO A NOITE INSONE.
PAULUS - Otto! Até que enfim o encontramos! Estamos
cansados de procurar...
OTTO - Reúnam os meus homens. Paulus, papai. Façam
alguma coisa! Estão me entendendo? Façam alguma coisa para expulsar o Dr. Cyro
daqui!
A PRAÇA SE ACHAVA REPLETA DE MINEIROS E A NEGRA CONCEIÇÃO
CONVERSAVA COM UNS E OUTROS. PEDIA AJUDA. CONTAVA A SEU MODO OS ACONTECIMENTOS.
OTTO E WERNER VON MULLER, À DISTANCIA, OBSERVAVAM O QUE SE PASSAVA.
PAULUS SUBIU NUM CAIXOTE DE MADEIRA E BATEU PALMAS, CHAMANDO
A ATENÇÃO DOS OPERÁRIOS. TODOS SE AGRUPARAM EM TORNO DO ADVOGADO.
PAULUS - Estão me ouvindo? O crime do Dr. Cyro foi
revoltante! Otto não sabia que ele tinha matado o filho de Conceição para lhe
salvar a vida! Do contrário, Otto preferia ter morrido. Otto está revoltado e
quer que vocês vinguem o Vicentão. Homem dos mais corretos que já tivemos nas
nossas minas. Filho exemplar. Cidadão honesto. Vicentão foi uma vítima! Otto
não se sente bem, sabendo que uma vida foi sacrificada para salvá-lo. Ele não
compactua nem jamais compactuou com crimes ou criminosos. É apenas um
cavalheiro da justiça. Mas... Cyro Valdez é um monstro. Não pode mais continuar
entre nós! A morte do pobre Vicentão tem de ser vingada! É por isso que nós,
seus amigos, estamos apelando para a força de todos vocês juntos!
CENA 2 -
PORTO AZUL - CASA DE D. BÁRBARA -
SALA - INTERIOR
- DIA
DAS DORES BATEU AGITADA NA PORTA DE DONA BÁRBARA. PÉ-NA-COVA
A COMPANHAVA. AMBOS TINHAM AS FEIÇÕES ALTERADAS.
OS DOIS ENTRARAM NO CASARÃO. VIRAM CYRO E ESTER, JÁ DE PÉ, E
O PROFESSOR VALDEZ QUE VINHA DE DENTRO, CURIOSO.
DAS DORES - (falou nervosamente) Dr. Cyro... o senhor nem
imagina que é que tá acontecendo lá pela vila dos mineiros.
CYRO - Que foi?
DAS DORES - A gente tá assustada. Viemo depressa, pedindo
até carona pela estrada, para vim lhe avisá.
ORJANA OLHOU PARA OS PAIS, APREENSIVA.
ESTER - O que está acontecendo? Fale logo!
PÉ-NA-COVA - A gente num sabe o que foi que deu na
Conceição. Tá unida com Seu Otto Muller. Tão os dois lá, mais o Dr. Paulus e o
outro estrangeiro, insuflando tudo quanto é mineiro... das mina dele e das mina
da Panorama... onde trabalhava Vicentão.
ESTER - Insuflando... pra quê?
DAS DORES - Contra o Dr. Cyro! Pra expulsá Dr. Cyro
daqui... ou matá ele, a gente num sabe direito.
ORJANA SENTIU AS PERNAS FRAQUEJAREM E A VISTA TORNAR-SE
TURVA. BUSCOU UMA CADEIRA PARA SENTAR-SE. CYRO MASSAGEOU-LHE OS PULSOS.
ORJANA - Vamos embora daqui!
ESTER - Sua mãe tem razão, Cyro. Temos de fugir,
antes que eles façam alguma coisa contra nós.
CYRO - Esperem... ninguém pode fazer nada contra
vocês. Se o fizerem será contra mim, apenas. Isto é comigo, eu gostaria que
vocês se afastassem daqui... fossem para a casa de Ester, em Florianópolis... e
me deixassem sozinho aqui!
ESTER - Você sabe que ninguém vai fazer isso, Cyro!
PROF. VALDEZ - Eu e Bárbara ficamos. Orjana e Ester levam
Ivanzinho para a cidade.
CYRO - Está certo. Ficamos combinados. Preparem-se
para sair agora.
CORTA PARA:
CENA 3 -
PORTO AZUL - CASA DE D. BÁRBARA -
EXTERIOR - DIA
MESTRE JONAS, ANDRÉ, PEDRÃO, MARTINS, ZACARIAS. TODO O ELENCO
DE FIÉIS ADMIRADORES DE CYRO VALDEZ ALI ESTAVA, À PORTA DO CASARÃO DE BÁRBARA,
À ESPERA DOS HOMENS DE OTTO MULLER.
DE REPENTE, OUVIRAM O RUGIDO DA MULTIDÃO E A UM SÓ TEMPO
TODOS OS OLHOS SE DIRIGIRAM PARA A RUA QUE SE ENCONTRAVA COM A PRAÇA DA IGREJA.
O VOZERIO AUMENTAVA. DEZENAS DE MINEIROS APROXIMAVAM-SE DA RESIDENCIA DO
MÉDICO. O GRUPO SE AVIZINHOU MAIS E MAIS. ESTAVA A POUCOS METROS DA CASA.
A FIGURA RESPEITÁVEL, DE LONGOS CABELOS E BARBAS ENCANECIDAS,
ERGUEU-SE DENTRE OS HOMENS DE CYRO VALDEZ. MESTRE JONAS FEZ UM SINAL COM A MÃO
ABERTA.
MESTRE JONAS - Parem! Que qué dizê isso, gente?
CONCEIÇÃO - (pulou à frente) A gente veio procurá o Dr.
Cyro Valdez!
MESTRE JONAS - Pra quê?
MINEIRO 1 - (berrou, exaltado) Umas conta que a gente tem
de ajustá com ele!
MINEIRO 2 - (berrou, mais atrás) Queremos que ele deixe a
terra! Que desapareça! Ele só trás o mal! É um assassino!
A MULTIDÃO, EM UNÍSSONO, COMEÇOU A GRITAR, EM CÔRO.
MULTIDÃO - Fora, Dr. Cyro! Fora, Dr. Cyro! Fora, Dr.
Cyro!
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