Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 77
Participam deste
capítulo
Cyro - Tarcísio Meira
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Inês -
Betty Faria
Baby -
Claudio Cavalcanti
Otto -
Jardel Filho
Catarina -
Lidia Mattos
Luana - Lea
Garcia
Orjana -
Neusa Amaral
CENA 1 - FLORIANÓPOLIS
- PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO -
SALA - INTERIOR
- DIA
BABY SEGUIU O CASAL E VIU QUANDO
INÊS E O COMENDADOR ENTRARAM NUM RESTAURANTE AFASTADO. O ÓDIO TOMOU CONTA DO
RAPAZ E SEU PRIMEIRO IMPULSO FOI SALTAR SOBRE OS DOIS E ESBORDOÁ-LOS ATÉ O FIM
DE SUAS FORÇAS. RACIOCINOU E PREFERIU REGRESSAR A CASA. ZORAIDA E VERA PODERIAM
LHE DAR EXPLICAÇÕES COM RESPEITO À VIDA EM COMUM DO PAI E DE SUA ESPOSA. POR UM
INSTANTE COMPREENDEU A ESTRANHA AFEIÇÃO QUE LEVAVA O VELHO A PERMITIR QUE ELA
VESTISSE AS ROUPAS DE SUA MÃE, USASSE SUAS JÓIAS E PARTICIPASSE DE TODAS AS
SUAS ATIVIDADES SOCIAIS.
E FOI COM UM CIÚME MISTO DE DESESPERO
QUE BABY VOLTOU AO SOLAR, DIRIGINDO SEU CARRO-ESPORTE PELAS RUAS DE
FLORIANÓPOLIS.
AS DUAS EMPREGADAS NADA SABIAM – OU
NADA PODIAM INVENTAR SOBRE OS SUPOSTOS AMORES DE INÊS E LIBERATO – MAS O JOVEM,
INVADINDO O ESCRITÓRIO, FORÇOU A GAVETA À PROCURA DAS CARTAS, DE UMAS
MISTERIOSAS CARTAS, QUE A GOVERNANTA REVELOU TER VISTO INÊS LER DEMORADAMENTE
POR MAIS DE UMA VEZ. E O COMENDADOR TINHA CONHECIMENTO DE TUDO.
AS CARTAS NÃO ESTAVAM MAIS ALI.
CORTA PARA:
CENA 2 - PORTO AZUL
- CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
EXTERIOR - NOITE
BABY DEIXOU QUE A NOITE CAÍSSE. INÊS
NÃO TINHA REGRESSADO EM COMPANHIA DO PAI. SÓ LHE RESTAVA UMA INICIATIVA: IR A
PORTO AZUL. TALVEZ A FAMÍLIA SOUBESSE DE SEU PARADEIRO. BABY BEBERA O DIA
INTEIRO E JÁ CHEGOU AO LUGAREJO COMPLETAMENTE GROGUE.
BABY
- (gritou, ao atingir o pequeno
quintal a beira-mar) Inês!
ELA CORREU ATÉ À PORTA E ESPANTOU-SE
COM A PRESENÇA DO MARIDO.
INÊS
- Leandro!
BABY
- (investiu contra a mulher como
um louco) Sua... sua... imunda!
INÊS
- (recuou) Você está bêbado!
BABY
- Não interessa se estou bêbado!
Interessa é o que você anda fazendo! Interessa é que já sei de tudo!
INÊS
- Tudo... tudo o quê?
BABY
- Sua... sua aventureira!
Exploradora! Interesseira!
RETIROU DO BOLSO AS JÓIAS QUE HAVIA
RETIRADO DA GAVETA DO COMENDADOR.
INÊS
- Que é isso?
BABY
- É o que você queria... por que
não disse? Pra te conquistar, bastava te encher de vestidos e de jóias, não é?
Por que não me avisou que era isso que queria?
INÊS BAIXOU A CABEÇA, ENQUANTO O
MARIDO ATIROU NOTAS DE DINHEIRO E JÓIAS EM CIMA DELA, ANTE O OLHAR ASSUSTADO DE
LUANA. A AMANTE DE DANIEL CORREU EM DEFESA DA AMIGA.
BABY
- Pensa que me engana? Por que
não me disse, hem? Que você não faz questão de idade... não tem respeito entre
pai e filho... que só queria se encher de grana? Eu tinha te dado, viu? Tinha
te enchido também de jóias... mas não, você preferiu o velho, não preferiu? Ele
te forçou a me deixar... pra sujeira não ficar tão grossa, não foi? Estou te
perguntando, não foi?
