quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 65


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 65

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Júlia  -  Ida Gomes
Orjana  -  Neusa Amaral
Ivan  -  Rogério Pitanga


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO TINHA AS FEIÇÕES TRANSTORNADAS E OS CABELOS DESPENTEADOS, A CAÍREM POR SOBRE O ROSTO. FECHOU A PORTA DO SEDAN E SUBIU O PEQUENO DEGRAU DE ACESSO AO PORTÃO DE SUA RESIDENCIA.

ESTER  -  (saindo ao seu encontro) Cyro! Estava aflita para que você chegasse!

ORJANA  -  (apreensiva) Ester recebeu uma carta! Uma carta do sujeito que levou Ivan!

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

O MÉDICO ATIROU-SE SOBRE O SOFÁ, ESTICANDO AS PERNAS, PARA DESENTORPECER OS MÚSCULOS CANSADOS.

CYRO  -  Eu sei, mãe. Ele pede 300 mil reais e manda que você leve o dinheiro a uma capelinha na estrada. Se não encontrar a capela, deve perguntar a Daniel. Não é isso?

AS DUAS MULHERES ABRIRAM A BOCA DE ESPANTO.

ESTER  -  Como sabe?

CYRO  -  Mandaram o mesmo bilhete a Otto. O safado, ele mesmo, mandou forjar o bilhete. Não entende, Ester? Para comprometer Daniel! Não sei por que... ou melhor, creio que entendo... eles querem implicar o mineiro nesta história.

ESTER  -  Você acha mesmo?

CYRO  -  Evidente demais, Ester!

ESTER  -  Você disse, ontem, que Otto, hipnotizado, lhe prometera libertar Ivan!

CYRO  -  Ontem ele disse. Mudou de idéia. Hoje não se deixou hipnotizar e não repetiu a mesma coisa diante do delegado. Fêz-me passar por mentiroso e farsante. Quando ele é que é mentiroso e farsante. Mas... o que é que posso fazer? Me digam... Como penetrar na mente deste homem e fazê-lo compreender o erro? É muito difícil. Muito difícil mesmo.

ESTER  -  Só há uma saída, Cyro... mas esta você não aceitaria... ameace deixar de acompanhar o seu caso. Você é o único médico nesta parte do mundo que pode garantir a vida de Otto Muller... pelo menos... por algum tempo... Otto deve saber disso. Peça a ele: ou a verdade, ou a sua desistência!

CYRO  -  Como você mesma já disse, não posso aceitar isso, Ester. Não posso admitir a hipótese de enredar minha profissão de médico nos problemas advindos de minha luta com meu próprio cliente. O homem é um. O médico, outro.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

OS FATOS SE DESENROLARAM COMO A ESTRATÉGIA DE OTTO MULLER PRESSUPUNHA. O DINHEIRO FÔRA ENTREGUE, DISFARÇADAMENTE, A UM SUPOSTO RECEPTADOR.

O TELEFONE TOCOU E ESTER JOGOU-SE CONTRA ELE.

ESTER  -  A-alô! Alô!

PAULUS  -  (do outro lado da linha, a voz macia) Ester... eu só queria dizer que te amo. Confie em mim, porque eu te amo. Eu, sozinho, vou encontrar teu filho. Mas vou fazer uma exigência: que você me ame um pouquinho, também, Ester. Fique calma. Amanhã seu filho estará nos seus braços. Eu lhe prometo.

PAULUS DESLIGOU.

TUDO LHE PARECIA UM PESADELO TERRÍVEL E ESTER PROCUROU ACALMAR-SE. PREPAROU UM DRINQUE COM BASTANTE GELO. PENSAVA NO MENINO. NO SEU FILHO, DISTANTE. ONDE? EM QUE LUGAR DA REGIÃO ESTARIA ESCONDIDO?

CORTA PARA:

CENA 4  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

A VOZ INFANTIL E SUAVE PARECEU-LHE IRREAL. IMPRESSÃO, TALVEZ. MAS O CHAMAMENTO TORNOU A SE FAZER OUVIR.

IVAN -  Mamãe! Júlia! Mamãe!

AS DUAS MULHERES SE ENTREOLHARAM, DESCRENTES.

ESTER  -  Está ouvindo? Estou ficando louca? Estou, Júlia? Ou é Ivan que nos está chamando?

JÚLIA NÃO SABIA SE CHORAVA OU RIA DE CONTENTAMENTO.

JÚLIA  -  (mal pôde responder) Não, Dona Ester! Eu estou ouvindo também! É ele!

