Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 65
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Ester -
Gloria Menezes
Paulus -
Emiliano Queiroz
Júlia - Ida
Gomes
Orjana -
Neusa Amaral
Ivan -
Rogério Pitanga
CENA 1 -
PORTO AZUL - CASA DE D. BÁRBARA -
EXTERIOR - DIA
CYRO TINHA AS FEIÇÕES TRANSTORNADAS E OS CABELOS
DESPENTEADOS, A CAÍREM POR SOBRE O ROSTO. FECHOU A PORTA DO SEDAN E SUBIU O
PEQUENO DEGRAU DE ACESSO AO PORTÃO DE SUA RESIDENCIA.
ESTER - (saindo ao seu encontro) Cyro! Estava aflita
para que você chegasse!
ORJANA - (apreensiva) Ester recebeu uma carta! Uma
carta do sujeito que levou Ivan!
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - CASA DE D. BÁRBARA -
SALA - INTERIOR
- DIA
O MÉDICO ATIROU-SE SOBRE O SOFÁ, ESTICANDO AS PERNAS, PARA
DESENTORPECER OS MÚSCULOS CANSADOS.
CYRO - Eu sei, mãe. Ele pede 300 mil reais e manda
que você leve o dinheiro a uma capelinha na estrada. Se não encontrar a capela,
deve perguntar a Daniel. Não é isso?
AS DUAS MULHERES ABRIRAM A BOCA DE ESPANTO.
ESTER - Como sabe?
CYRO - Mandaram o mesmo bilhete a Otto. O safado,
ele mesmo, mandou forjar o bilhete. Não entende, Ester? Para comprometer
Daniel! Não sei por que... ou melhor, creio que entendo... eles querem implicar
o mineiro nesta história.
ESTER - Você acha mesmo?
CYRO - Evidente demais, Ester!
ESTER - Você disse, ontem, que Otto, hipnotizado, lhe
prometera libertar Ivan!
CYRO - Ontem ele disse. Mudou de idéia. Hoje não se
deixou hipnotizar e não repetiu a mesma coisa diante do delegado. Fêz-me passar
por mentiroso e farsante. Quando ele é que é mentiroso e farsante. Mas... o que
é que posso fazer? Me digam... Como penetrar na mente deste homem e fazê-lo
compreender o erro? É muito difícil. Muito difícil mesmo.
ESTER - Só há uma saída, Cyro... mas esta você não
aceitaria... ameace deixar de acompanhar o seu caso. Você é o único médico
nesta parte do mundo que pode garantir a vida de Otto Muller... pelo menos...
por algum tempo... Otto deve saber disso. Peça a ele: ou a verdade, ou a sua
desistência!
CYRO - Como você mesma já disse, não posso aceitar
isso, Ester. Não posso admitir a hipótese de enredar minha profissão de médico
nos problemas advindos de minha luta com meu próprio cliente. O homem é um. O
médico, outro.
CORTA PARA:
CENA 3 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER
- SALA -
INTERIOR - NOITE
OS FATOS SE DESENROLARAM COMO A ESTRATÉGIA DE OTTO MULLER
PRESSUPUNHA. O DINHEIRO FÔRA ENTREGUE, DISFARÇADAMENTE, A UM SUPOSTO
RECEPTADOR.
O TELEFONE TOCOU E ESTER JOGOU-SE CONTRA ELE.
ESTER - A-alô! Alô!
PAULUS - (do outro lado da linha, a voz macia)
Ester... eu só queria dizer que te amo. Confie em mim, porque eu te amo. Eu,
sozinho, vou encontrar teu filho. Mas vou fazer uma exigência: que você me ame
um pouquinho, também, Ester. Fique calma. Amanhã seu filho estará nos seus
braços. Eu lhe prometo.
PAULUS DESLIGOU.
TUDO LHE PARECIA UM PESADELO TERRÍVEL E ESTER PROCUROU
ACALMAR-SE. PREPAROU UM DRINQUE COM BASTANTE GELO. PENSAVA NO MENINO. NO SEU
FILHO, DISTANTE. ONDE? EM QUE LUGAR DA REGIÃO ESTARIA ESCONDIDO?
CORTA PARA:
CENA 4 - FLORIANÓPOLIS - CASA
DE ESTER - SALA - INTERIOR
- DIA
A VOZ INFANTIL E SUAVE PARECEU-LHE IRREAL. IMPRESSÃO, TALVEZ.
MAS O CHAMAMENTO TORNOU A SE FAZER OUVIR.
IVAN - Mamãe! Júlia!
Mamãe!
AS DUAS MULHERES SE ENTREOLHARAM, DESCRENTES.
ESTER - Está ouvindo? Estou ficando louca? Estou,
Júlia? Ou é Ivan que nos está chamando?