AGARROU-A PELOS OMBROS, SACUDINDO-A
VIOLENTAMENTE.
LUANA
- Ela ta esperando filho, Seu
Baby!
ELE SOLTOU-A LENTAMENTE.
INÊS
- Que Deus te perdoe pelas tuas
palavras... elas são do teu desespero... e tu tem toda razão. Mas Deus é
testemunha de que elas não são verdadeiras...
REPENTINAMENTE, FORA DE SI, BABY
DESFERIU UM TAPA NO ROSTO DA ESPOSA.
BABY
- Sua vigarista! Vigarista!
INÊS RODOPIOU E CAIU CONTRA A AREIA
ACINZENTADA.
LUANA
- (gritou, histérica) Pai! Pai!
JONAS COMPREENDEU O QUE SE PASSAVA E
COMO UMA FERA ATIROU-SE CONTRA O GENRO, ROLANDO SOBRE A AREIA E O CAPIM RALO DO
QUINTAL. EM ALGUNS SEGUNDOS A DESTREZA E A FORÇA DO VELHO PESCADOR FORAM
SUFICIENTES PARA IMOBILIZAR E SUBJUGAR O JOVEM EMBRIAGADO. A MÃO DE JONAS
COMEÇOU A ESTRANGULAR O RAPAZ. BABY ESTREBUCHAVA E TEVE UM INSTANTE DE
LIBERDADE.
BABY
- (falou, meio engasgado) Ela...
está... esperando um... filho... e não... é... meu!
MESTRE JONAS -
(lentamente, afrouxou as tenazes, e voltou o rosto para Luana e
Inês) O que é que ele ta dizendo?
INÊS
- Eu tou esperando um filho...
mas ele é o pai!
OS HOMENS HAVIAM-SE LEVANTADO.
BABY
- Pergunte a ela por que me
deixou. Pergunte por que aceita jóias e presentes caros do meu pai. Pergunte
por que não me disse até agora que ia ser mãe. Pergunte o que estava fazendo
hoje com o velho num restaurante afastado. Pergunte por que ele lhe tem mandado
bilhetes, marcando encontros. (gritava, alucinado) Pergunte! Pergunte! Ela não
tem resposta! Não tem!
TROCANDO AS PERNAS, ÉBRIO, BABY
LIBERATO DEIXOU A CHOUPANA E SE PERDEU NAS AREIAS DA PRAIA DE PORTO AZUL.
JONAS, DEPOIS DE UMA LONGA PAUSA,
ENCAROU A FILHA. UM VINCO DE INQUIETAÇÃO MARCAVA-LHE A TESTA LARGA.
MESTRE JONAS - (falou, sombrio) Tu tem defesa?
LUANA
- (interveio, mais calma) Conta
pro teu pai, Inês! Conta tudo!
INÊS
- Não, Luana. Deixa.
LUANA
- Eu digo tudo!
INÊS
- Tu jurou, Luana!
MESTRE JONAS - Que
é que tá acontecendo? Se tem defesa, diga! Se não tem, o caso muda de figura!
INÊS
- (fitou-o com firmeza) Pai, em
minha defesa basta minha palavra. Eu tou inocente. Não tenho nada com ninguém.
JONAS PERMANECIA ESTÁTICO.
MESTRE JONAS -
Quando tu puder se defendê... tu volta pra tua casa. Antes disso, não...
CENA 3 - PORTO AZUL
- PRAIA BONITA -
EXTERIOR - DIA
A MANHÃ NASCERA RADIANTE COM O SOL
DOURANDO O MAR POR ONDE DEZENAS DE EMBARCAÇÕES DESLIZAVAM IMPELIDAS PELO VENTO.
MESTRE JONAS AJUDAVA A PUXAR A REDE
DE CHICO PESCADOR QUE PASSARA A NOITE EM ALTO MAR E VOLTARA CANSADO, MAS COM O
BARCO ENTUPIDO DE PEIXES.
POR UM MOMENTO SEUS OLHOS NÃO
IDENTIFICARAM O PEQUENO BOTE DE VELA BRANCA, MAS AOS POUCOS O VELHO PESCADOR
FOI-SE APERCEBENDO. ERA ELE.
MESTRE JONAS -
(gritou para o grupo de homens) Gente! Dr. Cyro voltô! Dr. Cyro voltô!
CORTA PARA:
CENA 4 - FLORIANÓPOLIS
- QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
OTTO MULLER EXPERIMENTAVA A PRIMEIRA
GRANDE MELHORA DESDE A OPERAÇÃO A QUE FÔRA SUBMETIDO.
OTTO
- (ordenou à mãe) ... E amanhã,
avise os mineiros que Otto Muller vai voltar a trabalhar como antes!