CORTA PARA:
Júlia (Ida Gomes)

CENA 5  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  JARDIM  -  EXTERIOR  -  DIA

SAÍRAM CORRENDO NA DIREÇÃO DO JARDIM DA RESIDENCIA. ANTES DE ALCANÇAREM O GRAMADO QUE LIGAVA A CASA COM A ENTRADA DOS CARROS, AVISTARAM A FIGURA PEQUENINA DO GAROTO. ESTER SENTIU O MUNDO ESCURECER, MAS CONTINUOU CORRENDO. IVANZINHO CONTINUAVA CHAMANDO A MÃE.

ESTER ABRAÇOU-O, ERGUENDO-O NOS BRAÇOS, COMO LOUCA. AS LÁGRIMAS ESCORRIAM-LHE PELO ROSTO. JÚLIA ESTAVA PARALISADA, SEM FORÇAS PARA DAR UM PASSO.

A MULHER RODOPIOU COM O FILHO AO COLO, INTEIRAMENTE FORA DE SI.

ESTER  -  Eu estou sonhando? Diga, Júlia! Ivan! Ivan! Meu filhinho!

CYRO SE APROXIMOU, SORRINDO. PERMANECEU, DE LONGE, APRECIANDO A EUFORIA DA MULHER POR QUEM DARIA A PRÓPRIA VIDA, SE NECESSÁRIO.

CORTA PARA:

CENA 6  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

JÚLIA  -  (abraçando o menino) Seu moleque! Não sentiu saudades?

IVAN  -  Senti!

CYRO PEDIU QUE LEVASSEM O MENINO PARA A CAMA E SE SENTOU AO LADO DAS MULHERES. TINHA UM AR CIRCUNSPECTO, PROFESSORAL.

CYRO  -  Não devem mencionar rapto, nem desespero, nem sofrimentos, pelos dias em que esteve fora, na frente dele. Ele não está participando de nada. Levaram-no para uma boa casa, dizendo que você iria logo ao seu encontro. Ele passou bem, comeu bem, brincou à beça...

ESTER  -  Onde?

CYRO  -  Uma casa de praia. A mulher que tomou conta dele estava pensando que fazia um favor a Otto.

ESTER  -  Quem era, Cyro?

CYRO  -  Uma boa mulher. Tratou Ivan muito bem. Só se espantou quando viu um tal Santos chegar ferido, hoje.

ESTER  -  Ele está muito ferido?

CYRO  -  Não. Não muito. Fiz um curativo logo que cheguei lá. Estava perdendo sangue e não queria se medicar com medo da polícia.

ESTER  -  Você o deixou lá?

CYRO  -  A esta altura deve ter fugido, embora eu o tenha aconselhado a se entregar e contar a verdade à polícia. Foi ele, inclusive, quem tentou me matar. De qualquer maneira, agora podemos desfazer a farsa de Paulus. Foi ele quem preparou todo este plano, para levar você ao desespero.

ESTER  -  Com ordem de Otto, com certeza!

CYRO  -  Naturalmente!

ESTER  -  E como foi que você conseguiu desvendar a trama?

CYRO  -  Não foi preciso recorrer a poderes sobrenaturais. Eu apenas... coloquei a questão às claras. Fiz o que você me sugeriu e eu não queria fazer... (Ester espantou-se ante a revelação da verdade) Simplesmente me recusei a continuar tratando de Otto. O resto... foi fácil. Dona Catarina e Lia resolveram acabar com a farsa.

ESTER  -  (agastada) Lia também estava de acordo?

CYRO  -  Não. Ela não tinha certeza de nada. É bom que se diga. Lia não é má criatura. Apenas deseja se casar com Otto, talvez por um problema de afirmação. No momento em que isso acontecer... ela se realizará. Estou certo de que será uma pessoa que teremos a nosso favor, cem por cento.

ESTER  -  (levantou-se do sofá) Vou ver...

CYRO  -  (puxou-a pelo braço, deitando-a a seu lado) Será possível... que depois de tudo isso... não ganho nem um beijo de agradecimento?

ESTER RIU FELIZ, ABRAÇANDO-O E BEIJANDO-O AMOROSAMENTE.

ESTER  -  (caçoou) E você, tem algum problema, seu bobão?

CYRO  -  Sim. Eu também... estou com certo problema de afirmação. Parece que vou ficar solteirão se determinada moça não se decidir a casar comigo...

ESTER  -  (brincalhona, pondo um dedo sobre o lábio superior do rapaz) Pois esta moça está morrendo de medo de ficar só. E está louquinha para ser pedida em casamento.

FIM DO CAPÍTULO 65



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