JÚLIA NÃO SABIA SE CHORAVA OU RIA DE CONTENTAMENTO.
JÚLIA - (mal pôde responder) Não, Dona Ester! Eu
estou ouvindo também! É ele!
CENA 5 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER
- JARDIM -
EXTERIOR - DIA
SAÍRAM CORRENDO NA DIREÇÃO DO JARDIM DA RESIDENCIA. ANTES DE
ALCANÇAREM O GRAMADO QUE LIGAVA A CASA COM A ENTRADA DOS CARROS, AVISTARAM A
FIGURA PEQUENINA DO GAROTO. ESTER SENTIU O MUNDO ESCURECER, MAS CONTINUOU
CORRENDO. IVANZINHO CONTINUAVA CHAMANDO A MÃE.
ESTER ABRAÇOU-O, ERGUENDO-O NOS BRAÇOS, COMO LOUCA. AS LÁGRIMAS
ESCORRIAM-LHE PELO ROSTO. JÚLIA ESTAVA PARALISADA, SEM FORÇAS PARA DAR UM
PASSO.
A MULHER RODOPIOU COM O FILHO AO COLO, INTEIRAMENTE FORA DE
SI.
ESTER - Eu estou sonhando? Diga, Júlia! Ivan! Ivan!
Meu filhinho!
CYRO SE APROXIMOU, SORRINDO. PERMANECEU, DE LONGE, APRECIANDO
A EUFORIA DA MULHER POR QUEM DARIA A PRÓPRIA VIDA, SE NECESSÁRIO.
CORTA PARA:
CENA 6 -
FLORIANÓPOLIS - CASA DE ESTER
- SALA -
INTERIOR - DIA
JÚLIA - (abraçando o menino) Seu moleque! Não sentiu
saudades?
IVAN - Senti!
CYRO PEDIU QUE LEVASSEM O MENINO PARA A CAMA E SE SENTOU AO
LADO DAS MULHERES. TINHA UM AR CIRCUNSPECTO, PROFESSORAL.
CYRO - Não devem mencionar rapto, nem desespero, nem
sofrimentos, pelos dias em que esteve fora, na frente dele. Ele não está participando
de nada. Levaram-no para uma boa casa, dizendo que você iria logo ao seu
encontro. Ele passou bem, comeu bem, brincou à beça...
ESTER - Onde?
CYRO - Uma casa de praia. A mulher que tomou conta
dele estava pensando que fazia um favor a Otto.
ESTER - Quem era, Cyro?
CYRO - Uma boa mulher. Tratou Ivan muito bem. Só se
espantou quando viu um tal Santos chegar ferido, hoje.
ESTER - Ele está muito ferido?
CYRO - Não. Não muito. Fiz um curativo logo que
cheguei lá. Estava perdendo sangue e não queria se medicar com medo da polícia.
ESTER - Você o deixou lá?
CYRO - A esta altura deve ter fugido, embora eu o
tenha aconselhado a se entregar e contar a verdade à polícia. Foi ele,
inclusive, quem tentou me matar. De qualquer maneira, agora podemos desfazer a
farsa de Paulus. Foi ele quem preparou todo este plano, para levar você ao
desespero.
ESTER - Com ordem de Otto, com certeza!
CYRO - Naturalmente!
ESTER - E como foi que você conseguiu desvendar a
trama?
CYRO - Não foi preciso recorrer a poderes
sobrenaturais. Eu apenas... coloquei a questão às claras. Fiz o que você me
sugeriu e eu não queria fazer... (Ester espantou-se ante a revelação da
verdade) Simplesmente me recusei a continuar tratando de Otto. O resto... foi
fácil. Dona Catarina e Lia resolveram acabar com a farsa.
ESTER - (agastada) Lia também estava de acordo?
CYRO - Não. Ela não tinha certeza de nada. É bom que
se diga. Lia não é má criatura. Apenas deseja se casar com Otto, talvez por um
problema de afirmação. No momento em que isso acontecer... ela se realizará.
Estou certo de que será uma pessoa que teremos a nosso favor, cem por cento.
ESTER - (levantou-se do sofá) Vou ver...
CYRO - (puxou-a pelo braço, deitando-a a seu lado)
Será possível... que depois de tudo isso... não ganho nem um beijo de
agradecimento?
ESTER RIU FELIZ, ABRAÇANDO-O E BEIJANDO-O AMOROSAMENTE.
ESTER - (caçoou) E você, tem algum problema, seu
bobão?
CYRO - Sim. Eu também... estou com certo problema de
afirmação. Parece que vou ficar solteirão se determinada moça não se decidir a
casar comigo...
ESTER - (brincalhona, pondo um dedo sobre o lábio
superior do rapaz) Pois esta moça está morrendo de medo de ficar só. E está
louquinha para ser pedida em casamento.
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