CATARINA - Você
ainda não pode, meu filho! Não está em condições! Está se recuperando de uma
crise!
OTTO
- (bateu no peito, imitando
Tarzan) Eu me sinto muito bem... e quero provar a todos que me libertei de Cyro
Valdez e posso, sozinho, abrir luta contra ele.
CATARINA -
Otto, você me assusta. O que está pensando fazer?
OTTO
- Já disse, mamãe! Vou lutar
contra Cyro Valdez! Cheguei à conclusão... de que um de nós dois... é demais
nesta terra!
CORTA PARA:
CENA 5 - PORTO AZUL
- PRAIA BONITA -
EXTERIOR - DIA
CYRO SALTOU, ENFIANDO OS PÉS NAS
ÁGUAS FRIAS.
JONAS ABRAÇOU-O E CONDUZIU-O ATÉ SUA
HUMILDE CASA, ONDE O MÉDICO SE SENTOU, UM TANTO CANSADO PELA LONGA ESTICADA.
DEIXARA A ILHA DOS CARDOS ANTES DO SOL NASCER E REMARA DURANTE VÁRIAS HORAS.
MESTRE JONAS -
(rodeou-o, interessado) O cabelo... por que cortou?
CYRO
- Pra me desvencilhar de tudo que
me lembre a fase de minha vida, quando eu não tinha a minha definição.
MESTRE JONAS -
Então... já tem!
CYRO
- Já, Mestre Jonas! Já tenho! Já
desvendei o mistério. Pedi a minha verdade e a encontrei. Eu vi a Luz e ela me
deu a consciência do que estou fazendo aqui.
JONAS EMOCIONARA-SE ATÉ AS LÁGRIMAS
QUE ROLAVAM DO SEU ROSTO MÁSCULO.
CORTA PARA:
CENA 6 - PORTO AZUL
- CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
SALA - INTERIOR
- DIA
MESTRE JONAS - De
onde você veio? Quem é você, afinal!
CYRO ENQUADROU O OCEANO PELA
JANELINHA DE CORTINA POBRE. VIU OS PESCADORES A TRABALHAR DURAMENTE.
CYRO
- Para você eu sou a encarnação
de um Grande Mestre. Para outros, vim de um planeta que deseja a paz. Para
alguns sou um homem que estudou os poderes da mente. Não vou desfazer a ilusão
de ninguém. Um mestre reencarnado, um ser do espaço, um homem dotado de poderes
e boas intenções, um monge budista... não me importa. O objetivo é um só. Usar
essa força a favor do bem. Ajudar os homens, mostrando um caminho de justiça,
de bondade e humildade... salvando, na medida do possível, os que precisam de
mim...
MESTRE JONAS - E a
sua missão?
CYRO
- Quando eu for embora, ela será
compreendida. A Luz não me mandou lamentar... nem ficar parado... nem cruzar os
braços. Ao contrário, Jonas (bateu nas costas do companheiro) agora é que vamos
trabalhar!
O RAPAZ FOI SURPREENDIDO PELA VOZ
ALEGRE DE MULHER QUE ACABARA DE CHEGAR.
ORJANA -
Cyro! Cyro!
ORJANA BEIJOU-O, AMOROSAMENTE.
CYRO
- Minha mãe!
ORJANA - Meu
filho adorado! Você está bem? Foi ferido... está bem?
CYRO
- Estou, mãe... não se preocupe...
estou muito bem. Não se impressione com a minha roupa, a minha aparência... sou
um médico, mas vou continuar aqui, entre os pescadores. E não preciso me vestir
bem. Eu não vou voltar!
ORJANA - Mas
por que, Cyro? Agora que foi comprovado que você agiu corretamente no caso do
transplante, deve voltar a ocupar o seu lugar...
CYRO
- Não, minha mãe, é aqui que eu
vou viver de hoje em diante! É aqui que eu vou trabalhar, porque aqui...
encontrei a minha paz!
HAVIA UM AR DE FELICIDADE NA
EXPRESSÃO DO MÉDICO, AO DEMORAR-SE NA VISÃO DA CASA POBRE E DA PRAIA QUASE
PERDIDA NA DISTANCIA.
ORJANA - (os
lábios tremiam) E eu, meu filho? E eu?
CYRO
- Fique com meus avós. Sempre que
puder, eu vou ver vocês... e estamos pertinho um do outro.
ORJANA - Me
deixe... então... ficar com você!
CYRO
- Não, mãe... não vou arrastar
ninguém... ao meu destino!
Nenhum comentário:
Postar um comentário